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Saiba o que é preciso para trabalhar em outro país

Um levantamento exclusivo aponta que nove em cada dez brasileiros qualificados deixariam o país para trabalhar fora. Saiba quais países são mais receptivos

Por Luciana Lima
Atualizado em 5 dez 2020, 20h58 - Publicado em 29 dez 2017, 09h00

Se fôssemos escolher uma palavra para definir o sentimento de muitos brasileiros em relação ao Brasil nos últimos dois anos seria “desencanto”. Depois de vivenciar a explosão do crescimento, a população ainda sofre os reflexos de uma das mais agudas crises políticas e econômicas da história.

Em uma ponta, 13,8 milhões de desempregados, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na outra, sucessivos escândalos de corrupção envolvendo políticos e empresários.

É nesse cenário de instabilidade e descrédito nas instituições que inúmeras pessoas vêm considerando arrumar as malas e sair do país com passagem só de ida. De acordo com a Receita Federal, entre 2014 e 2016, 55 402 brasileiros optaram por esse caminho — um aumento de 81,61% em comparação com os três anos anteriores.

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Para quem ficou, o desejo de emigrar é grande. Segundo levantamento da consultoria Talenses, feito com exclusividade a pedido de VOCÊ S/A, 93% dos trabalhadores consultados têm vontade de deixar o Brasil (foram ouvidos 1 119 profissionais, a maioria deles com formação superior e nível sênior no mercado de trabalho). “Esse dado revela uma insatisfação quase generalizada por causa da crise econômica e também política. Há milhões de ­desempregados, em diferentes níveis hierárquicos, além de profissionais que foram recolocados em posições inferiores. Esses fatores contribuem fortemente para a busca de possibilidades em outros países, mesmo que para isso seja necessário encarar uma nova cultura”, diz Rodrigo Vianna, diretor da Talenses, de São Paulo.

Segundo especialistas, chama a atenção a mudança de perfil de quem está deixando o país. Sai de cena o aventureiro, que embarcava com uma mão na frente e outra atrás, e entra o trabalhador qualificado, com condições, inclusive, de empreender fora daqui. “Muitos dos que estão emigrando têm formação diferenciada e boa condição econômica, mas estão desiludidos com a situação do país”, afirma Marcelo Cansini, fundador da empresa de intercâmbio World Study, de Curitiba.

Mesmo com estrutura financeira, o planejamento é o único caminho para garantir a realização do sonho de trabalhar fora. Nesse sentido, vale a pena buscar destinos menos badalados, mas com facilidades para a concessão de vistos e boa abertura para o trabalhador que vem de fora. “Quando você abre mão de ir para mercados mais concorridos, como a Europa ou os Estados Unidos, sua chance aumenta bastante. Muita gente desperdiça boas oportunidades por ignorância”, diz Rodrigo, da Talenses. Nesta reportagem, VOCÊ S/A mapeou cinco países com políticas imigratórias amigáveis a estrangeiros. Eles representam uma alternativa para os profissionais brasileiros que desejam trabalhar no exterior sem depender de vistos provisórios ou da expatriação por uma grande empresa.

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Falta de mão de obra  

A demanda por certos profissionais é tão grande que, em algumas áreas, não é preciso formação superior. basta o nível técnico

