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A pandemia vai mesmo aumentar o respeito por certas profissões ?

Pesquisa francesa revela que essa valorização pode ser temporária. Entenda o fenômeno e o que pode ser feito para empoderar os profissionais

Por Sophie Hennekam e Yuliya Shymko*
Atualizado em 21 jan 2021, 09h55 - Publicado em 21 jan 2021, 09h45

A pandemia tem mudado fundamentalmente a maneira como valorizamos certas profissões? A apreciação pública recém-descoberta e ostensivamente demonstrada para a enfermagem pode ser considerada um divisor de águas na sua valorização?

Um estudo recente encomendado a profissionais de saúde não-médicos na França revela que podemos estar diante de um fenômeno temporário. Além disso, constatamos a relutância dos trabalhadores em serem celebrados como heróis.

Apesar da marginalização social bem documentada de profissionais de saúde não-médicos, a pandemia colocou esses trabalhadores no centro das atenções, elevando-os de repente à categoria de heróis públicos. Diante dessa mudança radical na percepção do valor do trabalho assistencial, estudamos como estes profissionais vivenciaram e reagiram a essa nova visibilidade.

 Antes e depois

 Os resultados mostram que, antes da pandemia, a maioria dos trabalhadores de saúde sentia que seu trabalho era subestimado, marginalizado, estigmatizado ou invisível e eles relataram vivenciar falta de respeito e de reconhecimento. No entanto, a atenção da mídia ao esforço e dedicação desses trabalhadores da saúde durante a crise sanitária levou a uma mudança repentina de visão da sociedade, provocando um aumento de sua visibilidade.

Embora os profissionais de saúde tenham apreciado o aumento de consideração e relatado que se sentem reconhecidos pelos outros, eles viram ao mesmo tempo esta mudança de atitude como temporária e duvidam que ela possa promover uma real, significativa e duradoura revalorização do seu trabalho. Em vez disso, a expectativa deles é que volte à situação anterior de invisibilidade, com a retirada gradual da atenção da mídia e a redução da dependência pública ao trabalho de enfermagem.

Consequentemente, muitos profissionais de saúde com quem conversamos tratam seu repentino status de herói com ceticismo, incredulidade e como desprovido de verdadeiro poder transformador. Isso é ilustrado pela citação de uma enfermeira que disse:

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 “A nossa valorização durará enquanto durar a crise. Depois, não acho que haverá qualquer reconhecimento ou uma revalorização de nossos salários.”

Heróis?

De maneira geral, constatamos que os trabalhadores da saúde não-médicos reagem à heroicização de suas atividades profissionais de formas diversas. Embora alguns tenham abraçado seu status de herói e apreciado o aprimoramento do seu status social, a grande maioria acabou rejeitando a noção de ser um herói. Identificamos três razões subjacentes a essa reação.

Alguns explicaram que não se “sentiam heróis” porque simplesmente continuavam fazendo seu trabalho e que a essência de seu trabalho não mudou fundamentalmente por causa da pandemia. Essa constatação também fez com que alguns trabalhadores relatassem que a heroicização pública parecia exagerada e falsa.

Por fim, alguns profissionais rejeitaram o status de herói para se proteger psicologicamente de expectativas irreais que poderiam prejudicá-los emocionalmente depois do entusiasmo da mídia acabar e a atenção do público se mudar para outro lugar. Como um atendente de hospital explicou:

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 “Estou apenas fazendo meu trabalho. Estou pedindo mais reconhecimento, mais consideração ou respeito, é verdade, mas isso não me torna um herói. Isso vai longe demais.”

Empoderamento

Nossas conclusões chamam a atenção para a necessidade de implementar uma política real de empoderamento que restaure a dignidade profissional dos trabalhadores de enfermagem e lhes proporcione poder de negociação, uma voz ativa e condições de trabalho decentes. Para tanto, recomendamos que as organizações do setor público de saúde (e além) se engajem no projeto que chamamos de “políticas invisíveis de dignificação do trabalho”, com o objetivo de elevar o status social das categorias profissionais denegridas dentro e fora de seus ambientes .

Tais medidas podem abrir caminho para o incentivo a uma identidade profissional coletiva da qual os indivíduos possam se orgulhar. Por exemplo, criar condições permitindo aos trabalhadores invisíveis de sair da obscuridade organizacional, reconhecendo ativamente seu papel na organização, concedendo-lhes oportunidades de mobilidade ascendente, aumentando seu potencial de renda, incentivando o envolvimento dos funcionários e reduzindo qualquer distância de poder dentro e entre funções organizacionais.

De modo geral, entendemos esta pesquisa como um convite à reflexão sobre como se constrói o valor social do trabalho de enfermagem e como essa construção leva ao estabelecimento de práticas que diminuem a dignidade de quem o realiza. Esperamos que este estudo suscite algumas reflexões críticas sobre o que pode ser feito para afirmar e aumentar o prestígio social do trabalho de enfermagem que vai além dos gestos de apreciação simbólica. Nesse sentido, a questão de como cuidar plenamente de quem cuida de nós continua mais pertinente e urgente que nunca.

*Professoras de Recursos Humanos na Audencia Business School

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