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Os segredos empresariais de Mauricio de Sousa

Confira um trecho do livro "Crie de Manhã, Administre de Tarde" e saiba um pouco de como Mauricio gerencia seu império, há 60 anos.

Por Redação
Atualizado em 24 out 2024, 09h06 - Publicado em 3 Maio 2024, 13h07
Capa do livro "Crie de Manhã, administre à tarde", com uma fotografia do Maurício de Souza, homem idoso de cabelos brancos.
 (Montagem sobre reprodução/VOCÊ RH)
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Um dia ideal da escritora Ursula K. Le Guin começava às 5h30 da manhã. Ela ficava na cama, pensando, até tomar café às 6h15. Depois, tentava focar no trabalho durante toda a manhã – o período entre 7h15 e meio-dia servia para “escrever, escrever, escrever”. À tarde, para outras atividades: correspondência, trabalho doméstico, leitura e música. Das 20h em diante? Um mistério: “Eu tendo a ser bastante estúpida”, ela afirmou em uma entrevista de 1988. “E nós não vamos falar sobre isso.”

Não existe um momento do dia, comum a todos nós, em que a criatividade esteja no auge. Ela depende de vários fatores, como seu relógio biológico e a confiança na sua capacidade de bolar algo decente. Mas é fato que, além de Le Guin, uma porção de escritores – como Haruki Murakami, Sylvia Plath, Oliver Sacks e Toni Morrison – é conhecida por concentrar esforços de criação ao longo das manhãs. E foi este conselho que outro grande artista, Mauricio de Sousa, recebeu de seu pai: crie de manhã. E administre de tarde.

Essa lição foi tão incorporada pelo quadrinista que virou título de um livro, lançado em novembro, que conta a história de Sousa na sua faceta de empreendedor. Crie de Manhã, Administre de Tarde conta os segredos empresariais do homem que vendeu 1,2 bilhão de gibis e criou não só a Turma da Mônica, mas um império: a Mauricio de Sousa Produções (MSP). 

A obra, assinada também por Renata Sturm e Guther Faggion, destrincha os valores dessa empresa de 64 anos – e revela como o artista, que começou a trabalhar ainda criança como engraxate em Mogi das Cruzes (SP), chegou aonde chegou. Confira um trecho:

Capítulo 6: O valor da gestão – sem perder a intuição

Foi em um dia qualquer, quando Mauricio estava concentrado em suas criações, que seu pai, com um olhar orgulhoso, se aproximou e compartilhou algumas palavras que ecoariam em sua mente pelo resto da vida: “Filho, estou observando que você está se encaminhando para a arte. Faça o seguinte então: desenhe de manhã, e à tarde administre o que está fazendo”.

Aquelas palavras, pronunciadas de maneira despretensiosa, foram como sementes lançadas em terra fértil. Mauricio as acolheu e, de maneira quase inconsciente, passou a trilhar um caminho estratégico, adotando uma abordagem profissional em sua produção, se preocupando com prazos e orçamentos ao mesmo tempo que contribuía com as despesas da casa. É importante refletir que Mauricio começou a trabalhar desde criança e já ajudava a pagar o aluguel. Diante disso, o quadrinista ressalta que eram outros tempos e que a MSP apoia diversas campanhas contra o trabalho infantil. Aos poucos, ele abraçou uma abordagem mais madura, entendendo que o talento não bastava por si só. A partir daquele momento, começou a assumir o controle administrativo e responsável de sua produção artística.

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Enquanto grandes ilustradores brasileiros que tiveram fama no passado perderam visibilidade no imaginário do público ao longo do tempo, Mauricio atravessou gerações, conquistando ainda mais adeptos, e assim permanece relevante até os dias atuais. O mérito, no entanto, não é apenas de sua arte em si, mas sobretudo de sua visão empreendedora. A grande diferença está no fato de que esses ilustradores eram artistas, enquanto Mauricio se tornou um artista empreendedor.

[…] A gestão desempenha um papel fundamental na história de sucesso da MSP, principalmente quando falamos de perenidade e concorrência. Mauricio não apenas criou histórias cativantes, mas também pensou em como expandir sua arte em escala, compreendendo a importância de estabelecer uma estrutura sólida, capitalizar suas criações e descentralizar o processo criativo. Essa abordagem foi, de certa forma, semelhante à estratégia adotada pela Disney, nos Estados Unidos, e teve uma ressonância significativa.

Mas implementar essa visão não foi uma tarefa fácil. Ele teve que arcar com custos consideráveis, pois imagine só um autor que decide compartilhar suas histórias e permitir que outros artistas criem dentro do universo que ele mesmo criou! 

