2020: o ano que colocou a saúde mental à prova
O ciclo que está terminando traz aprendizados e legados para 2021. Veja cinco capacidades humanas que devemos desenvolver para o ano que chega
Caro leitor e cara leitora, primeiramente gostaria de parabenizar você por chegar até aqui neste ano tão atípico e desafiador de nossas vidas.
Tenho certeza que, nessa batalha, você tem feito o seu melhor e só por isso merece um grande abraço de agradecimento.
Começo a minha coluna citando a frase do filósofo e matemático francês Nicolas de Condorcet, em sua famosa obra, Esboço de um Quadro Histórico dos Progressos do Espírito Humano, escrita em 1795, que diz o seguinte: “Nossas esperanças quanto aos destinos da espécie humana podem se reduzir a estas três questões: a destruição da desigualdade entre as nações; os progressos da igualdade de um mesmo povo; e por fim, o aperfeiçoamento real do homem”.
Já naquela época se discutia mudanças importantes e necessárias não somente sobre aspectos políticos, sociais como as de ordem da natureza, aí incluída a humana.
Nossa jornada de autoconhecimento foi impulsionada pela pandemia. Motivados por uma necessidade de sobrevivência, tivemos que usar mecanismos de adaptabilidade para manejar, vencer e ultrapassar os obstáculos que a crise trouxe para cada um de nós.
Enfrentar esse período não é fácil. Tanto teremos que lidar com prejuízos à saúde mental. Nos próximos anos, colheremos seus efeitos oriundos de um grande acervo de artigos científicos que já começaram a ser produzidos em fevereiro de 2020. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) entre maio e julho deste ano que ouviu 1.996 pessoas maiores de 18 anos de idade, revela que 80% da população brasileira tornou-se mais ansiosa na pandemia do novo coronavírus.
Tudo isso, trouxe profundas reflexões individuais, coletivas e, também, organizacionais nas empresas brasileiras. Vieram à tona, por exemplo, a necessidade de rever os padrões atuais de comportamento como o egoísmo, o egocentrismo, o trabalho só pela sobrevivência, a sensação de ser escravo do tempo e do trabalho e os negócios voltados apenas para o lucro.
Capacidades humanas
O contexto atual exigiu o reencontro de nossas humanidades por meio dos comportamentos ou capacidades como coletividade, senso de comunidade, empatia, auto cuidado, habilidade social, coragem, objetividade, compaixão.
Isso fez com que tivéssemos que levar mais em conta os aspectos emocionais e psicológicos que, antes da pandemia, podiam ser um tanto obscuros, entendidos como subjetivos. A crise, no entanto, aumentou a percepção sobre esses aspectos, que vivenciamos fortemente em nossa experiência de confinamento e distanciamento social.
Para exercer as capacidades humanas com plenitude é necessário ter uma boa saúde física e mental que possa apoiar e dar combustível para expressar um comportamento que seja funcional e positivo. Isso porque as capacidades humanas são os atributos demonstrados independentemente do contexto. Elas têm valor e aplicabilidade em diferentes resultados, setores e domínios e não se tornam obsoletas.
Em 2021, acredito que teremos que cultivar as capacidades humanas abaixo:
- Curiosidade: aprender por meio de perguntas e exploração
- Imaginação: ver um potencial que nunca foi visto antes
- Criatividade: inovar em novas abordagens; usando recursos de maneiras inesperadas
- Empatia: compreender e considerar os sentimentos, experiências, necessidades e aspirações dos outros. Importante notar que não é preciso ter passado pela situação do outro e nem ser empático por conveniência – a isso chamamos de afinidade/simpatia.
- Coragem: agir apesar da incerteza ou da oposição. Essa capacidade foi enormemente desafiada e exercida em 2020 e precisaremos dela mais do que nunca em 2021.
O interessante é que essas capacidades humanas, além de duradouras também são:
- Inatas: todos têm essas capacidades, pois conseguimos observá-las em crianças pequenas, sem treinamento especial. Como músculos, as capacidades podem ser subdesenvolvidas e atrofiar por falta de uso.
- Improváveis: capacidades não conduzem ao treinamento. As pessoas começarão em diferentes níveis de força ou atrofia, mas como acontece com os músculos, as capacidades podem ser fortalecidas e desenvolvidas por meio de exercícios.
- Interconectadas: elas trabalham juntas, construindo e equilibrando umas às outras. Por isso, devem ser cultivadas juntas.
Empresas como facilitadoras
As companhias precisarão desse interior humano fortalecidos em sua cultura organizacional, uma vez que as adversidades e mudanças exigirão maior rapidez, agilidade emocional e adaptabilidade para obter melhor enfrentamentos e bons resultados para os negócios sem comprometer a saúde mental de seus funcionários.
O papel das empresas é o de facilitador na promoção do bem-estar mental a partir do cultivo dessas capacidades, mas não é o único responsável por esta condição.
Mas cada um de nós deve assumir esse accountabilitiy pessoal como sua responsabilidade de forma autoconsciente. Afinal, quem habita o seu corpo e vive a sua vida 24 horas por dia é você.
As organizações precisam cuidar para não transformar o tema da saúde mental em modismo ou em mais um recurso para trabalhar interesses voltados exclusivamente à promoção da imagem para alavancar prêmios institucionais.
A condição de uma boa saúde mental deve ser levada a sério: estamos falando de vidas. Posso dizer que, pelo número de atendimentos e palestras que exerci neste ano, há muitos sofrimentos psíquicos, inclusive, nas famílias.
A segurança psicológica é um tema importante e, para que ela tenha eficácia e seja sustentável, é preciso investir em profissionais com formação, competência, experiência, especialidade e gestão no assunto.
Desejo a você uma vida longa, saudável e feliz! Obrigada 2020 e Salve 2021!
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