Saúde mental dos jovens aprendizes entra no foco das empresas
Com o aumento dos afastamentos por transtornos mentais, a formação em soft skills se destaca como prevenção entre os novos profissionais

Em 2024, o Ministério da Previdência Social registrou a emissão de 472.328 licenças concedidas para trabalhadores diagnosticados com algum transtorno mental. É mais de cinco vezes o resultado de 2020, no auge da pandemia, quando foram realizados 91.607 afastamentos.
Uma série de fatores explica este fenômeno, incluindo o legado da crise sanitária, os desafios do mercado de trabalho, especialmente para alguns grupos, como as mulheres pressionadas pela jornada dupla em casa, além da maior atenção das empresas para a saúde mental. Não por acaso, essa pauta foi considerada a segunda maior prioridade de gestão de pessoas pelos líderes entrevistados recentemente para uma pesquisa da consultoria Gartner.
Quando se trata dos jovens aprendizes, a atenção para o tema é ainda mais importante. Segundo a Rede de Atenção Psicossocial (Raps), ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), em 2023, pela primeira vez, a taxa de ansiedade entre crianças e adolescentes superou a dos adultos: foram 125,8 casos a cada 100 mil crianças, 157 a cada 100 mil adolescentes, enquanto entre os adultos, a taxa foi de 112 a cada 100 mil.
E são nestas condições que os novos profissionais vão iniciar uma carreira. O desafio é ainda maior para aqueles que estão expostos a situações adversas. “O jovem tem de ser tratado com muito cuidado. Ele já traz as dificuldades de sua vulnerabilidade social, passa pela dificuldade de entendimento do ambiente em que vai atuar e tem uma pressão para conseguir, para ter resultado. Se ele não tiver com quem conversar, se não tiver orientação, ele pode ter muita dificuldade”, argumenta Alessandro Saade, superintendente executivo do Espro, uma associação de direito privado, filantrópica, sem fins lucrativos, criada em 1979 e pioneira em programas de socioaprendizagem.
Apoio aos jovens
Noventa por cento dos jovens atendidos pelo Espro vivem situações de média ou alta vulnerabilidade social. Muitos acabam desenvolvendo problemas de confiança e autoestima, um problema potencializado pelos desafios inerentes à juventude. É diante deste cenário que o Espro, que é habilitado para realizar a formação teórica prevista pela política pública da aprendizagem profissional, vai além e busca desenvolver entre os aprendizes, habilidades socioemocionais capazes de ajudá-los não apenas em situações do trabalho, mas também a lidar melhor com a ansiedade e aflições no dia a dia. Daí a formação incluir práticas voltadas a fortalecer as soft skills destes novos profissionais.
Trata-se de um diferencial importante para os jovens e para as ações de responsabilidade ambiental, social e corporativa (ESG) das empresas, que assim se utilizam do Programa Jovem Aprendiz para ampliar a diversidade de seus times, sem abrir mão do cuidado com a saúde mental, com impactos inclusive regulatórios.
Em maio, por exemplo, entram em vigor as mudanças da Norma Regulamentadora 1 (NR-1) do Ministério do Trabalho. Ela estabelece diretrizes sobre saúde no ambiente de trabalho e prevê a fiscalização das empresas. Aquelas que cometerem falhas na prevenção de riscos à saúde mental dos funcionários estão sujeitas a multas.
Neste contexto, o apoio proporcionado pelo Espro contribui para que as empresas cumprirem suas obrigações, extraindo o melhor do programa federal de aprendizes.
Plantão Social
O trabalho do Espro é apoiado por um time interno de desenvolvimento social, que conta com assistentes sociais e psicólogos sociais habilitados para ouvir os jovens em formação, encaminhá-los para atendimentos especializados quando houver necessidade – além de acompanhá-los. A cultura de capacitação humanizada se estende para todo o Espro: os instrutores e colegas são orientados a reparar caso algum jovem se mostre triste, aflito ou angustiado durante as convivências. Além disso, os aprendizes contam com um canal seguro para compartilhar preocupações e solicitar apoio – o Plantão Social Espro, disponível por email.
Como informa o superintendente executivo, em 46 anos, o Espro realizou mais de 1,3 milhão de atendimentos sociais, incluindo visitas domiciliares, acompanhamentos psicológicos, visitas técnicas e encaminhamentos para a rede de apoio. Ao final de 2025, esse número deve ultrapassar o total de 1,5 milhão de atendimentos. “Temos um programa de capacitação dos gestores das empresas parceiras, e a atenção à saúde mental faz parte dessa iniciativa. Especialmente quando falamos das lideranças imediatas dos jovens, que devem ter consciência da importância de uma gestão desafiadora, mas também acolhedora e tolerante; capacitadora, mas também humanizada. A transição para a vida adulta traz uma série de complexidades, por isso é fundamental ter empatia”.