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Estes são os profissionais que vão definir o futuro da medicina

Telemedicina, órgãos artificiais, edição de genes e robôs. Até 2022, serão injetados 280 bilhões de dólares por ano no segmento

Por Michele Loureiro, da VOCÊ S/A
Atualizado em 5 dez 2020, 20h56 - Publicado em 29 Maio 2019, 06h00

Os investimentos em empresas de tecnologia só crescem. E na saúde não é diferente. Segundo um levantamento global da consultoria Deloitte, os aportes nos negócios inovadores desse segmento terão incremento de 15,8% nos próximos três anos. Até 2022, serão injetados 280 bilhões de dólares por ano em companhias que apresentarem soluções para que as pessoas vivam mais — e melhor.

De fato, o mundo carece de ideias inovadoras e escaláveis que supram as necessidades médicas de populações carentes e periféricas. Um estudo conduzido pela Comissão de Saúde Global de Alta Qualidade, financiada pela Fundação Bill e Melinda Gates, estima que 1,6 milhão de cidadãos em países de renda média e baixa morram por ano por falta de acesso a serviços médicos.

No Brasil, embora os gastos com saúde consumam 8,9% do PIB, falta atendimento em centenas de pequenos municípios distantes dos centros urbanos.

Nesse contexto, ganha especial destaque a telemedicina — atendimento a distância mediado por plataformas tecnológicas. O setor ainda é considerado digitalmente atrasado, já que a maneira como os serviços de saúde são oferecidos mudou pouco nas últimas décadas.

Para ser atendido, seja no sistema público, seja no privado, a pessoa precisa agendar consulta, marcar horário de acordo com a disponibilidade do profissional e sair de casa para ir até a clínica ou o hospital.

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“O médico tradicional está para o taxista como o motorista de Uber está para a telemedicina. É preciso mudar a forma de trabalhar, acompanhando as necessidades do mercado e dos pacientes. Cada vez mais os tratamentos vão se adequar a um modelo que mescla o mundo real com o vir­tual”, diz Enrico De Vettori, responsável pela área de saúde da consultoria Deloitte.

Mas, se a transformação, por um lado, é inevitável, por outro, envolve grandes desafios. A regulamentação é a principal delas. A própria telemedicina tem gerado discussões acaloradas no Brasil.

O conceito ganhou notoriedade por aqui em fevereiro deste ano, quando o Conselho Federal de Medicina (CFM) propôs liberar a prática no país. Apesar de, em tese, muitos médicos já utilizarem telefonemas, chamadas de vídeo ou mensagens no WhatsApp para esclarecer dúvidas, conselhos regionais, sindicatos médicos e associações de especialistas se manifestaram contra a telemedicina.

Entre outras razões, é apontado que o atendimento virtual enfraquece a relação entre médico e paciente e alegam que é necessário garantir, num primeiro contato, o exame clínico presencial. Após a polêmica, o CFM voltou atrás e abriu consulta pública sobre o assunto (ainda não há parecer).

Em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e Israel, a medicina a distância já é realidade. Nesses lugares, o paciente compra uma consulta pelo aplicativo e fala com o médico em tempo real por vídeo.

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Além disso, dispositivos móveis são usados para aferir a pressão arterial, fazer eletrocardiograma e até examinar a garganta. Com isso, o médico faz uma análise remota e prescreve a medicação, que pode ser enviada diretamente a uma farmácia ou ser entregue em casa.

Segundo Chao Lung Wen, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e chefe da disciplina de telemedicina, a modalidade só funciona quando integra o raciocínio médico aos recursos digitais para aumentar a assertividade do diagnóstico. Apesar das ressalvas, ele acredita que essa vertente é um caminho sem volta. “Ela promove maior agilidade e acessibilidade”, diz.

Na visão do especialista, sair de casa para enfrentar um pronto-socorro abarrotado só deve acontecer em casos de real emergência. O especialista exemplifica como problemas simples poderão ser solucionados a distância: usando um smartphone com otoscópio agregado, os pais examinam o ouvido da criança, e a imagem é compartilhada em tempo real com o pediatra, que dá orientação por teleconferência.

“Até 2025, a incorporação da telemedicina na prática diária exigirá novas competências e familiarização no uso de tecnologias. Os profissionais precisam fazer cursos de atualização na área”, diz Chao. Para ele, conhecimento em ética e segurança da informação também será fundamental para quem for trabalhar com saúde no futuro.

 

 

MEU AMIGO ROBÔ

Foto: Germano Lüders ()

A rotina de Rafael Coelho, de 40 anos, urologista especialista em cirurgia robótica do Hospital 9 de Julho, não poderia ser mais tecnológica. Ele foi o primeiro brasileiro a ser habilitado a realizar cirurgias de remoção de próstata com robô e já fez mais de 2 600 operações com auxílio das máquinas.

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“Quando me formei, a tecnologia estava começando a ganhar espaço nos Estados Unidos. Decidi ir para lá e aprender sobre os robôs”, diz. Três anos depois voltou ao país e já era referência no assunto.

Poucos hospitais brasileiros possuem os androides e cerca de 20 médicos estão habilitados a operá-los no país todo. Segundo ele, os robôs que ajudam na remoção da próstata, devido ao câncer na região, tornam o processo mais assertivo e seguro.

