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Veja as carreiras mais quentes e com os salários em alta para 2020

O Guia Salarial da consultoria de recrutamento Robert Half, divulgado com exclusividade pela VOCÊ S/A, mostra as tendências do mercado para 2020

Por Alexa Meirelles e Juliana Américo
Atualizado em 5 dez 2020, 20h55 - Publicado em 3 out 2019, 06h00
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  • Carreiras quentes (Getty Images/VOCÊ S/A)

    economia brasileira continua em maus lençóis. Na primeira quinzena de agosto, por exemplo, a prévia do produto interno bruto (PIB) registrou retração de 0,13% no segundo trimestre do ano, fazendo com que o país entrasse no que os economistas chamam de “recessão técnica” — quando o indicador apresenta diminuição por dois trimestres seguidos mas ainda existe a possibilidade de recuperação no curto prazo.

    Porém, há um indício de mudança de cenário: o PIB de 2019 cresceu 0,4% no segundo trimestre por causa da alta de 0,7% na indústria, de 0,3% no setor de serviços e de 0,3% no consumo das famílias.

    Essa pequena melhora, no entanto, ainda não impactou a oferta de vagas de emprego. A taxa de desocupação no segundo trimestre foi de 12%, o que representa 12,8 milhões de pessoas desempregadas, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

    Esse cenário é retratado, também, no Guia Salarial da Robert Half, que traz as expectativas para 2020 — que é divulgado com exclusividade por VOCÊ S/A. A pesquisa da consultoria de recrutamento revela, por exemplo, que apenas 23% dos desempregados perceberam aumento no número de oportunidades de emprego no último ano.

    “Infelizmente, a gente vive essa expectativa de ‘o ano que vem vai ser melhor’ já faz um tempo. Se a economia melhorar e se isso for sentido no primeiro semestre de 2020, talvez no segundo semestre a gente comece a perceber uma mudança positiva, mas é bem pouco provável ter movimentações com ofertas salariais muito agressivas”, explica Fernando Mantovani, diretor da Robert Half no Brasil.

    Em contrapartida, mesmo com os tempos difíceis, 51% dos profissionais ouvidos pela consultoria receberam algum tipo de oferta de trabalho.

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    Independentemente do setor, todos os profissionais precisam estar preparados para a transformação digital, uma vez que a tecnologia deixou de ser exclusividade da área de TI e está esbarrando em todas as carreiras.

    A pesquisa ainda indica que aqueles que querem se recolocar ou mudar estão mais flexíveis em relação ao tipo de contrato. Isso porque 68% dos desempregados e 50% dos que estão trabalhando trocariam um emprego fixo por projetos temporários.

    No entanto, por mais que a indústria defenda que essa é uma maneira de aumentar a oferta de emprego, os profissionais precisam estar cientes de que esse tipo de contrato deixa de lado a maioria dos direitos trabalhistas.

    Nas próximas páginas, mostramos quais são as expectativas para seis áreas de atuação.


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    FINANÇAS E CONTABILIDADE

    De olho na tecnologia

    Com a expectativa de retomada econômica, as empresas que buscavam contenção de gastos ou renegociação de dívidas agora olham para suas áreas contábeis pensando em investimentos.

    A valorização desse setor, somada aos avanços tecnológicos, demanda um profissional de finanças mais “completo” porque a área contábil é estratégica e essencial para o negócio. Tradicionalmente, o contador tem um perfil mais técnico.

    Hoje, espera-se que ele tenha competências comportamentais, como visão de negócio, boa comunicação e capacidade de inovação. “Com as mudanças tecnológicas, esse profissional precisa migrar para um perfil mais arrojado. Ele acaba sendo a ‘mosca-branca’ no mercado, e aí eles puxam um pouco mais a régua do salário”, diz Marcela Esteves, gerente de recrutamento da Robert Half.

    A automação de processos exige que esse profissional tenha mais formações além da graduação, principalmente se trabalhar em alguma multinacional. Ainda se valoriza quem sabe falar inglês.

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    Especialistas avaliam que é difícil encontrar no mercado um contador que tenha o segundo idioma com fluência. “Estamos vivendo um mundo mais globalizado, temos desde 2010 a implantação e a convergência para os padrões contábeis internacionais”, diz Ricardo Rochman, professor de economia na FGV.

    “Neste mundo competitivo em que a gente vive, o contador que possui os dados na mão tem toda a possibilidade de ser uma pessoa-chave dentro dos negócios.”

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    Edymelson Aparecido, contador especializado em tecnologia | Foto: Omar Paixão

    ATUALIZAÇÃO CONSTANTE

    O paulistano Edymelson Aparecido, de 47 anos, dedicou toda a sua carreira ao setor de contabilidade. Fez curso técnico na área, gradua­ção em Ciências Contábeis e mestrado em Controladoria.

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    “Comecei em escritório de contabilidade em 1989. O trabalho naquela época era muito manual, o que atrasava os processos e gerava muitos erros”, afirma.