Com a população local envelhecendo e pouco crescimento vegetativo, além de baixos índices de desemprego, o país vizinho dos Estados Unidos pode ser uma opção interessante para brasileiros. “O mercado está aquecido e muitas empresas deixam de aceitar projetos por falta de mão de obra. A imigração preenche essa lacuna”, diz Paulo Henrique Ayusso, assessor em prospecção e atração de profissionais em Quebec — província que oferece um programa diferenciado para quem deseja emigrar sem a necessidade de uma proposta formal de trabalho. “Existe uma tabela com 11 critérios que somam uma pontuação. Os mais importantes são área de formação interessante para o governo local — como finanças, engenharia, mecânica, aeronáutica, alimentos e ciências genéticas —, conhecimento da língua francesa e idade até 36 anos”, afirma Paulo. O especialista salienta que esses critérios, embora garantam pontuação máxima, não são eliminatórios. “Os únicos obrigatórios são ter nível de escolaridade superior ou técnico e três meses de autossuficiência financeira, mas não recomendo ir sem falar francês [idioma oficial da província].” Como o processo todo dura cerca de dois anos, dá tempo de se preparar. De modo geral, a opção para ingressar no país (em cidades como Toronto, Montreal e Ottawa) é o visto de trabalho canadense, cuja duração corresponderá ao tempo de contrato assinado com a empresa. Nesse caso, a companhia contratante precisa justificar que não existe um profissional local qualificado para o cargo, o que de fato acontece. “Há postos abertos principalmente em áreas de TI e usinagem [relacionada a montagem, corte e soldagem de peças industriais]. São posições para analistas de computação, desenvolvedores, programadores de máquinas, eletrotécnicos. Em algumas, não é exigida nem formação superior”, diz Janaina Kamide, do Quebec Internacional, agência de desenvolvimento econômico que ajuda organizações a contratar estrangeiros.

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Salário mínimo: os valores variam de acordo com a província e vão de 10,70 dólares canadenses (27,21reais) a 13 dólares canadenses (33,06 reais) a hora.

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A favor dos brasileiros: país desenvolvido com uma das políticas imigratórias mais flexíveis do mundo. O serviço de saúde, gratuito para todos, é destaque.

Desvantagens: para quem não é formado nas áreas prioritárias do governo, o processo para pedido de residência temporária é de cerca de três anos. O trânsito nas grandes metrópoles e o clima frio também podem desagradar.

Onde buscar emprego:

• quebecentete.com/pt

• workbc.ca

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• jobbank.gc.ca

• eluta.ca


Daniel Pliscki, analista de sistemas brasileiro, em Toronto: os profissionais de TI estão entre os mais demandados | Rodrigo Moreno/AFP Services ()

SEM ARREPENDIMENTO

O analista de sistemas Daniel Pliscki, de 30 anos, mudou-se para Toronto em novembro do ano passado. O profissional, que desenvolvia software para a indústria de transporte no Rio Grande do Sul, começou a desenhar sua transferência de país em 2014, quando a crise batia à porta do Brasil. “Descobri que a área em que trabalhava era bastante demandada no Canadá”, diz. Depois de mapear companhias canadenses, Daniel enviou currículos pela internet destacando competências que poderiam diferenciá-lo. Participou de alguns processos e, quando surgiu uma vaga, foram dez meses até a legalização de sua contratação. Um advogado canadense contratado pela companhia o ajudou em todo o processo. Embora afirme que o custo de vida seja semelhante ao de uma metrópole brasileira, como São Paulo, o desenvolvedor, que ganha 74 000 dólares canadenses por ano, não se arrepende. “A inflação aqui é baixa, há menos impostos e meu poder de compra é muito maior.” 


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Fuga de talentos   

Há vagas no país inteiro, mas em cidades afastadas dos grandes centros a
concorrência é menor

A pequena ilha com paisagens paradisíacas, apontada como um dos lugares menos corruptos do mundo e com uma das moedas mais baratas entre os países de língua inglesa, oferece facilidades para quem está à procura de emprego no exterior. “Por muito tempo, a Nova Zelândia foi vista como o quintal da Austrália e, por isso, muitos neozelandeses saíam do país ao atingir a maioridade. Hoje, com a economia aquecida, falta mão de obra”, afirma Fernanda Lassala, da agência de intercâmbio S7 Study, de São Paulo. Entre as opções de entrada, uma das mais fáceis é o Work Holiday Visa, um tipo de visto temporário concedido devido a um acordo que o país tem com diversas nações, incluindo o Brasil. O documento permite ingressar no país sem uma oferta de emprego, mas com autorização para trabalhar. “Custa 208 dólares neozelandeses [cerca de 470 reais]. O processo abre uma vez por ano, para jovens de 18 a 30 anos, e possui 300 vagas”, diz Peterson Fabricio, agente licenciado do governo neozelandês para assessorar quem deseja imigrar para o país. Embora provisório (e bastante concorrido), ele é o principal acesso para a obtenção do Job offer, o visto de trabalho definitivo da Nova ­Zelândia. Uma das modalidades mais atraentes desse tipo de visto é o Long Term Skill, destinado às profissões mais demandadas. No site do governo é possível verificar uma lista, revisada bimestralmente, com os cargos mais buscados, em geral engenheiros e programadores de TI. Há vagas em todo o território, mas em cidades menores é mais fácil conseguir uma oportunidade com menos concorrência.

