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Dia do psicólogo: as emoções e os desafios de quem trabalha na área

Carreira altamente demandada durante a crise de covid-19, a psicologia traz muitos desafios e emoções. Três psicólogos compartilham suas histórias

Por Elisa Tozzi
Atualizado em 27 ago 2021, 10h30 - Publicado em 27 ago 2021, 07h00

Foi em 27 de agosto de 1962 que João Goulart, então presidente do Brasil, regulamentou a profissão de psicólogo no país. A data ficou marcada e se tornou oficialmente o Dia do Psicólogo em 2016. Essa carreira, que sempre foi muito importante, ganhou ainda mais protagonismo com a pandemia da covid-19 que trouxe a saúde mental para o centro das discussões.

Nas empresas não tem sido diferente e surgem mais políticas para o bem-estar psicológico, mas ainda é preciso fazer muito. Uma pesquisa da Kenoby revelou que, em 93% das empresas, ainda falta um olhar cuidadoso para essa questão.

O Dia do Psicólogo é uma oportunidade para discutir a importância da saúde mental e valorizar esse trabalho tão fundamental para indivíduos e sociedades. Por isso, convidamos três psicólogos que dividiram conosco seus desafios, emoções e percepções sobre o futuro dessa carreira.

Aline Prato

Psicóloga da Alice, empresa gestora de saúde

Qual foi o seu momento mais emocionante ou desafiador como psicóloga?

Acredito que a profissão de psicólogo é desafiadora por si só, mas os casos graves e em crise demandam maior preocupação.  Articular o cuidado com a família e profissionais envolvidos, assim como buscar supervisão e estudos para dar apoio ao paciente, fazem com que eu me sinta sempre desafiada. 

Quanto ao momento mais emocionante, apesar de serem muitos, nunca me esquecerei do carinho de uma paciente acumuladora com pouquíssimo suporte social. No Dia dos Pais ela me deu um bolo para agradecer dizendo “quem se preocupa e cuida de mim é como pai e mãe”. Isso não tem preço e emociona.

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Por que você escolheu se tornar psicóloga?

Brinco que sou “gentóloga”, gosto de gente. Além disso, sempre fui observadora, achava curioso e intrigante como as pessoas têm reações diferentes a situações semelhantes. Gosto de ouvir cada história e entender como isso influencia nos comportamentos, emoções e também de ajudar a aliviar o sofrimento. 

Qual é a sua avaliação sobre a importância da profissão hoje?

Cuidar da saúde mental é um pilar indiscutível quando pensamos em saúde de uma maneira holística. Em tempos de pandemia, isso ficou evidente ao depararmos de forma coletiva com o medo, o luto e a solidão, por exemplo. 

A maioria das pessoas não teve educação emocional ou oportunidade para falar sobre as emoções abertamente – aliás, podem ter sido incentivadas a esconder o que sentem e fingir que nada aconteceu, o famoso “engole o choro e segue”. 

Porém, olhar para os sentimentos e para as emoções, apesar de desafiador, é corajoso e libertador. Proporciona a chance de ressignificar e construir uma saúde emocional equilibrada. É nesse ponto que o psicólogo entra. Ensinamos como é possível desenvolver habilidades emocionais e viver em meio a dor e ao caos.

 

Edwiges Parra

Psicóloga organizacional, fundadora da EMIND Mente Emocional e colunista de VOCÊ RH

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Qual foi o seu momento mais emocionante ou desafiador como psicóloga?

O meu momento mais desafiador e emocionante aconteceu quando comecei a atender uma paciente com comorbidades físicas e mentais. Ela tem um histórico de vida muito difícil que compreendia abuso sexual familiar, filho envolvido com drogas, pais com transtornos mentais. Confesso, não sabia como se seguiria todo o tratamento. Foram 8 meses de pura dedicação, de altos e baixos, por parte da paciente. E também do próprio terapeuta. Porque há uma pessoa por traz da profissão que assim como todos, também sofreu com a pandemia.

Depois de introduzir o treino de habilidade do protocolo de terapia cognitiva baseada em mindfulness no contexto terapêutico para depressão e ansiedade, essa paciente começou a sentir melhor. As práticas meditativas tornaram sua vida melhor e isso passou ser um novo estilo de vida.

Por que você escolheu se tornar psicóloga?