    Oito anos depois, ele precisou trabalhar com um projeto de SAP e viu a necessidade de se atua­lizar tecnologicamente. Os cursos de especialização permitiram que ele trabalhasse na implementação de projetos em empresas como Telefônica, Petrobras, Grupo Votorantim, Vale do Rio Doce, Gerdau, Unilever e Monsanto.

    “Com a evolução da tecnologia, eu precisei entender todos os processos para identificar onde eram feitos os lançamentos contábeis, como compras de insumos, estocagem e vendas. Isso permitiu deixar de realizar os lançamentos manuais e prover os gestores da empresa com informações mais detalhadas”, afirma.

    Hoje, Edymelson está fazendo um curso de Análise de Sistemas e pensa em iniciar um doutorado. “Depois de 26 anos de carreira, voltei para o banco da escola.”


    SEGUROS

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    Modernização urgente

    O mercado securitário brasileiro é jovem em comparação ao restante do mundo. Por isso, ainda é um tanto tradicional — mas há demanda para mudanças, principalmente quando se trata de transformação digital.

    “Existe um gap de profissionais que conheçam produtos inovadores, alguém que saiba mais do que apenas o seguro do carro, o de vida ou o funerário”, explica Ana Carla Guimarães, gerente de recrutamento da Robert Half.

    As posições com mais demanda ainda são as de subscrição e atuariais, dentro de análise, precificação e subscrição de risco. Além da capacidade de se adaptar ao digital e ter uma boa visão de negócio, especialistas destacam a importância do inglês.

    “Muitos perdem oportunidades por não falar o idioma. Como o mercado securitário pelo mundo é muito mais desenvolvido e antigo, os investidores vêm até o Brasil”, diz Ana Carla.

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    ENGENHARIA

    Busca por qualificados

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    Engenheiros em instalação elétrica: o setor de energia está em alta | Foto: Alexandre Battibugli

    Para 2020, a expectativa é que a demanda por profissionais da área de engenharia siga crescendo. Posições como as de coordenador de customer service, gerente de operações, engenheiro de aplicação, engenheiro de vendas, diretor de operações, gerente comercial, de planta e comprador estão em alta.

    Os setores da saúde, de bens de consumo, tecnologia e energia têm ofertado um bom número de vagas. No entanto, a maior dificuldade é encontrar profissionais suficientemente qualificados, tanto do ponto de vista técnico quanto do atitudinal.

    “A exigência é muito alta e isso não evolui proporcionalmente ao conhecimento e ao desenvolvimento de habilidades comportamentais dos candidatos. Isso faz com que os processos seletivos fiquem lentos ou não tenham sucesso”, diz Carolina Cabral, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

    O perfil facilitador, proativo e com senso de dono continua sendo visado. José Carlos de Souza Junior, reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, também destaca a importância da formação continua­da.

    “A tecnologia avança muito rapidamente. Se você não se mantiver atualizado, acabará ficando para trás em questões como data analytics e ciência de dados. Hoje, análise de dados é como eram o cálculo e a geometria analítica antigamente. Todo engenheiro tem de saber”, diz.

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    JURÍDICO

    Formação multidisciplinar

    Os escritórios e as empresas estão reforçando suas equipes. No momento, nos escritórios há mais demanda nas áreas de direito societário, tributário, contratos e fusões e aquisições.

    As empresas costumam demandar advogados mais generalistas, mas profissionais especializados em compliance têm sido visados.

    Para Maria Eduarda Silveira, gerente de recrutamento da Robert Half, o profissional mais cobiçado é aquele que, além de ser bom tecnicamente, tem visão de negócio. “Hoje os clientes precisam de advogados que saibam lidar com questões que não sejam necessariamente jurídicas.”

    Ser multidisciplinar é o melhor caminho. “Precisamos de pessoas que tenham formação em direito com outra área. Dentro dessas carreiras, tem ganhado destaque a formação jurídica com a área de ciência de dados.

    Essa é a nova tendência”, diz Brunno Giancoli, professor de direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para isso, ele recomenda os cursos de curta duração, que são mais rápidos e práticos.

    Brunno também ressalta competências valorizadas pelos recrutadores: a capacidade de lidar com pressão, negociação, comunicação, mediação e, por fim, visão de negócio. “Por isso, hoje, só ter a formação jurídica não é suficiente”, diz Brunno.

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    ÁREA ESTRATÉGICA

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    Foto: Leandro Fonseca

    A carreira da advogada Bruna Monteiro Bolzan, de 28 anos, sempre foi de generalista: ela era responsável por contratos, além de processos civis e trabalhistas. Fez estágios em alguns escritórios de advocacia e começou a trabalhar na Heineken Brasil em 2012, enquanto ainda estava na faculdade.

    Em 2016, ela fez um intercâmbio de seis meses na Austrália e, quando voltou, logo começou a trabalhar no departamento jurídico de uma empresa de seguros.

    No início deste ano, a diretora do setor propôs a ela a mudança para a área de compliance. “Foi bem desafiador, principalmente nos primeiros dois meses, porque eu não tinha experiência nenhuma com isso”, afirma.

