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Edwiges Parra

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Psicóloga e professora de educação executiva da FGV, especialista em saúde mental corporativa e dependências tecnológicas
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Inteligência espiritual: entenda qual é a sua relação com a saúde mental

A inteligência espiritual não tem a ver com religião: é a capacidade de equilibrar razão e emoção com base nos valores e ações e, assim, encontrar propósito

Por Edwiges Parra, colunista de VOCÊ RH
Atualizado em 30 dez 2021, 20h13 - Publicado em 29 out 2021, 07h00
Imagem mostra uma mulher jovem, branca, de cabelos claros compridos e lisos. Ela está parada no meio de árvores, com os olhos fechados.
 (Pexels / Alan Retratos/Divulgação)
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Começo essa coluna dizendo que estava com uma saudade enorme de voltar a escrever para vocês. Por diversas vezes nos vemos correndo sempre, tentando alcançar os objetivos e, sem dar conta, somos colocados no espiral da vida automática.

Até que um dia, a vida no seu sentido mais vívido e soberano faz com que você seja obrigada a parar por 25 dias. Do que eu estou falando? Meus caros, no mês de agosto eu e minha família (mãe e irmã) exceto marido, fomos acometidas pela covid-19.

Já temos uma boa noção do que tem sido enfrentar a covid nesses quase dois anos de pandemia. O que posso dizer é que a minha jornada de experiência foi muito dura, difícil e ao mesmo tempo um grande ensinamento. Eu me encontrei numa situação de total vulnerabilidade emocional, porque as duas pessoas mais importantes da minha vida estavam lado a lado em quartos de UTIs lutando para se curarem. Eu, isolada em casa, tentava cuidar da minha alimentação para dar fortaleza ao meu corpo e ao cérebro (meus sintomas foram leves), tentando fazer uso de todas as manobras de autocuidado para me manter forte para elas.

Na fase mais delicada de minha mãe, eu me vi totalmente esgotada emocionalmente, fragilizada psicologicamente e com um medo pavoroso de perder mãe e irmã ao mesmo tempo. Eu me rendi a minha máxima fragilidade, pedi ajuda e socorro ao meu marido, amigos e familiares para que orassem por elas.

Neste instante, experimentei tanto carinho, amor e compaixão de todos os lados que eu sentia de forma genuína essa HUMANIDADE na melhor e maior essência que temos. Esse acolhimento, veio de onde nem se espera, (sem nenhum julgamento) porque é um momento tão delicado e particular que me surpreendi com mensagens que vieram da minha equipe, dos meus pacientes, clientes corporativos, fornecedores, parceiros de trabalhos.

Experimentar tudo isso fez com que eu me reconectasse com a vida que transcende a nossa existência, o divino (pessoal e de livre interpretação para cada um de nós) e a espiritualidade. Redescobrir a inteligência espiritual foi um alicerce extremamente importante para reerguer, fortalecer a minha saúde mental.

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O que é a inteligência espiritual ou existencial

Apesar de pouco falada, principalmente nos ambientes do trabalho, a inteligência espiritual ou existencial é uma maneira como a ciência descreve nossa relação com a vida (fatos, acontecimentos) e com o mundo.

A partir de descobertas nos anos 2000, cientistas encontraram evidências de que o cérebro humano foi programado biologicamente para fazer perguntas filosóficas e subjetivas, como “quem sou eu?” ou o que torna a vida digna de ser vivida?”

A inteligência espiritual pode ser entendida para além do mental, ou seja, envolve nossos valores, virtudes, sentido diante da vida. Além disso, podemos compreender que a inteligência espiritual é a capacidade do ser humano equilibrar sua razão (QI) e sua emoção (QE) com o mundo exterior com base em suas crenças, valores e ações corretas/funcionais – e assim, encontrar o seu propósito de vida.

Neste momento, o nosso senso de humanidade e existência foi colocado extremamente à prova. Nunca se pensou tanto no bem-estar mental, na saúde, no estado de paz, serenidade, no sentido da vida, na família e no trabalho.