Além disso, Mauricio teve que desafiar o paradoxo de preservar a sua arte em um lugar intocável, sagrado e valorizado pelos críticos intelectuais para expandi-la para o universo mainstream e transformá-la em produto atrativo e uma fonte de receita lucrativa. Isso exigiu uma mudança drástica e corajosa, mas mostrou-se fundamental para o sucesso contínuo da MSP.

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Assim como é marcado por desafios e crises políticas, executivas e jurídicas, o empreendedorismo também enfrenta crises pessoais.

Os episódios decisivos na carreira de Mauricio foram precedidos pela sua gana em buscar sempre pelo melhor, que, para ele, nunca foi gastar a fortuna viajando para as mais belas praias, mas continuar na caça por novas oportunidades. Suas escolhas determinantes encontram-se alicerçadas em sete pilares estratégicos: a descentralização do negócio, o licenciamento de produtos, a proteção dos direitos autorais, a compreensão do seu público, o contato direto com ele, a internacionalização e a constante inovação.

[…] Sempre atento às grandes oportunidades

Desde Flash Gordon até os monstros clássicos, como Drácula e Frankenstein, Mauricio criou uma versão brasileira de personagens do terror com a Turma do Penadinho, inserindo sua própria identidade e colocando o DNA brasileiro neles. Ele diz que é necessário dançar conforme a música: se há um hit lá fora fazendo sucesso e você não faz a mínima ideia de como dançar, crie sua própria coreografia. A gestão eficiente de uma empresa passa pela capacidade de inovar, de se adaptar às mudanças do mercado e de manter todo esse espírito empreendedor.

Como já mencionado aqui, para ele a inovação não é um objetivo em si, mas parte intrínseca de sua natureza criativa. Como um artista que sempre busca aprimorar sua obra, ele enxerga maravilhas em tudo o que observa. Se algo pode ser melhorado, ele sente o impulso de mudar e deixar sua marca no mundo. Mesmo durante suas férias, quando deveria estar descansando, ele está constantemente atento a possibilidades e oportunidades que surgem à sua frente. Assim como a história da maçã que inspirou Isaac Newton, o empreendedorismo é uma força que não pode ser contida.

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As maçãs da Turma da Mônica são um exemplo claro disso. “Com todo respeito à Bíblia, mas quem inventou essa maçã fui eu”, disse Mauricio, com humor. Quando seus filhos eram pequenos e frequentavam a escola, ele notou que as maçãs comercializadas na época eram grandes demais para as lancheiras e, muitas vezes, as crianças acabavam desperdiçando metade da fruta. Foi durante uma viagem despretensiosa a uma fazenda em Santa Catarina, conhecida por sua produção de maçãs, que Mauricio descobriu algo que poderia mudar tudo.

Ele se deparou com árvores carregadas de maçãs pequenas, que não eram comercializadas devido ao seu tamanho. Intrigado, Mauricio questionou o dono da fazenda sobre o destino das frutas. A resposta foi surpreendente: elas eram destinadas aos animais, pois não atingiam o tamanho comercial adequado.

Foi nesse momento que a ideia surgiu em sua mente inquieta: Mauricio percebeu que aquelas maçãs pequenininhas caberiam perfeitamente nas lancheiras das crianças, além de serem tão saborosas quanto as tradicionais. Ele viu uma oportunidade de introduzir uma nova forma de consumo da fruta no mercado. Determinado a transformar sua ideia em realidade, Mauricio propôs uma parceria com o dono da fazenda. Essa iniciativa pioneira foi um sucesso instantâneo. Antes desse licenciamento, as maçãs pequenas não eram comuns. No entanto, graças à Turma da Mônica, o hábito de consumir a fruta em tamanho reduzido se popularizou.

Hoje, quando as maçãs de Santa Catarina são colhidas e enviadas para todo o Brasil, a demanda é tão alta, que são necessários três ou quatro vagões de trem para transportá-las. A maçã da Mônica mudou definitivamente os padrões de consumo da fruta, transformando-se em um marco na indústria, com uma produção de 1,7 mil toneladas e uma venda de 850 mil pacotes por mês.

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A preocupação de Mauricio com a lancheira que não comportava a maçã resultou em uma inovação de sucesso. Sua visão empreendedora e capacidade de identificar uma necessidade no mercado foram fundamentais para criar um hábito de consumo e conquistar um espaço importante na indústria de alimentos.

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Este texto faz parte da edição 91 (abril/maio) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.

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