    Mas o aprendizado não está vindo só da prática. Bruna está fazendo uma pós-graduação em Direito Empresarial e uma especialização sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ela afirma que a mudança permitiu que tivesse mais contato com outros setores da companhia e pudesse participar de assuntos estratégicos para o negócio.

    “O compliance tem o objetivo de ajudar a todos. É visto como um departamento parceiro em novos projetos e produtos.”


    VENDAS E MARKETING

    Hora de se especializar

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    Loja em São Paulo: bens de consumo oferecem oportunidades para profissionais de vendas e marketing | Foto: Germano Lüders

    Fortemente afetadas pela crise, as áreas de vendas e marketing apresentam um movimento de retomada. No setor de vendas, os recrutadores voltam a ser procurados para encontrar profissionais.

    Já as áreas de marketing das empresas passam por uma reestruturação e o destaque fica para o setor de marketing digital, que tem atraído muitos profissionais do mercado tradicional.

    “Há poucas opções de pessoas qualificadas, com experiência e domínio das tecnologias existentes. Ainda assim, nas pesquisas anteriores, falávamos muito de oportunidades no cargo de analista de marketing digital. Hoje já existe a demanda por coordenadores e até gerentes na área”, diz Carolina Cabral, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

    Edson Crescitelli, diretor da pós-graduação na ESPM, observa que, dentro dessa atuação, os profissionais tendem a ser mais analíticos e técnicos. “Como se preparar para esse desafio?

    Normalmente, fazendo uma complementação de formação, cursos de pós lato-sensu, MBAs e especializações. Mesmo quem é recém-formado deve buscar uma complementação nessa área para fazer frente à demanda de mercado”, avalia.

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    MERCADO FINANCEIRO

    Em crescimento

    O mercado financeiro está aquecido. O volume de contratações no setor subiu 40% em 2019 em relação a 2018 e a tendência é que em 2020 o número se mantenha ou cresça, porque as demandas seguirão latentes dentro do segmento.

    Há mais chance para quem é especializado em controles internos, compliance, auditoria e riscos — ainda mais nas instituições financeiras, que prezam muito pela parte regulatória. Ana Carla, da Robert Half, diz que, apesar da oferta de contratações, faltam pessoas devidamente qualificadas no mercado.

    “Procuramos um profissional com senso de urgência, visão de dono, perfil focado em resultados, que queira extrair o melhor de seu time.”

    Joelson Sampaio, professor de economia na Fundação Getulio Vargas (FGV), ainda destaca a necessidade de conhecimento em tecnologia e capacidade de resolver problemas complexos — e diz que o mercado financeiro está de olho em quem se graduou em economia.

    “Cada vez mais os economistas têm uma boa base quantitativa e uma boa capacidade analítica, o que antes eram características dos engenheiros. Por isso, existe uma demanda de posições a ser preenchidas por economistas.”

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    TECNOLOGIA

    Os queridinhos

    Tudo é tecnologia. Empresas que não falam em inovação para o negócio estão ficando para trás. Por isso, temos altas demandas em todos os níveis e posições na área de TI, principalmente em desenvolvimento”, diz Mariana Horno, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.

    Os especialistas em análise de dados também têm sido muito procurados. E o que mais atrai e engaja esses profissionais não é apenas salário, benefícios e a localização da empresa — eles buscam desafios e oportunidades para se desenvolver.

    O inglês ainda é muito valorizado, mas o diploma não é mandatório. José Carlos, reitor do Instituto Mauá de Tecnologia, destaca que, ainda que a gradua­ção na área nem sempre seja levada em conta pela empresa, é importante o profissional estudar e estar constantemente se atualizando.

    Não adianta ter expertise em somente uma linguagem de programação, por exemplo. “Às vezes você se especializa muito em algo. Se não se recicla, seu prazo de vida é muito curto. Pode ser que o mercado precise de você agora, mas amanhã não, porque aquela linguagem deixou de ser usada.”

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    NA ONDA DOS DADOS

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    Luís Moneda, cientista de dados da Nubank | Foto: Germano Lüders

    A carreira de Luís Moneda, de 30 anos, começou bem longe da tecnologia. Formado em economia, fez estágio no banco de investimento Credit Suisse, onde aprendeu a programar. “Antes, eu só trabalhava com Excel e achei esse negócio de programar muito legal, porque gostava da ideia de automatizar processos”, afirma.

    Assim que se formou, começou a graduação em Engenharia da Computação, mas acabou se decepcionando, porque esperava se tornar desenvolvedor. Foi quando decidiu trancar a faculdade e fazer cursos livres para se especializar em desenvolvimento mobile e web — e se apaixonou por machine learning.

    “O curso juntava tudo o que eu gostava tanto de economia quanto de programação, e percebi que existem outras carreiras além de ­desenvolvedor.”

    Ele completou a graduação em Engenharia da Computação e, hoje, faz pós em Física da Computação. “Há dois anos, comecei a trabalhar como cientista de dados no Nubank e sou responsável por uma equipe de quatro pessoas”, diz.

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