Vista do centro comercial de Auckland; e gramado em frente ao mar na capital da Nova Zelândia, Wellington: o país precisa de profissionais estrangeiros | Shutterstock ()
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Salário mínimo: 15,75 dólares neozelandeses por hora (35,45 reais).

A favor dos brasileiros: é um dos mais flexíveis em termos de políticas imigratórias, com diversas iniciativas governamentais para atrair profissionais de fora. A Nova Zelândia também tem um dos maiores índices de desenvolvimento humano (IDH) no mundo.

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Desvantagens: a distância do Brasil, que chega a mais de 20 horas de voo, é algo a levar em conta. Os neozelandeses também tendem a ser menos sociáveis, o que pode interferir na adaptação nos primeiros meses.

Onde buscar emprego:

• immigration.govt.nz

• seek.co.nz

• trademe.co.nz/Jobs

• myjobspace.co.nz


| Acervo pessoal ()

CARGO EM ALTA

O sonho do técnico em mecânica piauiense Hugo Amaro, de 35 anos, era se mudar para os Estados Unidos. Mas as facilidades oferecidas a imigrantes na Nova Zelândia o fizeram mudar de ideia. Há três meses, ele trocou o cargo de especialista em manutenção na Vale do Rio Doce, na Mina do Sossego, em Canaã dos Carajás (PA), por uma posição no país da Oceania. “Ao pesquisar em sites do governo neozelandês, descobri que meu cargo estava na lista dos requisitados. Traduzi meu currículo e comecei a enviar para empresas do ramo”, diz. Em dois meses, surgiram os primeiros convites para processos seletivos. Após diversas entrevistas por teleconferência — mesmo com o inglês de nível básico —, ele foi escolhido para duas vagas e optou por aquela que estava com o processo mais adiantado. “Como havia trabalhado com estrangeiros, eu os indiquei quando pediram recomendações, e isso mostrou que eu já havia trabalhado com outras culturas”, afirma. Hugo conta que gastou 18 000 reais com passagem e documentação. Na cidade de Tokoroa, onde mora, os custos de hospedagem e alimentação são pagos pelo contratante. Por estar numa região mais afastada de grandes cidades, como Auckland, ou da capital, Wellington, há menos concorrência e o custo de vida é mais baixo. “Embora haja pouca badalação, a estrutura é de uma metrópole brasileira”, diz Hugo, que, até o fim do ano, pretende buscar no Brasil a mulher e as duas filhas. 


 DNA cosmopolita 

Com cerca de 2 milhões de estrangeiros, o país asiático  tem o inglês como língua oficial e se tornou um polo de  atração de profissionais qualificados ao redor do mundo

