“Recursos Humanos e os desafios da busca do profissional negro.” Esse foi o tema de um dos painéis do Fórum Brasil Diverso 2024, realizado na última sexta-feira (1º/11), no Memorial da América Latina, em São Paulo.
Já com dez anos, o fórum reúne líderes empresariais, acadêmicos e representantes da sociedade civil para discutir a implementar práticas de ESG com um foco especial da diversidade étnica.
O painel em questão teve como mediador, a convite da organização do evento, Alexandre Carvalho, editor-chefe da Você RH.
Entre os participantes estavam Dinamar Makiyama, CEO do Grupo Makiyama, de empresas especializadas em recrutamento e gestão de pessoas. Dinamar é uma líder negra, diferente dos outros painelistas dessa conversa (veja na foto), todos brancos.
Já Fabiana Gutierrez é cofundadora do Instituto Carlotas, uma organização sem fins lucrativos que visa erradicar as desigualdades sociais e a violência por meio da qualificação das relações, tornando-as mais empáticas, seguras e respeitosas.
Liderança tem de ser sponsor da causa
Adriano Sartori, por sua vez, é CEO da CBRE Brasil, que atua em consultoria no mercado imobiliário. E está implementando iniciativas de inclusão de profissionais negros na sua organização. “Lançamos um programa chamado Black Excellence, que permeou a empresa inteira, o que nos permitiu fazer as contratações certas”, afirmou o executivo. “Mas envolveu principalmente as lideranças, porque, se você deixar a questão da inclusão de negros só na mão do RH, ela não avança. O RH precisa do apoio da liderança.”
Fabiana, do Carlotas, bateu na mesma tecla. “Os profissionais negros chegam ao momento da entrevista de emprego já com um despareamento de visão. Claro que eles podem se preparar, mas a chave está com os que estão entrevistando. Então as pessoas que estão nos espaços de poder, majoritariamente brancas, precisam se dar conta de que não há negros em quantidade trabalhando em posições de gestão e o que essa alta liderança pode fazer para poder incluí-los.”
Dinamar, antes de ser CEO na empresa que fundou, já havia chegado a ser diretora em outra organização. E, embora estivesse sozinha na sua função, teve uma experiência positiva: “A empresa tinha um processo de acolhimento. O fato de eu ser negra não fazia diferença, eu era tratada como todas as outras pessoas. Isso me trouxe um resgate de autoestima. Porque, até então, eu entendia que aquele lugar de líder não era para mim. Eu acreditava que os preconceituosos tinham razão”.
A executiva lembra com carinho do presidente dessa empresa, que não a via pela cor da pele, mas pela competência. E estava mais tranquila com sua posição na sociedade até que abriu seu próprio negócio de desenvolvimento de líderes. Com duas sócias também negras. “Aí as portas se fecharam para mim. As empresas, com seus gestores quase todos brancos cis, não queriam saber de serem treinados por mulheres negras. Tanto que busquei continuidade desse trabalho na gestão pública, porque lá você entra por licitação, não precisa ser contratada por alguém que vá te rejeitar por causa da cor da sua pele.”
Não foi um caminho à toa. Segundo uma pesquisa do Infojobs, empresa de tecnologia de recrutamento, metade dos profissionais disse ter sofrido discriminação na etapa de contratação. 30% deles eram profissionais negros.