São Paulo – No momento em que o Brasil se prepara para enfrentar o pico de infecções por coronavírus já surgem dúvidas sobre o tamanho do impacto da pandemia no já combalido mercado de trabalho.
Haverá mais demissões? O desemprego vai aumentar? Ontem o governo reduziu a projeção do PIB de 2020 de 2,4% para 2,1% por conta do surto global da doença que já matou mais de 4 mil pessoas.
O clima de pânico parece instalado no mercado financeiro, pela 4ª vez nesta semana a Bolsa de Valores B3 acionou o mecanismo de circuit breaker, que interrompe negociações por 30 minutos quando a queda do índice Ibovespa chega a 10% e por 30 minutos quando a queda alcança 15%. As negociações na Bolsa podem ser interrompidas por tempo indeterminado caso a queda seja de 20%.
O clima é de incerteza e novas informações surgem a cada momento. O governo de São Paulo trabalha com a possibilidade 45 mil casos da doença nos próximos quatro meses. “A preocupação é legítima, mas, da nossa, parte, ainda não sentimos impacto”, diz Lucas Oggiam, diretor da Michael Page, consultoria de recrutamento. Ele afirma que nenhum dos seus clientes ou parceiros declarou intenção de demitir ou fechar vagas de emprego.
Renê Guedes, chefe de operações da STATO, consultoria de transição de carreira, recrutamento e seleção, também não viu ainda nenhum movimento de demissão nas empresas. “Mas tentar projetar os impactos com esse nível de incerteza que estamos vendo é um exercício de futurologia com o qual eu não estou acostumado”, diz Renê, que é engenheiro por formação. Mas ele não descarta situação semelhante à que ocorre na Itália e acredita que cadeias produtivas e companhias que dependem de mão de obra intensiva serão as mais afetadas.
Caso uma quarentena seja decretada, o impacto na economia será brutal, segundo Renê. Ele também vê no horizonte problemas de abastecimento de linhas de produção de indústrias brasileiras que dependem de componentes fabricados na China.
Por ora, o que se vê é a preocupação com novas contratações de profissionais da área de saúde. O Ministério da Saúde lançou editais para contratar 5 mil médicos pelo programa Mais Médicos, do Sistema Único de Saúde (SUS). O contrato de trabalho será de um ano.
Home office e viagens suspensas
Em cidades como São Paulo, empresas, como a XP Investimentos já implementam home office para funcionários, para evitar contaminação. Isso porque dois funcionários da XP foram diagnosticados com coronavírus.
Viagens a trabalho estão suspensas em muitas companhias. No Brasil, a lei trabalhista responsabiliza o empregador que enviar o funcionário para trabalhar em um país atingido por uma epidemia, como a de coronavírus. “Havendo a contaminação desse trabalhador, a empresa será responsável pelo custeio de todo o tratamento, além de indenizações tais como por danos materiais e morais”, explica a advogada Adriana Pinton, sócia de Granadeiro Guimarães Advogados. Se houver incapacidade de trabalho por mais de 15 dias, o protocolo é o de afastamento previdenciário. A empresa também é responsável por todos os custos de estadia e salário de um empregado que fique em quarentena.
“É um teste para cultura de produtividade de trabalho remoto que ainda é pouco difundida no Brasil”, diz Lucas, da Michael Page. O escritório da consultoria na China chegou a ficar um mês fechado e todos os funcionários ficaram trabalhando de casa. Ele garante que não houve mudanças na produtividade. “Tudo que tinha que ser realizado na China foi realizado”, diz. A dica do diretor da Michael Page para os profissionais e empregadores é redobrar cuidados com a saúde e apostar na flexibilidade para garantir as entregas.
No caso de uma quarentena, haverá impacto nos salários?
Advogada explica se haverá impacto no salário de quem não conseguir trabalhar caso seja decretada quarentena no Brasil, nos moldes do que acontece na Itália:
Se tiver quarentena, os dias não trabalhados serão descontados do salário?