Localizada no sudeste asiático, Singapura possui a terceira maior renda per capita do mundo, sendo uma das nações mais ricas do planeta. Entre seus 5,5 milhões de habitantes, 500 000 são estrangeiros residentes e 1,5 milhão temporários — a maioria chineses, malaios e indianos. Ex-colônia britânica, a cidade-estado tem o inglês como língua mais falada e é considerada a nação mais cosmopolita da região. “Como a cultura é internacional, a adaptação é mais fácil. Dizem que Singapura é a Ásia para iniciantes”, afirma o embaixador do Brasil no país, Flávio Domico. Para ingressar, há duas opções: os vistos de trabalho temporário e permanente. Os primeiros geralmente são destinados a profissionais de baixa qualificação, muitas vezes oriundos de lugares como Filipinas. “O ideal é conseguir uma oferta de trabalho e obter o visto permanente”, afirma Flávio. Pesa a favor dos brasileiros o fato de Singapura abrigar diversas multinacionais, inclusive brasileiras, como Vale, BRF, Seara, Embraer, Petrobras, Braskem e WEG. Profissionais com atuação no mercado de commodities e em áreas como óleo e gás, finanças ou aeroportuária têm mais chance. O embaixador ressalta, no entanto, que o interesse é recrutar mão de obra qualificada, caso dos 1 000 brasileiros que hoje moram na região. “Para quem possui experiência é mais fácil, já que a companhia consegue justificar para o governo por que vai ­contratar um estrangeiro.”

Chance de empreender 

Em primeiro lugar na Ásia em inovação, segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual, Singapura também se destaca na área de tecnologia e possui facilidades para quem deseja empreender. Desde 2005, o governo local adotou um regime de isenção fiscal para apoiar os novos negócios. As empresas recém-abertas recebem descontos de 100% sobre os primeiros 100 000 dólares de receita e outro desconto de 50% sobre os próximos 200 000 dólares nos três primeiros anos de vida. “Singapura quer ser uma espécie de Vale do Silício do continente asiático”, afirma Flávio. Mas quem tem planos de se mudar para o país com os filhos deve preparar o bolso, já que ali escolas bilíngues chegam a custar até 35 000 dólares (cerca de 126 000 reais) por ano.

Imagem aérea dos distritos financeiro e turístico de Singapura: a cidade-estado tem a terceira maior renda per capita do mundo | Shutterstock ()

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Salário mínimo: segundo o site do governo, não há um salário mínimo estipulado no país.

A favor dos brasileiros: a região é um hub de negócios e concentra diversas multinacionais, o que aumenta a chance de abocanhar uma vaga. A qualidade de vida é destaque e os serviços públicos, como transporte, funcionam.

Desvantagens: embora com baixíssimas alíquotas de impostos, o custo de vida, sobretudo de moradia, é alto, por causa do espaço reduzido para novas construções. Quem tem filhos com mais de 7 anos não consegue matriculá-los em escolas públicas, pois o ensino é em malaio.

Onde buscar emprego:

• singapore.recruit.net

• worksingapore.com

• sg.jobsdb.com/sg

• stjobs.sg

• jobscentral.com.sg


| Acervo pessoal ()

MENOS IMPOSTOS 

Durante sete anos, o engenheiro metalúrgico mineiro Renato Hendriksen,
de 42 anos, viveu em Singapura como expatriado. Em 2014, a empresa o enviou de volta ao Brasil. Era, no entanto, o início da crise e ele decidiu retornar ao país asiático por conta própria. Enviou currículos, acionou contatos e fez entrevistas a partir do Brasil até ser contratado como expert em inteligência de mercado por uma multinacional australiana. Diversos fatores o fizeram deixar o país — levando consigo a mulher e dois filhos, de 8 e 6 anos. Além do cenário profissional interessante, ele diz que Singapura é segura, organizada e tem baixa carga tributária. “Pagamos menos impostos, você anda tranquilo à noite e as coisas funcionam. Com o que ganho, posso pagar serviços de saúde e educação de primeiríssima qualidade, coisa que jamais teria no Brasil com salário de especialista”, diz.