“Eu comando o dispositivo, mas as pinças dele têm movimentos que as minhas mãos não fazem. É uma união de esforços”, diz. O urologista atende pacientes no Hospital 9 de Julho, em São Paulo, que agora está com uma nova tecnologia, a HIFU, uma espécie de ultrassom para combater o câncer de próstata em estágio inicial.

“Fiz uma especialização na Europa e esse procedimento menos invasivo é mais um avanço da tecnologia”, afirma. Para ele, a falta de acesso do setor público aos equipamentos de ponta é o maior desafio. “Popularizar essa tecnologia e ter mais profissionais habilitados seria muito importante para os pacientes”, diz.

FORÇA IRREFREÁVEL? 

Enquanto alguns defendem que a regulamentação excessiva desencoraja a inovação do setor, outros afirmam que a liberação sem freios da tecnologia na medicina pode causar risco de morte (aos pacientes) e desemprego (entre os profissionais). Os argumentos contrários vão da falta de segurança no diagnóstico ao fato de o atendimento digital ser menos humano que o pessoal.

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Enquanto as discussões acontecem, a evolução tecnológica segue seu próprio ritmo. Hoje, órgãos artificiais são produzidos em impressoras 3D, adesivos eletrônicos efetuam eletrocardiograma, avaliam a função respiratória e conferem o teor de açúcar no sangue, transmitindo os resultados por meio do ­Bluetooth, e as casas já monitoram a saúde de seus moradores.

Engenheiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, modificaram um roteador sem fio de modo a capturar sinais vitais e o padrão de sono das pessoas que vivem ali. Os robôs-enfermeiros também estão a todo vapor.

Em hospitais no Japão, eles fazem triagem dos pacientes, indagando os sintomas e acessando os registros médicos disponibilizados na internet — há até um humanoide capaz de confirmar por ultrassom a veia mais adequada à retirada de sangue ou colocar um acesso intravenoso.

Em alguns países da Europa, os robôs são usados como cuidadores, para erguer e mover pacientes, e assistentes de fisioterapia, para auxiliar nos exercícios físicos.

Mesmo com tudo isso, de acordo com Anurag Gupta, analista da consultoria de mercado Gartner, os funcionários de carne e osso devem continuar relevantes. “A capacidade da maioria dos profissionais de saúde será reforçada pelo digital, não substituída”, diz.

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ABRINDO FRENTES

Foto: Marcelo Almeida ()

O infectologista Bernardo Almeida, de 35 anos, é o retrato do novo profissional da medicina. Atualmente, ele divide seu tempo entre um hospital particular no qual dá plantões, o consultório, o mestrado no departamento de doenças infecciosas da Universidade Federal do Paraná e o trabalho como diretor médico da startup Hi Technologies, que inventou o Hilab, aparelho que detecta em 15 minutos, a partir de uma gota de sangue, 80 doenças.

“Comando a equipe de laboratório e lidero a comissão científica de qualidade. Trabalho com banco de dados e desenvolvimento tecnológico”, diz Bernardo.

A função exigiu especialização em áreas fora da saúde. “Aprimorei meus conhecimentos em programação, data science e inteligência artificial. São frentes que agregam à área médica e abrem um mundo de possibilidades”, afirma.

Hoje, Bernardo é um dos 88 funcionários da Hi Technologies, que foi fundada em 2004 em Curitiba (PR) e deve triplicar de tamanho até 2020 — três grupos de investidores que já aportaram dinheiro em empresas como 99, Rappi e Yellow estão injetando recursos na companhia.

“Nosso produto é promissor, porque agiliza o acesso a exames em regiões distantes”, diz.

MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA

Estudiosos acreditam que no futuro a medicina dever focar menos o tratamento de doenças e mais a prevenção. E não faltará oportunidade para médicos capazes de conduzir essa mudança, inclusive aqueles com veia empreendedora e ideias para solucionar gargalos.

Para Giovana ­Tarnovschi, gerente sênior da Michael Page, consultoria de recrutamento de São Paulo, houve aumento no último ano da demanda por posições em empresas de saúde com foco em inovação e tecnologia.

“Quem atua na saúde e tem capacitação e experiência nessas áreas já recebe um salário 30% maior”, afirma.

Caio Arnaes, gerente sênior de recrutamento da Robert Half, outra consultoria que registrou alta nas vagas do setor de saúde, descreve as funções com aumento de procura: “Há posições de big data, desenvolvimento de soft­ware e gerenciamento de projetos”.

Além do pessoal de TI, entram na lista especialistas em genética, cuidadores de idosos e geriatras. Isso porque, em 2030, haverá o mesmo número de crianças e idosos, de acordo com projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Também é consenso entre os recrutadores que crescerá a busca por médicos que dominem a área de ­e-care (gestão e promoção de saúde) e tenham conhecimento técnico em dispositivos de atendimento residencial.

“O perfil que as empresas da saúde buscam é o do médico que vai além da medicina, enxergando a importância das áreas de apoio do hospital, como tecnologia, finanças e marketing”, diz João Marcio Souza, CEO da Talenses Executive, empresa especializada em recrutamento de alta liderança.

No futuro, o médico de jaleco branco e estetoscópio no pescoço deverá ficar apenas na memória.

 

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