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Headhunter revela como os recrutadores percebem as mentiras dos candidatos

Isis Borge, diretora na Talenses e colunista de VOCÊ S/A, explica quais são os sinais em que os entrevistadores prestam atenção

Por Elisa Tozzi
Atualizado em 5 dez 2020, 20h54 - Publicado em 8 jul 2020, 10h00

Mentiras no currículo vieram à tona nos últimos dias com o caso do ex-ministro da Educação Carlos Decotelli, que listava em seu lattes títulos acadêmicos que não havia conquistado. Mas o que leva os profissionais a mentirem no currículo ou durante uma entrevista de emprego? De acordo com Isis Borge, diretora da divisão de recrutamento em Engenharia, Supply Chain, Marketing e Vendas da Talenses e colunista de VOCÊ S/A, as explicações vão de insegurança a desvio de caráter.

Nesta entrevista, ela explica por que florear o currículo ou exagerar nas experiências durante o processo seletivo podem manchar para sempre a reputação de um profissional.

Vivemos em uma época em que checar informações é algo fácil de ser feito. Mesmo assim, as pessoas ainda tentam enganar os recrutadores nos processos seletivos?

A maioria dos profissionais é idônea, mas mentir é mais comum do que a gente pensa. Os headhunters pegam muitas situações dessas, infelizmente. Há desde coisas menores, como colocar um nível acima do idioma – que, em alguns casos, acontece por puro desconhecimento por parte do profissional. Mas ocorrem situações bem críticas. Já vi casos de pessoas mentirem a idade em vários anos de diferença e mentirem que fizeram cursos nos quais nem se matricularam. Uma das mais comuns é emendar a data de saída e de entrada nas empresas no CV, para não assumir que ficou um período desempregado. Quando pegamos isso, normalmente os candidatos se fazem de sonsos, dizem que erraram – mas é algo bem corriqueiro. Os candidatos mentem por conta de seus próprios preconceitos e perdem as vagas.

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A avaliação das habilidades comportamentais fica prejudicada em um caso de mentira?

Com certeza, ninguém quer trabalhar com alguém que mente. As pessoas deveriam ser mais genuínas e entender que, embora as empresas olhem para as hard skills, de formação acadêmica e cursos, as soft skills são muito valorizadas – ainda mais em recrutamentos às cegas feitos para evitar vieses inconscientes.

Como os recrutadores percebem uma mentira?

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A gente checa todas as informações do currículo e, pela experiência, você percebe se tem alguma inconsistência no discurso durante a entrevista. Notamos se mudou a entonação da voz, se a pessoa ficou desconfortável, por exemplo. Aí sabemos que pode ter alguma coisa errada naquela passagem específica, checamos e, em alguns casos, pegamos a mentira. Na checagem, quando falamos com ex-colegas e chefes, descobrimos se alguém mentiu sobre o tamanho da equipe, sobre o escopo da responsabilidade e sobre as experiências.

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Por que as pessoas mentem?

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São vários fatores. Há desvios éticos, insegurança ou falta de confiança de que o candidato tem a capacitação para aquela vaga. Além disso, a pessoa pode estar passando por uma situação difícil (com um chefe ou na própria empresa) e estar com tanta vontade de sair que faz de tudo para que o CV caiba na vaga. O principal estigma que as pessoas têm é que precisam ser um super-herói para conquistar o emprego, mas não é assim. O que vale mais são o propósito e a vontade de entrar no desafio. É o famoso brilho no olho. Muitas vezes a gente entrega um CV para um gestor e ele acha que aquela ali é a pessoa certa. Só que, durante a entrevista, as percepções mudam por causa do comportamental. O candidato com o melhor CV nem sempre brilha os olhos.

A crise aumenta o risco das mentiras?

Eu acho que sim. Por isso é importante alguém experiente conduzindo o processo para checar tudo: referências, networking. Não há tanta empresa contratando e as pessoas desempregadas estão com os nervos à flor da pele. Mas quem tem a tendência mente no momento em que o mercado está bom ou ruim.

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Algumas companhias pedem que os candidatos montem estudos de caso, escrevam redações ou conduzam apresentações sobre um tema específico. Plágios acontecem nessas situações?

Podem acontecer, sim. É um desvio na personalidade e aquele comportamento de ir pela lei do mínimo esforço. Não é legal e as pessoas percebem, ainda mais numa apresentação. Fica claro que o candidato não sabe muito bem do que está falando, não tem o domínio sobre aquele tema.

Qual a situação mais inusitada envolvendo uma mentira de candidato que você presenciou?

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Eu estava conduzindo um processo e chegou o momento de testar o inglês. Perguntei se poderíamos falar em inglês, ele fingiu que estava com um problema técnico e desligou o telefone. Logo depois, retornou, mas era outra pessoa na linha, com outra voz. Aí desligou de novo e voltou o candidato. Não precisa fazer isso, a gente percebe. E se não percebe na entrevista, o gestor percebe depois porque você vai ter que usar as competências que está dizendo que possui no dia a dia do trabalho. Uma vez que a pessoa mentiu, se queimou de maneira profunda porque deixamos de confiar. E tudo começa com a premissa da confiança.

Se o candidato for pego, tem algum jeito de limpar a barra?

Só como lição aprendida para o próximo processo, pois o processo atual está perdido.

Falamos muito em ajustar o currículo de acordo com cada vaga, como fazer isso sem florear as experiências?

Ao longo da carreira, as pessoas têm muitas atividades e não dá para listar todas elas detalhadamente no CV. Mas sabendo qual é a vaga, é possível enfatizar as experiências que fazem mais sentido para aquela função. Por exemplo, um gerente financeiro porte pode se candidatar a uma vaga de CEO de  uma empresa de pequeno ou médio porte colocando o enfoque em atividades generalistas e de gestão que viveu. Ou pode se candidatar a uma vaga de CFO focando as experiências em finanças. Alguém de marketing que migrou para vendas pode ajustar seus objetivos para uma voltar ao marketing. O que não pode acontecer é um gerente de compras, que nunca trabalhou em logística, dizer que tem experiência na área, por exemplo.

Qual é o impacto de uma mentira para o processo seletivo?

Depende do estágio. Se for no começo, é baixo. Mas se for na parte da admissão, pode ser grande. Vi um caso de o candidato que mentiu na remuneração durante o processo. Na hora de contratar, o RH percebeu a informação errada na carteira de trabalho e questionou o profissional. Ele disse que a antiga empresa devia ter esquecido de atualizar a carteira. A contratante ligou para a outra companhia e descobriu que a informação estava correta. Resultado? A admissão foi cancelada. O impacto foi enorme, tanto para a empresa, que teve que recrutar de novo, quanto para o candidato, que ficou marcado para sempre.

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