Vizinho receptivo 

Em busca de inovação, o chile oferece programa de suporte a startups de diferentes nacionalidades, uma chance e tanto para empreendedores

O Chile tem despertado o interesse de brasileiros, principalmente daqueles dispostos a abrir um negócio. Isso porque há no país o Startup Chile, programa do governo para atrair empreendedores de todo o mundo e gerar inovação. Nele, após um processo seletivo, os autores dos projetos escolhidos recebem aporte de 40 000 dólares e ganham visto temporário para desenvolver a empresa no país. Até a última edição, no ano passado, o programa gerido pela Agência Chilena de Desenvolvimento Económico havia apoiado 1 309 novas empresas — 12 delas brasileiras. Porém, essa participação vem aumentando. “Só no último ano, do total de finalistas, 11% das empresas eram brasileiras. Ficamos atrás apenas do próprio Chile (26%) e dos Estados Unidos (18%). Além disso, o vizinho sul-americano se destaca por ser uma economia estável, com poucos casos de corrupção e índice de desenvolvimento humano alto”, afirma Haroldo Modesto, diretor regional para a América Latina da consultoria de mobilidade global Crown, de São Paulo. Para quem busca um emprego, facilita o fato de o país integrar o acordo do Mercosul. “Não é preciso visto e há livre circulação entre os países”, diz Idalmir Luz, advogado especialista em imigração. Para ingressar de fato, no entanto, é necessário um pedido de registro de residente, que concede a possibilidade de trabalho por dois anos. Depois desse período é possível solicitar a residência permanente, que só exige comprovação de renda. De acordo com especialistas, as áreas para as quais o Chile mais contrata são mineração, já que o país se destaca pela exploração de cobre, e tecnologia, nas cidades mais desenvolvidas, ao sul do território chileno.

| Ivan Alvarado/Reuters ()
Mina de cobre em Antofagasta, no norte do Chile; e teleférico no Morro San Cristóbal, em Santiago: mineração e tecnologia são as áreas que o país mais contrata | José Luis Stephens/Shutterstock ()
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Salário mínimo: 241 pesos chilenos mensais (1 229 reais).

A favor dos brasileiros: há proximidade da língua, além de grande oferta diária de voos de um país ao outro — cuja distância é relativamente pequena. A facilidade para conseguir visto de trabalho, se comparada com países da Europa e Estados Unidos, é grande.

Desvantagens: os chilenos costumar ser descritos como os mais introspectivos entre os latinos. As diferenças nas leis trabalhistas, como
a inexistência de 13o salário e as férias de apenas 15 dias, podem assustar
os desavisados.

Onde buscar emprego: 

• neuvoo.cl

• trabajando.cl

• computrabajo.cl

• chiletrabajos.cl

• buscojobs.cl


| Acervo pessoal ()

IDIOMA A FAVOR

Formada em relações internacionais, Mayra Rabello, de 31 anos, aproveitou a livre circulação entre os países quando se mudou para o Chile, no fim de 2013. Sem perspectiva de crescimento na empresa onde trabalhava como analista de mercado e já prevendo as dificuldades que o Brasil enfrentaria no ano eleitoral seguinte, ela decidiu largar o emprego em São Paulo para seguir o então namorado, que havia conseguido uma oportunidade no vizinho sul-americano. “Vim como turista e, como sabia que poderia ficar três meses, resolvi arriscar. Se não conseguisse nada, voltaria”, diz. Nesse período, ela estabeleceu uma rotina de acordar cedo e entrar em todos os sites de emprego chilenos em busca de vagas na área de finanças. Depois de fazer três entrevistas em um mês, recebeu uma proposta para trabalhar numa multinacional do setor de construção. “O fato de eu falar espanhol fluente contribuiu”, afirma Mayra. Para não ficar ilegal, a profissional solicitou permissão para trabalhar e, depois, o registro de residente permanente. A paulista afirma que não teve dificuldade no processo, que durou menos de um mês e exigiu basicamente a comprovação do vínculo empregatício com a empresa. “No Brasil, em três meses, eu fiz apenas uma entrevista. No Chile, brasileiros com formação superior e empresas grandes no currículo se diferenciam no mercado de trabalho”, diz.


