Mulheres nos conselhos: talento em alta, barreiras também
Levantamento do Evermonte Institute revela que o acesso feminino aos boards não é questão de mérito, mas de estrutura. E as portas seguem entreabertas.

Apesar dos avanços nas pautas de diversidade, a presença feminina em conselhos de administração ainda é um desafio no Brasil, e não por falta de qualificação. A pesquisa “Women at the Top”, do Evermonte Institute, mostra que as mulheres que chegam aos conselhos são altamente preparadas, mas precisam superar obstáculos que ainda tornam esse acesso mais difícil e desigual.
Um dos principais entraves é o isolamento: muitas vezes, elas são as únicas mulheres na mesa, o que gera sobrecarga emocional e a sensação de representar “todas as mulheres”. Outro ponto crítico é a forma como as nomeações acontecem: geralmente por indicações informais em redes masculinas, com baixa transparência e poucos critérios objetivos de diversidade.
As barreiras continuam com a percepção distorcida de comportamento. A mesma assertividade que em um homem soa como liderança, em uma mulher costuma ser mal interpretada como agressividade. Soma-se a isso a desigualdade de remuneração e o grande desafio de conquistar o primeiro assento no conselho, que exige uma combinação de experiência, reputação e boas conexões. Por fim, a pesquisa aponta, muitas empresas ainda falham na prática: têm discursos inclusivos, mas não mecanismos reais de acompanhamento ou execução.
Mesmo diante dessas dificuldades, as conselheiras vêm se destacando por trazerem à mesa atributos valiosos. A pesquisa identificou cinco diferenciais consistentes: empatia e escuta ativa, elevado preparo técnico, visão de longo prazo com foco em propósito, influência sutil baseada em valores e forte atuação em temas como ESG, cultura e diversidade.
Essas características contribuem para decisões mais equilibradas e estratégicas — especialmente em tempos de transformação acelerada.
Caminhos possíveis
E como essas mulheres chegam lá? A pesquisa mapeou trajetórias marcadas por múltiplas frentes: experiência robusta em cargos executivos (como diretorias e vice-presidências), participação em projetos estratégicos, formação contínua em governança (como cursos do IBGC), engajamento em redes como WCD e posicionamento claro de carreira. Além disso, a construção de uma rede qualificada, muitas vezes ainda com predomínio masculino, é vista como essencial.
Apesar de tímido, o avanço é real. A presença feminina nos conselhos tem crescido, mas ainda está longe do ideal. Segundo o estudo, 12% das cadeiras em empresas de capital aberto são ocupadas por mulheres — e esse número cai quando se fala em conselheiras independentes. O dado reforça que o caminho até o topo não é apenas questão de mérito, mas de estrutura.
A conclusão do relatório é clara: mulheres e homens percorrem trajetórias distintas até os conselhos, com exigências desiguais. Enquanto os homens tendem a seguir caminhos mais tradicionais, as mulheres acumulam mais formações, experiências diversas e precisam provar competência a todo momento. A equidade, portanto, não virá apenas com o tempo, mas com ações concretas de inclusão — que envolvem rever critérios de nomeação, ampliar o campo de busca e reconhecer que diversidade qualifica, e não enfraquece, a governança.