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Ana Carolina Souza

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Neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa na área de neurociência organizacional
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Contágio de estresse e seu impacto nas organizações

Quando uma pessoa testemunha outra passar por uma situação de tensão, ocorrem alterações fisiológicas também no observador. Saiba como lidar.

Por Ana Carolina Souza, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 28 dez 2023, 16h09 - Publicado em 14 dez 2023, 18h46
 (Sunphol Sorakul / Getty Images/VOCÊ RH)
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Um inimigo silencioso. É assim que vejo o estresse permeando as equipes e corrompendo as organizações, de forma quase invisível. A cultura atual segue valorizando o sacrifício individual e ignorando os processos emocionais que regem o comportamento humano. Portanto, é comum vermos equipes esgotadas lideradas por gestores igualmente sobrecarregados. E, apesar do aumento de investimento em saúde, bem-estar e felicidade, ainda há muito o que fazer. 

Nessa equação, parece ainda não estar claro para as empresas que os efeitos deletérios do estresse superam (e muito) a capacidade de aumentar a nossa performance no curto prazo. O grande desafio? A resposta, além de tudo, não se limita ao indivíduo. O estresse, assim como outras emoções, é capaz de gerar um padrão de contágio, sendo passado de pessoa para pessoa, como um vírus. E, mesmo sem ser visto, terá seu impacto na saúde e no rendimento dessas equipes como um todo. Como podemos explicar esse fenômeno e entender melhor com o que estamos lidando?

Animais sociais dependem diretamente das habilidades de comunicação, e a empatia seria um dos fatores associados, justamente, a essa capacidade de compreender o que o outro pensa e sente, por meio do mimetismo de suas reações em nosso próprio cérebro. É uma espécie de espelhamento, no qual circuitos cerebrais são ativados quando eu executo determinado movimento ou quando sinto uma emoção. Esses mesmos circuitos também são ativados quando vejo outra pessoa executar o mesmo movimento ou sentir a mesma emoção. A capacidade do cérebro de simular os estados emocionais de outra pessoa garante que sejamos capazes de entender um ao outro e, a partir disso, possamos tomar melhores decisões e agir de forma mais eficiente. 

Como acontece o contágio

Se, por um lado, esse processo nos ajuda a viver bem em grupo e garante inclusive que haja comportamentos pró-sociais e emoções complexas (como o sentimento de justiça), por outro lado, essa mesma base estaria por trás do fenômeno que hoje é descrito como contágio de estresse. Estudos mais recentes mostraram, em diferentes contextos e avaliando diferentes grupos, que quando uma pessoa testemunha outra passar por uma situação de estresse, existem alterações fisiológicas consistentes naquele que é apenas um observador. Ou seja, você não precisa passar por uma situação de estresse diretamente para que tenha sua frequência cardíaca alterada ou a resposta de hormônio cortisol aumentada, por exemplo. 

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E esse contágio não ocorre apenas quando uma pessoa testemunha outra passando por um momento estressante. Em algumas relações, estudos mostram que mesmo após passar pela situação de estresse, os efeitos dessa resposta podem ser transmitidos para terceiros, que não estavam presentes, por meio de alterações nas expressões faciais, voz, postura e até mesmo o odor da pessoa estressada.

Sabe quando alguém diz que “está tudo bem!”, mas você sente que não é verdade? Pois é, são essas pistas não verbais que sinalizam para o cérebro que aquela pessoa está estressada. Isso está diretamente associado a mudanças comportamentais, na comunicação e na interação da pessoa estressada com os demais com quem convive. 

As respostas fisiológicas identificadas nos estudos sobre contágio de estresse variam bastante, mostrando a complexidade do fenômeno. Mas, sem dúvida, mostram que ele existe e que não se limita apenas a uma percepção subjetiva do ambiente ou da pessoa que sofreu o estresse em si, havendo alterações físicas que se manifestam em resposta ao contágio emocional vivido.     

Na perspectiva evolutiva, esse mecanismo que permite o contágio de estresse seria uma forma muito eficiente de garantir a nossa sobrevivência, e por isso ele existe como parte do arcabouço de respostas automáticas e inconscientes do cérebro. Ser capaz de transferir informações de um indivíduo estressado para parceiros “ingênuos” favoreceria processos de cooperação e vigilância contra potenciais ameaças, ajudando a reduzir a exposição ao perigo. 

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No entanto, o contexto atual que nos coloca sob grandes níveis de estresse cotidianos dentro do ambiente de trabalho faz com que haja uma ativação constante desses circuitos, o que é potencializado ainda mais pelos processos de contágio emocional. Estamos continuamente ativando as respostas de estresse no nosso cérebro para ameaças que deveriam ser tratadas de outra forma, mais eficiente. A médio e longo prazo, isso gera um padrão de estresse psicológico crônico capaz de gerar uma série de efeitos deletérios sobre a capacidade cognitiva e emocional, o que, portanto, irá comprometer a performance e saúde de líderes e colaboradores. 

A ativação desses mecanismos neurais no dia a dia das empresas parece estar acelerando o adoecimento das equipes e esses mesmos mecanismos estarão por trás de processos antagônicos descritos como “Social Buffering”, um fenômeno conhecido pelos seus efeitos protetores em relação à resposta ao estresse. A diferença entre um ou outro reside nas características do ambiente no qual as pessoas estão inseridas. Esse ambiente favorece a formação de vínculos sociais ou aumenta ainda mais a resposta ao estresse? 

O que fazer

Trabalhar a comunicação, a empatia e a autogestão de líderes e colaboradores é fundamental para obter desfechos mais positivos, além de monitorar continuamente os níveis de estresse dentro da organização.

Conhecer a fundo como funcionam as respostas emocionais pode ser a grande diferença entre uma organização com maior contágio de estresse ou uma empresa que promove um ambiente com maior suporte emocional. E isso fará toda a diferença com relação à performance e ao bem-estar de suas equipes. A habilidade humana de captar automaticamente aspectos do estado emocional de outras pessoas e reagir a eles é inerente ao funcionamento do nosso cérebro. É um processo automático e inconsciente, que não irá desaparecer da noite para o dia, mas, ao conhecê-lo melhor, podemos cuidar do ambiente organizacional para que ele permita um equilíbrio saudável entre momentos de contágio emocional negativo e positivo.

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