A escolha da minha profissão aconteceu aos 17 anos com base na minha história de vida familiar. Tenho uma irmã com deficiência cognitiva e, na minha pouca maturidade da época, gostaria de poder ajudá-la viver sua vida melhor. Com o passar do tempo, o interesse pelos aspectos anatômicos, fisiológicos e funcionais do cérebro e seus sistemas mentais foi me seduzindo e por fim, entender a complexidade dos aspectos cognitivos, emocionais, biológicos e de saúde versus interação com o meio tornou-se uma admiração e um sentido de vida. Sentido que se tornou um propósito de vida.

Qual é a sua avaliação sobre a importância da profissão hoje?

A função do profissional de psicologia está em servir a sociedade por meio de uma alta competência técnica e ética. Temos compromisso e responsabilidade de fazer uso da ciência para ajudar a sociedade a atravessar as diversas e intensas mudanças em todos as esferas ambientais, econômicas, tecnológicas, educacionais, sociais, saúde e políticas. O ser humano está no centro de todas essas interações e precisa lidar de forma funcional e tentar gerar o menor impacto negativo possível. Nossa função é psicoeducar as pessoas, ajudá-las a ser protagonistas da gestão de sua saúde e promover impactos positivos em si mesmo, nos outros e na sociedade.

Fábio Luiz Socreppa

Psicólogo da base da Vittude, plataforma de saúde mental

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Qual foi seu momento mais emocionante ou desafiador como psicólogo?

Aconteceu há 14 anos, no final do estágio de Psicologia Escolar em um projeto social do bairro Paulicéia, em São Bernardo do Campo (SP). Eu estava cursando o penúltimo ano da graduação e pensando no dilema de escolher a prática clínica ou alguma carreira corporativa. As crianças que haviam passado aquele ano comigo se despediam e uma menina, também bastante emocionada, pedia para que não me esquecesse dela. Uma das cuidadoras se aproximou e disse que “eu parecia muito feliz ali”.

Estar feliz onde estava. Seria uma questão relacionada ao local ou à função que exercia? Entendo que esses sejam o local e o cenário em que todas as narrativas foram vividas naquele estágio. Felicidade precisa de conforto. A forte emoção daqueles abraços e a validação no olhar daquela cuidadora para os meus próprios atos de cuidado reverberam até hoje em minhas práticas clínicas.

Por que você escolheu se tornar psicólogo?

A escolha pela psicologia não foi uma escolha óbvia em minha vida. Fui criado por pais comerciantes que tinham uma loja de conserto de aparelhos eletrônicos. Nasci para a engenharia, pela expectativa dos meus pais. Contudo, não se nasce para algo, nossas escolhas se fazem em meio aos caminhos da vida.

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A minha escolha pela psicologia se deu ao longo das aulas de terceiro ano pelo interesse por história, filosofia, sociologia e línguas. A razão dessa escolha foram todas as conversas profundas e íntimas que se abriam a partir daquelas matérias, todas as articulações e aprofundamento a respeito do que é o ser humano. Talvez as raízes mais profundas dessa escolha sejam as íntimas tardes de sábado da infância, quando as pessoas se reuniam para longas conversas em família e dividiam suas histórias, risos e memórias.

A atuação como psicólogo é como a leitura de um romance excelente, extremamente próximo e vivido, no qual os dilemas e as questões postas são protagonizados pelas pessoas com quem vivemos na íntima profundidade do vínculo terapêutico.

Qual é sua avaliação sobre a importância da profissão hoje?

O lado mais importante da psicologia é oferecer um espaço de cuidado para que as pessoas possam se afastar das demandas cotidianas e encontrar mais conforto na própria vida e em relação com as suas escolhas.

Essa importância aumenta mais se considerarmos as pressões culturais, sociais, familiares, profissionais, dos grupos de amigos que acabam conduzindo as pessoas a percepções pouco autênticas  a respeito delas mesmas e, por isso, enfrentam crises em diferentes campos de vida.

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Nenhuma boa escolha é realizada sem a identificação e a ponderação dos valores pessoais diante dos caminhos presentes diante de alguém. Esse papel de reconhecimento não se dá somente pelas pessoas, tem sido também reconhecido em grandes corporações que investem nos processos de atendimento clínico de seus funcionários a fim criar espaços de acolhimento e escuta para o sofrimento psíquico e de oferecer oportunidade de pensar sobre seu lugar no mundo e no trabalho.

 

 

 

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