Relacionamentos saudáveis não acontecem por acaso
Para criar bons vínculos, precisamos demonstrar interesse real pelos outros, seja na vida pessoal ou no escritório.

Uma das vozes mais importantes de hoje quando o assunto são relacionamentos modernos, a psicoterapeuta belga Esther Perel esteve em São Paulo no último mês. Durante sua curta passagem pelo Brasil, eu tive o privilégio de acompanhá-la em um almoço e uma visita ao Masp. No fim do dia, fomos ao evento Flash Humanidades, onde ela ministrou uma palestra sobre o poder das emoções nas empresas.
Esther é uma daquelas pessoas que tira qualquer um da zona de conforto. Ouve com atenção e se expressa brilhantemente bem, mas jamais oferece respostas prontas. De forma bastante gentil e inteligente, ela abre espaço para que o seu interlocutor se escute de maneira profunda. E foi exatamente o que ela fez comigo quando, no dia seguinte ao nosso encontro, eu enviei uma mensagem agradecendo pela troca de ideias.
Na ocasião, destaquei três afirmações dela que me marcaram: “quanto mais extremas são as promessas, mais curta tende a ser a união”; “praticar tolerância não é o mesmo que concordar, mas se dispor a cuidar de pessoas que pensam diferente de nós”; e “não existe certo ou errado, mas escolhas e consequências”. Excelente terapeuta e observadora do comportamento humano, ela me perguntou: “por que essas, entre tantas coisas, te tocaram mais?”.
Imediatamente mergulhei em mim mesma. Só consegui formular uma resposta satisfatória após refletir sobre meus próprios paradoxos na convivência com outras pessoas e examinar como está a qualidade das minhas relações e promessas. Também foi o momento de olhar com mais compaixão para o aspecto humano de cada escolha, minha ou do outro.
Trago o relato para essa coluna por acreditar que a construção de relacionamentos saudáveis, na vida e no trabalho, não é algo que acontece ao acaso, apenas por afinidade ou sorte. Tem a ver com intenção, com escolhas conscientes e contínuas, com interesse real por quem os outros são e por aquilo que eles pensam. É se dispor a ouvir, respeitar, comunicar e colaborar. É se abrir para resolver o que não está funcionando.
E como fazer isso em um mundo cada vez mais polarizado? Desenvolvendo ou recuperando a capacidade de nos relacionarmos com a subjetividade do outro e nossa própria. Sem perceber, pouco a pouco, estamos nos baseando em regras e padrões de algoritmos para julgar um universo naturalmente complexo, contraditório e profundo: o ser humano.
Não sei tudo isso reverbera em você. Para mim, algo ficou muito claro: na interação com o outro, principalmente em se tratando de pessoas mais sensíveis ou desafiadoras, nossa bússola de ação, reação e decisão deve ser a resposta para a seguinte pergunta: “O que você quis dizer exatamente com isso?”.