Sonho possível  

Embora disputado, o país oferece mais de 180 tipos de visto, o que abre brechas  para novos imigrantes

Destino favorito dos emigrantes brasileiros, mudar-se para o país não é simples — exatamente por causa da alta demanda. Após o governo de Donald Trump endurecer as regras, o cenário se tornou ainda mais complicado. Prova disso é que a taxa de rejeição para obtenção de vistos, segundo a embaixada americana no Brasil, triplicou em 2016 se comparada ao ano anterior, saltando de 5,36% para 16,7%. Mas há caminhos alternativos. Segundo Leonardo Freitas, da consultoria especializada em imigração Hayman Woodward, com sede em Miami, um planejamento detalhado pode tornar o sonho possível. “Há 187 tipos de visto. Caso você não se encaixe nos mais comuns, pode verificar outros, mais específicos. O consulado dos Estados Unidos tem linhas telefônicas de informações que podem ser bem úteis”, afirma. O clássico seria o visto H1B. Extensível por até cinco anos, é atrelado a uma oferta de emprego no país e só perfis mais qualificados se enquadram. “Geralmente, são pessoas de alto nível gerencial ou especialistas em determinadas áreas”, afirma Roberto Spighel, presidente da consultoria de emigração Morar EUA, de São Paulo. Mas quem estiver disposto a ir para áreas rurais e menos visadas tem mais chance. “Como a educação superior por lá é cara, faltam engenheiros e médicos em algumas regiões. Há, inclusive, um programa das Forças Armadas para dentistas e profissionais de saúde que desejam trabalhar para o Exército”, diz. Esses trabalhadores, porém, precisam revalidar o diploma nos Estados Unidos, processo que pode levar quatro anos. Outra possibilidade são os vistos para investidores. O E-2, por exemplo, é destinado a quem possui cidadania de países que mantêm acordo com os Estados Unidos, como Itália, Espanha, Alemanha e Japão. “Essa vem se tornando uma das vias mais comuns de entrada no país: só de brasileiros com cidadania italiana existem 250 000”, afirma Roberto. Por esse caminho, não há um valor mínimo de investimento. A dica é apresentar um projeto com viabilidade e que gere vagas de emprego na terra do Tio Sam.

Edifícios comerciais no centro de São Francisco: polo de inovação, a Califórnia atrai profissionais do mundo inteiro | Spondylolithesis/GettyImages ()
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Salário mínimo: em geral, 7,25 dólares por hora (cerca de 23,37 reais).

A favor dos brasileiros: educação de nível básico gratuita e de boa qualidade. A qualidade de vida também é um ponto de destaque.

Desvantagens: políticas imigratórias pouco flexíveis. O serviço de saúde, que é particular, é bem caro. A incidência de catástrofes naturais e os recentes ataques terroristas devem ser colocados na balança durante o planejamento.

Onde buscar emprego: 

• simplyhired.com

• us.jobs

• indeed.com

• monster.com

• careerbuilder.com


| Leo Martins ()

VISTO DE INVESTIDOR 

Foi com o visto de investidor que a corretora de imóveis brasileira Ana Flávia Brugnara, de 47 anos, conseguiu se mudar para Boca Raton, na Flórida (estado bastante visado por brasileiros), um ano e meio atrás. A decisão veio após o marido, executivo na área de transportes, perder o emprego. Com o mercado imobiliário no Rio, onde moravam, estagnado, Ana resolveu fazer as malas. “Tivemos uma queda brusca no poder aquisitivo. Escolhi os Estados Unidos porque teria educação pública de qualidade para meu filho, além de mais segurança”, diz a carioca. Sem dinheiro em caixa, a solução foi vender o imóvel da família: uma cobertura na nobre região da Lagoa, na capital fluminense. O valor da venda foi investido no Orlando City Soccer Arena, estádio de futebol de um time americano. Hoje, o casal recebe rendimentos de 20% ao mês, divididos entre os 100 investidores, de dividendos gerados pelo negócio. “Aqui, com 3 500 dólares por mês dá para viver bem. Valor muito abaixo do que gastaríamos no Brasil para ter o mesmo padrão de vida.” 

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