Trabalho e espiritualidade

Vale ressaltar que, aqui, espiritualidade não tem conotação religiosa, mas o sentido de existência. A pandemia escancarou questões sobre as quais as empresas já pensavam: sustentabilidade dos negócios, impacto das mudanças e como a liderança poderá conduzir a si própria e o seu time de forma saudável, funcional e com bons resultados.

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A espiritualidade no mundo corporativo significa trabalhar com um sentido mais profundo de existência e propósito em prol da sociedade, da comunidade e do país no sentindo mais amplo, influenciando positivamente as pessoas.

Quando não conseguimos sentir satisfação na área profissional, a vida se torna vazia – pelo menos para a grande parte das pessoas. Consequentemente, surgem fatores causadores do estresse e que podem originar outras doenças.

Fortes impactos emocionais, traumas, inseguranças, fobias, problemas de saúde e de autoestima são exemplos de impeditivos que necessitam nossa atenção, principalmente para ter a adaptabilidade necessária para o novo conceito de vida pós-pandemia que vai se formatando.

Saber acolher essas situações e transformá-las em sabedoria interna (experiência + conhecimento) é desenvolver inteligência espiritual (existencial). Desenvolver essa capacidade é desenvolver a habilidade que permite estabelecer melhor equilíbrio entre a razão e a emoção, impactando de forma positiva a saúde e o bem-estar mental.

Como desenvolver a inteligência espiritual?

Segundo Danah Zohar e Ian Marshall, autores de QS: Inteligência Espiritual (Viva Livros, 44,90 reais), quem desejar aprimorar sua inteligência espiritual precisa trabalhar e desenvolver:

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1. Interesse genuíno por seu autoconhecimento, para que tenha consciência profundamente de quem é

2. Agir de acordo com seus princípios (valores), para assumir responsabilidades por sua vida sem delegar aos outros

3. Ter a capacidade de encarar a adversidade. Tornar-se receptivo ao que rodeia por meio da aceitação e ter serenidade a partir de uma melhor percepção e clareza do que está acontecendo ao redor, mesmo quando tudo parecer assustador. Isso ajuda a lidar com os medos e ameniza pensamentos obsessivos, preocupações em excesso e sentimentos ruins

4. Estimular a conexão com que transcende: ter um sentimento de integração e conexão com tudo que está em volta

5. Valorizar as pessoas por aquilo que são, aceitando o que nos diferencia

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6. Tornar-se independente

7. Buscar sempre melhor compreensão de mundo, ter a menta aberta

8. Gerar capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo. Isso possibilita uma melhor adaptabilidade

9. Ter espontaneidade e ouvir a sua voz interna (a intuição)

10. Exercer compaixão e empatia consigo mesmo e com os outros  

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A partir do meu aprendizado pessoal, insiro na lista o 11º item:

Não há nada tão certo neste mundo quanto os imprevistos e as adversidades que a vida vai nos apresentar. Quando o inesperado bater a sua porta, não se pergunte “Por que eu?”. Para sobreviver a isso, a única pergunta relevante é “E agora?”.  

Não há possibilidade de viver uma vida livre de dores. No entanto, podemos escolher ser livres, aceitando o que é possível neste momento. Seu cargo, seu alto número de seguidores nas redes sociais ou seu brilhante currículo acadêmico não significam nada diante da mão implacável da vida quando lhe coloca na sua extrema fragilidade.

O que se segue é a história, a vida acontecendo, as escolhas que tomamos, grandes e pequenas, que podem nos direcionar do trauma ao triunfo, da escuridão à luz, da prisão à liberdade.

 Se o seu ser humano não aprendeu isso, certamente terá pouco a oferecer a si, aos outros, a sua comunidade, ao seu papel profissional e a sua atuação como líder.

Desejo uma vida real, cheia de saúde, satisfação e significado para você!

Assinatura Edwiges Parra
(VOCÊ RH/Divulgação)
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