Como usar IA para escrever – sem gerar textos genéricos demais
As novas tecnologias podem ser uma mão na roda – o segredo é adotá-las com senso crítico. Veja sete maneiras de usar tais ferramentas na comunicação.

Você saberia identificar um texto escrito com uma ferramenta de inteligência artificial? E mais: saberia reescrevê-lo para aprimorar e adaptar ao seu público?
Para quem atua no RH, essas perguntas não são mais hipotéticas. Com a chegada meteórica do ChatGPT, do Microsoft 365 Copilot, do Gemini e afins, usar inteligência artificial tornou-se algo tão comum que alguns profissionais se perguntam como sequer trabalhavam antes dela.
Esse fenômeno, porém, ainda causa reações antagônicas. Há quem se deslumbre com as possibilidades; há quem use a tecnologia em segredo, com medo de julgamentos; e há quem resista à novidade.
É compreensível. O uso apressado da inteligência artificial, sem curadoria, tende a gerar textos genéricos e superficiais. E os leitores percebem. Fica evidente quando há pessoas envolvidas… ou não.
A alternativa mais sensata
O caminho mais produtivo não é o da empolgação sem críticas nem o da recusa sistemática. É o caminho do uso consciente, que envolve reconhecer a inteligência artificial como uma realidade, buscar repertório confiável e testar possibilidades.
Ao explorar essas ferramentas, percebemos que elas são eficazes para estruturar ideias, revisar grafia, sugerir formas de começar um texto ou condensar informações extensas. Isso pode ser libertador. Ao delegar tarefas mais mecânicas à máquina, abre-se espaço para pensar melhor, escolher palavras com mais propósito e construir argumentos com mais clareza.
No contexto organizacional, essa eficiência tem impacto direto. Segundo dados da Microsoft, profissionais gastam 8,8 horas por semana, em média, apenas lendo e respondendo e-mails. O problema, muitas vezes, é a baixa qualidade das mensagens: longas demais, pouco claras ou sem direcionamento.
A inteligência artificial pode ajudar nisso – mas não substitui a responsabilidade de quem escreve.
IA exige letramento
Saber usar a inteligência artificial é diferente de compreendê-la. Como alerta o pesquisador Diogo Cortiz, não basta conhecer a interface de uma ferramenta. É preciso entender o que está por trás dos modelos, seus vieses, riscos e modos de operação. No Brasil, o consumo de conteúdo digital cresce mais rápido que o letramento digital – e essa lacuna é perigosa.
Lucia Santaella, referência no debate sobre tecnologias da inteligência, também destaca a necessidade de equilíbrio. O impacto da IA na educação, na ciência e na comunicação é irreversível e exige novas lentes de análise.
O que muda para o RH?
Para quem elabora mensagens internas, políticas, campanhas e conteúdos voltados a diferentes públicos, a IA pode ser uma parceira estratégica. Abaixo, algumas práticas para aproveitar esse potencial:
- Simule hipóteses de abordagem. Experimente diferentes formas de iniciar ou enquadrar uma comunicação delicada. Compare tons e reações possíveis antes de definir sua linha narrativa.
- Adapte o texto para públicos diversos. Escreva para a liderança, para áreas operacionais e para pessoas de diferentes regiões. A IA ajuda a ajustar o vocabulário, o ritmo e o tom com agilidade.
- Revise com múltiplas lentes. Além da gramática, revise com foco em clareza estratégica, impacto emocional e risco reputacional. A IA pode apontar inconsistências que passariam despercebidas.
- Transforme dados em narrativas. O RH trabalha com dados sobre clima, engajamento e saúde mental. Use a IA para traduzir isso em relatórios e campanhas com mais propósito e conexão.
- Antecipe dúvidas e reações. Peça à IA para simular perguntas ou resistências que possam surgir após o envio de um comunicado. Isso ajuda a tornar a comunicação mais completa e transparente.
- Experimente diferentes ferramentas. Compare respostas entre ChatGPT, Gemini, Writesonic, Skriptor ou Notion AI (se disponíveis em sua organização). Avalie qual entrega mais valor para o seu contexto.
- Mantenha a autoria e o senso crítico. Refine, edite, avalie. A IA propõe, você decide. Quem assina o texto continua sendo você.
O RH na era da curadoria
A escrita (e a comunicação como um todo) nunca foi neutra. Com a IA, ela se torna ainda mais responsabilidade de quem comunica. A intenção, a curadoria e o senso crítico ganham mais peso.
Em tempos de transformação acelerada e incertezas sobre o futuro do trabalho, talvez a pergunta mais coerente não seja “devemos usar IA?”, mas “como continuar escrevendo com consciência, ética e humanidade?”.
Como afirma Lucia Santaella, a educação que precisamos não visa apenas formar profissionais empregáveis, mas pessoas curiosas, abertas às diferenças e capazes de pensar com profundidade. É esse tipo de educação que deve nos orientar também ao escrever com a inteligência artificial.