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Entrevista: Marcelo Picolo, diretor executivo da Solera

O argentino está à frente de uma revolução tecnológica na área de seguros. Aqui, ele fala sobre o papel do RH e dos colaboradores diante do avanço da IA.

Por Alexandre Carvalho
1 dez 2023, 10h10

O seguro do seu carro nunca mais será o mesmo. E mais cedo do que você imagina. Os processos que têm início assim que você bate o automóvel e notifica a seguradora – o chamado “aviso de sinistro” – estão avançando rumo à automatização em ritmo acelerado. Já existe, inclusive, um recurso de inteligência artificial que dá o preço de um reparo de carro na oficina a partir de uma simples foto dos danos.

Um dos líderes de empresas à frente desse movimento é o argentino Marcelo Picolo, diretor executivo do Grupo Solera para países da América do Sul, que há dois anos trabalha na sede brasileira dessa multinacional – fabricante de soluções tecnológicas para as indústrias de automóveis e de seguros.

A experiência prévia do gestor em empresas de software e telecomunicações, como a AT&T, deu-lhe expertise para transformar tecnologia de ponta em resultados de negócios. Foi o que a Solera viu nele em 2017, ao contratá-lo já como diretor executivo na Argentina – ainda passaria por Chile e Peru antes de se estabelecer no Brasil

Mas Picolo, apesar de ser um entusiasta da inovação tecnológica, acredita que ela só entrega sua melhor performance quando acompanhada por grandes profissionais, indispensáveis para as organizações.

Aqui ele explica por que a união entre as duas inteligências, a artificial e a humana, é a melhor resposta para as demandas do setor securitário.

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A tecnologia vai substituir as pessoas na área de seguros?

Não. As pessoas em cargos que trazem valor são insubstituíveis. A tecnologia atuará de forma a complementar as atividades nos casos de baixa complexidade, em que faz mais sentido a automatização. No Chile, quando cheguei para ser diretor executivo da Solera de lá, houve um remanejamento na distribuição de cargos que resultou numa sinergia perfeita com a tecnologia. Desta forma, melhoramos a rentabilidade do negócio de maneira mais eficiente e conseguimos que essas pessoas de valor pudessem crescer na empresa.

Manter as pessoas, num momento como este, de revolução tecnológica, passa, então, por ter os profissionais certos nos lugares certos?

Exatamente. Por mais que meu trabalho esteja ligado à inovação tecnológica, para mim uma empresa não é um conjunto de computadores e servidores. É um grupo de pessoas alinhadas a uma estratégia que aportam valor ao negócio. Os profissionais que não trazem esse valor estarão mais vulneráveis às transformações que estão acontecendo. Mas é função das lideranças e do RH encontrar onde elas são mais produtivas e rentáveis para a empresa.

Você pode dar um exemplo real do que está falando?

Sim, vou explicar de uma maneira simplificada para o leitor não familiarizado com o setor securitário. Quando alguém bate o carro e aciona o seguro, as seguradoras mandam seus peritos para analisar os danos no veículo provocados por essa colisão. É assim que elas vão identificar o orçamento do reparo desse carro na oficina ou até se é um caso de perda total, quando há indenização pelo valor do veículo. Ou mesmo se os danos não condizem com o que o segurado declarou.

Esse é um processo que pode ser moroso e caro para a companhia, porque envolve deslocar um profissional até a oficina, criar um relatório, analisar esse relatório… Hoje, a Solera está introduzindo um recurso de inteligência artificial, chamado Qapter Claims, em que alguém da oficina, ou o próprio condutor do veículo, pode tirar uma foto dos danos, e a IA faz toda essa análise e orçamento sozinha.

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Aí você pergunta: o que vai acontecer com esses peritos, então? Vão perder o emprego? Não, eles vão se dedicar aos casos mais complexos, que o sistema não é capaz de identificar.

Ou seja, permanecerão os peritos mais especializados, com maior capacidade de análise?

E também os que ainda não têm essas skills, mas vão querer desenvolvê-las para também se tornarem insubstituíveis. A tecnologia, neste caso, traz produtividade, pois automatiza os processos envolvendo danos mais superficiais ou menos complexos, os casos que chamamos no seguro de “pequena monta”.

E você não precisa deslocar um profissional no meio do expediente para conferir algo que a máquina já faz com precisão. Mas a tecnologia e o ser humano não são excludentes. Nos casos mais complexos, a inteligência artificial faz um pré-orçamento dos sinistros, mas eles precisam passar pela análise mais aprofundada de um perito especializado. Essa mescla entre a IA e a expertise do profissional é que produz o valor máximo para a companhia de seguros.

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A Solera está passando por uma padronização global de suas tecnologias. Como as pessoas estão envolvidas nesse processo?

Cheguei ao Brasil em 2021 para ser o diretor executivo porque o Grupo Solera identificou o país como um mercado prioritário, pois a área de seguros tem muito o que desenvolver aqui com inovação tecnológica, que é minha especialidade.

Meu foco é em performance em aceleração do desenvolvimento de negócios por meio de estratégias de inovação tecnológica. E a ênfase no Brasil faz parte de um projeto de escala global que chamamos de “One Solera”. O que estamos fazendo é padronizar nossas tecnologias. Não faz mais sentido ter um produto diferente por país ou mesmo uma engenharia local em cada lugar. Mas pessoas, sim. Precisamos de profissionais locais de valor. Porque são eles que fazem o relacionamento com os clientes e traduzem essas necessidades particulares do negócio.

Como vê essa volta gradual do home office para o presencial ou o modelo híbrido na área de seguros?

Trabalhar de modo remoto foi uma descoberta que abriu novas possibilidades. A comunicação ficou mais fácil e rápida em um contexto complexo como o da pandemia. Mas acredito que o modelo presencial não pode ser descartado, e sim complementado pelo esquema remoto. Para um líder, é preciso olhar nos olhos das pessoas para desenvolver confiança, seja com a equipe ou com os clientes. Já trabalhei em diversos países e concluí que no Brasil as pessoas trabalham melhor quando têm a liderança próxima.

Como você define seu estilo de liderança?

Gosto de trabalhar próximo às pessoas e identificar quais têm potencial para crescer junto ao negócio e ocupar esse lugar de valor. Fico atento àquelas com skills e que se mostram comprometidas e altamente motivadas para encarar novos desafios. Ao ascenderem na empresa, elas se tornam também mais engajadas, o que facilita o meu trabalho. Preciso de uma equipe, e, como num time de futebol, é indispensável que cada um esteja
na posição em que atua melhor. Porque um líder não faz nada sozinho.

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