Demissões em massa na Meta: seu trabalho ainda é necessário?
A empresa de Zuckerberg cortou 4 mil empregos em função da IA. Veja como não entrar na lista de humanos dispensáveis.

Imagine o seguinte cenário: você abre seu laptop, pronto para mais um dia de trabalho, e lá está o e-mail fatídico com o assunto: “Mudanças na estrutura organizacional”. Corpo da mensagem: agradecimentos, palavras vagas sobre “adaptação estratégica” e um link para um FAQ que não responde nada.
Foi exatamente isso que aconteceu com centenas de colaboradores da Meta na última semana. Engenheiros, gerentes e designers – muitos deles com avaliações impecáveis de desempenho – acordaram um dia e descobriram que, na disputa entre IA e humanos, a empresa decidiu apostar suas fichas na primeira opção.
A Meta cortou cerca de 4 mil pessoas, parte de um movimento maior para reduzir custos e realocar investimentos para inteligência artificial. O curioso? Muitos dos demitidos eram considerados talentos de alto desempenho. Não era “quem fazia bem o trabalho”, mas, sim, “qual trabalho ainda precisa ser feito por humanos”.
Questão de adaptação
Isso nos obriga a refletir não apenas sobre a tecnologia em si, mas sobre a nossa própria adaptabilidade. Não é a primeira vez que a humanidade enfrenta uma transformação radical – da Revolução Industrial à digitalização – sempre houve temores sobre a extinção de empregos. O que diferencia este momento é a velocidade com que essas mudanças acontecem. Se antes uma inovação levava décadas para se consolidar, agora, em poucos anos, funções inteiras se tornam obsoletas.
Não é coincidência que esse anúncio veio logo após os dados publicados pelo Fórum Econômico Mundial com as novas previsões sobre o futuro do trabalho. Segundo o relatório, hoje 47% das funções são exclusivamente humanas, enquanto a IA executa 22% do trabalho. Mas em 2030 essa conta mudará: um terço do trabalho será feito exclusivamente por inteligência artificial, um terço será compartilhado entre IA e humanos e apenas um terço continuará sendo 100% humano. Em outras palavras, funções que hoje exigem uma pessoa real podem simplesmente deixar de existir. O layoff da Meta não é um caso isolado – é um spoiler do que está por vir.
O trabalho que conhecemos entrará em extinção?
Não exatamente. A discussão não deve ser o possível desaparecimento do trabalho, mas sua ressignificação. Advogados com assistentes de IA que analisam jurisprudências em segundos. Engenheiros com modelos preditivos que otimizam cálculos antes mesmo de tocarem no teclado. Designers disputando relevância com geradores de imagens que criam 500 variações em cinco segundos. Profissionais que antes se destacavam pelo domínio técnico, agora, precisam desenvolver habilidades como pensamento crítico, empatia e criatividade para se manterem relevantes. A pergunta não é se a IA vai substituir o trabalho humano, mas como os humanos podem aprender a trabalhar com a IA.
Portanto, antes de sair “estocando comida enlatada” e pesquisando profissões medievais que a IA ainda não alcançará, vale um pouco de pragmatismo. Porque, sim, há saída. O jogo não é “humano vs IA”, mas “humano + IA vs humano sem IA”. Ou seja, se a máquina faz o trabalho bruto, o diferencial será quem souber direcioná-la.
O profissional do futuro será aquele que souber aliar sua capacidade analítica e estratégica ao poder das máquinas, e o que a IA ainda não faz bem continua sendo nosso maior trunfo.
Algoritmos podem gerar ideias, mas não sabem quais fazem sentido. Podem escrever e-mails, mas não persuadir. O mercado não precisa de quem apenas executa, mas de quem decide.
A ideia de “formação única” também já não faz mais sentido. Educação contínua não é mais um luxo – é uma questão de sobrevivência profissional. Hoje você aprende para um cargo. Amanhã, aprende para continuar empregado. A mudança já começou, e a melhor resposta é a evolução contínua.
O futuro do trabalho não está chegando, é o hoje. A pergunta é: você está pronto?
* Irina Bezzan é CEO e Stéfano Venturato é head de Inovação e Novos Negócios da TalentX Digital.