Já existe uma demanda forte no mercado por conselheiros independentes, seja para conselhos administrativos ou consultivos. E há vários fatores por trás disso. Algumas empresas, por exemplo, estão se profissionalizando e entendendo as vantagens de ter conselheiros independentes em vez de membros da família dona do negócio – que costumam também ser acionistas ou diretores da própria companhia.
Há, ainda, incentivos do mercado, como um regulamento da B3. No artigo 15 da norma, temos a seguinte recomendação: “A companhia deve prever, em seu estatuto social, que seu conselho de administração seja composto de, no mínimo, dois conselheiros independentes – ou 20%, o que for maior”.
É importante destacar que os conselhos sempre estiveram abertos para receber executivos aposentados – ou que estejam próximos de se aposentar – interessados em continuar ativos no mundo corporativo, mas agora com a missão de orientar, apoiar e sugerir iniciativas da diretoria. Porém, principalmente diante do avanço acelerado da tecnologia, tenho notado cada vez mais espaço nesse board para profissionais mais jovens, com experiência em empresas tech e startups.
Todos os dias sou sondada por altos executivos sobre como fazer essa migração para conselhos. Inclusive, acho importante destacar que é muito positivo quando esse movimento acontece paralelamente à jornada executiva. Desde que não haja conflito entre as empresas para as quais o profissional presta serviço, claro.
Nas cadeiras mais altas, o dia a dia costuma ser solitário, e participar de conselhos de outras empresas pode ser muito positivo. É uma forma de obter novos aprendizados, desenvolver habilidades, ampliar o networking e aprimorar reflexões.
Existem ótimos pontos de partida para quem quer entender mais dessa jornada. Gosto bastante da abordagem do IBGC, que, além de fornecer o curso formal de conselheiros, permite que os membros participem dos comitês e possam ampliar o networking. Instituições de ensino, como a Fundação Dom Cabral, também estão firmes nessa missão.
Há cursos bem atentos à diversidade nos conselhos, como o da Saint Paul’s, focado em formar conselheiras mulheres. Algo bem-vindo em um momento no qual muitas empresas são signatárias do “30% Club”, que defende que pelo menos 30% das cadeiras do conselho de uma empresa sejam ocupadas por mulheres.
Precisa entender de finanças
Vale destacar que ter conhecimentos financeiros é importante para qualquer conselheiro. Mesmo que esse profissional participe do grupo sob a ótica de pessoas, é preciso investir em cursos de finanças, de leitura de resultados e demonstrativos.
A carreira em conselho pode ser vista como a nova aposentadoria de muitos bons executivos, que buscam uma longevidade na vida profissional, com jornadas bem mais flexíveis e um ganho salarial, muitas vezes, equiparado ou até maior ao que se tinha no mundo corporativo tradicional – a depender do número de conselhos e do porte das empresas envolvidas.
Migrar para uma posição de conselheiro, porém, não é algo simples. Ainda que a pessoa tenha construído uma carreira incrível em organizações renomadas e tenha boa visão do mercado, a transição precisa ser entendida como uma mudança de carreira: demanda tempo e boas indicações até que o executivo conquiste credibilidade no novo cargo.
Mas é uma espera que vale a pena. Após as primeiras experiências bem-sucedidas como conselheiro, seja considerando o número de conselhos ou a relevância das empresas, a tendência é que, pouco a pouco, a carreira se desenrole, oportunidades surjam naturalmente e o executivo se estabeleça na nova profissão.
Este texto faz parte da edição 92 (junho/julho) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.
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