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Como a internalização de regras pode ajudar sua companhia?

Em entrevista à VOCÊ RH, Sergey Gravilets, professor da Universidade do Tennessee explica por que a internalização de regras pode diminuir gastos

Por Márcio Simões
Atualizado em 5 dez 2020, 19h13 - Publicado em 30 out 2017, 04h00
Universidade do Tennessee, nos EUA, onde ocorreu tiroteio (Divulgação/)
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Imagine a cena: na cidade alemã de Darmstadt, uma jovem vestida com roupas de roqueira, a cabeça raspada nos lados, o topete moicano pintado de verde, espera o semáforo de pedestres abrir. São 10 horas da noite. Não há quase ninguém na rua. Nenhum carro vem da esquerda nem da direita, e a rua é estreita.

Por que uma jovem com topete moicano espera o sinal verde no meio da noite? Sergey Gavrilets, cientista russo que dá aulas na Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, usou a teoria dos jogos e simulações de computador para investigar esse tipo de coisa: como pode ter surgido essa capacidade do ser humano, a de internalizar normas sociais e de segui-las mesmo quando desnecessário? (Os resultados estão no artigo Collective Action and the Evolution of Social Norm Internalization; veja em goo.gl/dHZscB.) “Em muitas cidades”, diz Gavrilets, “é normal atravessar a rua fora da faixa. Em outras, se você atravessa a rua com o sinal vermelho, mesmo que não haja nenhum carro à vista, talvez alguém lhe diga que é uma má pessoa. Esse é um exemplo de efeito colateral da internalização de uma norma social.”

Por que é importante entender como surgiu a capacidade de internalizar normas sociais?

Quando uma pessoa internaliza uma norma, ela acredita que seguir aquela norma é a coisa certa a fazer, mesmo que ninguém esteja olhando. Se não fosse essa capacidade de internalizar normas sociais, não haveria quem doasse seu tempo e seu dinheiro pelo grupo, nem haveria quem arriscasse a saúde ou mesmo a vida pelo que acredita ser moralmente certo.

Suponha que você é o gerente de um grupo e gostaria que os membros do grupo trabalhassem bastante, sem perder tempo com outras coisas. Se consegue fazer o grupo internalizar essa norma, não precisará gastar energia vigiando as pessoas, nem precisará castigar ninguém para corrigir seu comportamento.

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A internalização de normas importantes reduz vários custos associados ao funcionamento do grupo; por exemplo, o grupo não precisa gastar nada com prêmios para aqueles que seguem as normas, pois todos se sentem compelidos a segui-las. Nossas simulações mostraram que os grupos nos quais há boa internalização de normas sociais têm maior probabilidade de sobreviver.

Empresas devem se preocupar com o tamanho máximo dos grupos que a compõem?

Acho que sim, pois o custo de monitorar aqueles que se recusam a seguir as normas, e de puni-los de alguma forma, aumenta mais e mais com o número de indivíduos do grupo. Em outras palavras, quanto maior o time, mais difícil será obter a cooperação de todos. Isso porque sempre existe uma pequena porcentagem de indivíduos egoístas, que é capaz de quebrar uma norma social se obtiver com isso alguma vantagem pessoal.

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Quanto ao resto do grupo, os indivíduos se dividem assim: uma parte segue as normas sociais e, se tiver a oportunidade, castiga quem não as segue; e a outra parte, mais ou menos do mesmo tamanho, segue as normas, mas nunca castiga quem não as segue. Uma solução para grupos grandes é promover atividades ou ideologias que sirvam de apoio às normas sociais que a empresa gostaria que os funcionários internalizassem. Algo como uma religião, ou como uma narrativa que aumente a coesão da equipe. Nossas simulações também mostraram que, quanto maior o desafio a ser enfrentado pelo grupo, melhor a internalização de normas sociais.

Há muitos anos os políticos aprenderam a explorar isso, e pintam um cenário do tipo “nós contra o mundo” quando querem que a população internalize algum tipo de norma. Se uma empresa enfrenta um desafio legitimamente difícil, deve comunicá-lo com clareza aos funcionários, pois isso deve melhorar a internalização de normas importantes.

Há empresas defendendo equipes sem hierarquia. É um bom modelo?

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Não é bem minha especialidade, mas antropólogos e sociólogos dizem que os humanos têm uma predisposição a se deixar liderar. Muitos estudos mostram que, se há cinco, sete pessoas numa sala, naturalmente surge um líder. Assim, se a empresa se abstém de apontar o líder, um líder vai surgir de qualquer modo.

Há aspectos negativos na internalização de normas?

Com frequência, o indivíduo que internalizou uma norma social vai segui-la até quando não é vantajosa; talvez até castigue os que não a seguem. É o caso de quem reprova a pessoa que atravessa fora da faixa, mesmo que não haja nenhum carro à vista. Não podemos esquecer, contudo, que em nosso mundo inovação é importante, e para que haja inovação deve haver indivíduos que desobedeçam certas normas sociais.

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