A armadilha da perfeição: como o medo de errar sabota o plano de carreira
Ajudar os profissionais a aceitar erros e decepções como parte do processo é uma responsabilidade organizacional – e um estímulo ao aprendizado.

Neste período do ano, muitos profissionais se debruçam sobre seus indicadores de desempenho e, munidos de feedbacks, começam a desenhar um novo plano de desenvolvimento individual, o famoso PDI. Já as empresas oferecem uma série de programas e treinamentos para impulsionar a evolução de cada colaborador.
Apesar desse cenário estruturado, uma queixa persiste em organizações de diferentes portes: uma certa passividade dos colaboradores em relação ao próprio desenvolvimento. Há ferramentas, trilhas de aprendizagem e suporte institucional, mas, ainda assim, muitos profissionais não assumem o protagonismo de suas trajetórias. A questão é: o que está faltando para que isso aconteça?
Talvez a resposta não esteja no que falta, mas no que sobra.
Vivemos cercados por exemplos de sucesso que beiram a perfeição. O jovem que ficou milionário em um ano, a profissional que foi promovida rapidamente e agora dá palestras internacionais, ou a rotina altamente produtiva de líderes que parecem equilibrar tudo com maestria. Esses modelos são constantemente exaltados e, ainda que sirvam como inspiração, acabam criando um padrão inalcançável sobre o que é ter uma carreira bem-sucedida.
A mensagem que ecoa é: “Quer chegar lá? Basta seguir o que eu fiz”. O problema é que esse caminho raramente contempla os erros, as falhas e as dificuldades naturais do processo. Isso gera um efeito colateral muito danoso: o medo de errar e a paralisia diante do desenvolvimento.
O que ninguém divulga sobre si mesmo
Quando se fala em aprendizado e crescimento profissional, já é consenso que assumir riscos e experimentar novas possibilidades são elementos fundamentais para avançar. Mas, se errar não é socialmente aceito – ou, pior, se falhar representa uma ameaça à própria imagem –, como esperar que as pessoas se engajem no próprio desenvolvimento?
É aqui que a perfeição se torna uma armadilha.
Poucas pessoas têm coragem de admitir, em voz alta, seus tropeços profissionais. As carreiras mais admiradas parecem lineares e impecáveis, quando na realidade são cheias de falhas e desvios de rota. Esse apagamento do erro no ambiente de trabalho cria uma expectativa irreal, limitando a ousadia e a autenticidade dos colaboradores, especialmente os mais jovens, que ainda não possuem experiência e autoconhecimento suficiente para sustentar sua posição no mundo do trabalho de forma autêntica.
Portanto, a falta de iniciativa pode não ser acomodação, mas sim medo de errar. O receio de fazer apostas erradas, investir tempo e energia no que não dará certo ou, ainda pior, falhar publicamente, pode inibir o protagonismo profissional e gerar uma postura mais passiva diante do próprio desenvolvimento.
O desafio, então, é ajudar os times a ressignificar o erro e tornar o processo de crescimento menos ameaçador. Veja, a seguir, algumas maneiras práticas de fazer isso.
Identifique um driver motivacional positivo associado ao futuro
Pensar no longo prazo e perceber algo que se deseja genuinamente ajuda a tornar mais claro o caminho a seguir, mudando o lócus de controle de uma referência externa (o que se espera de mim) para uma interna muito mais forte (quem eu sou e o que desejo conquistar).
Personalize o PDI e crie um plano concreto
Ao focar nas qualidades, necessidades e particularidades de cada profissional, o plano fica mais interessante e significativo. E, ao detalhar como conquistar esses objetivos, com metas e objetivos palpáveis, fica mais fácil saber como seguir adiante e o que se deve priorizar nesta caminhada.
Crie metas simples e fáceis de serem implementadas
Monitore os avanços e celebre as conquistas. Dessa forma, as pessoas atingem mais rápido seus objetivos e com isso se sentem mais confiantes de investir em projetos e planos de desenvolvimento cada vez mais ousados e/ou complexos. Começar pelo que é mais difícil tende a gerar frustração e retração.
Peça feedbacks e faça ajustes constantes
Conte com parceiros, peça feedbacks e busque indicadores que ajudem a monitorar o progresso do plano. Faça os ajustes necessários ao longo desse desenvolvimento e não tenha medo de recomeçar quantas vezes forem necessárias, fortalecendo sua mentalidade de crescimento.
Num mundo que cultua a perfeição e expõe apenas os sucessos, ajudar os profissionais a aceitar erros e decepções como parte do processo é mais do que uma necessidade: é uma responsabilidade organizacional. Um bom profissional não é aquele que nunca erra, mas quem aprende, ajusta o curso e segue em frente – com coragem e autenticidade.