Por que o autoconhecimento é tão importante? De acordo com Heloísa Capelas, CEO do Centro Hoffman e autora de O Mapa da Felicidade, saber quem você é verdadeiramente ajuda a conquistar resultados melhores – tanto na vida profissional, quanto na pessoal.
Outras especialistas, como nossa colunista Jackie de Botton, diretora criativa da The School of Life, concorda. Ela defende que apenas quem tem um relacionamento honesto e saudável consigo mesmo é capaz de se conectar genuinamente com as outras pessoas – e, assim, liderar de maneira empática. O autoconhecimento seria, portanto, a chave para a liderança humanizada.
Por isso, do ponto de vista das empresas, é interessante estimular os funcionários a desenvolver essa competência. E o RH tem um papel fundamental nessa missão, investindo em programas e treinamentos que promovam a saúde mental e emocional. É o que defendeu Heloísa, em uma entrevista que ela concedeu para a Você RH. Confira abaixo:
Qual é a importância do autoconhecimento para o desenvolvimento profissional?
O autoconhecimento traz resultados para todas as áreas da vida, inclusive a profissional. Quando nós nos conhecemos de verdade, conseguimos identificar o bem e o mal que nos compõem, conseguimos nos apropriar de quem realmente somos a partir de um exercício contínuo de auto-observação sem julgamentos ou autocríticas desproporcionais. Com isso, conseguimos gerenciar nossas emoções e, consequentemente, nossos comportamentos.
Na prática, funciona assim: o autoconhecimento permite que você reconheça suas falhas, como, por exemplo, permite que identifique e assuma para si que costuma ser desorganizado. E agora que você sabe e aceita que a desorganização é uma de suas inabilidades, em primeiro lugar, parará de se doer tanto quanto alguém lhe trouxer essa crítica (afinal, é verdade, você sabe da sua desorganização); em segundo lugar, poderá fazer um exercício ativo e intencional para transformar esse comportamento em outro, que lhe traga resultados melhores.
Ou seja, olhar para si é o começo para ganhar consciência quanto aos comportamentos inconscientes que geram resultados negativos. E, a partir daí, transformá-los fica muito mais fácil.
Quais são os maiores desafios na busca pelo autoconhecimento?
Muitas pessoas não topam o exercício de se olhar por medo do que vão descobrir a seu próprio respeito. Tantas outras começam, mas deixam o exercício pela metade. O que acontece é que o autoconhecimento é uma proposta sem fim, uma ação que precisa ser exercitada diariamente, com intenção e atenção. Esse é o único jeito de identificar os paradigmas que precisam ser quebrados com o objetivo de que se possa obter melhores resultados. Se você continua igual, terá resultados iguais; se topa olhar para si, poderá, de dentro para fora, promover pequenas mudanças que resultem em enormes diferenças.
Como o RH pode estimular os funcionários de uma empresa a buscar o autoconhecimento?
Acho que o melhor mecanismo seria as empresas investirem em programas e treinamentos que promovam a saúde mental e emocional. Nós tivemos que treinar nossos RHs a compreender a importância e assumir a responsabilidade por programas de cuidado com a saúde física – veja, por exemplo, as iniciativas de sucesso que já foram implementadas para a prevenção ao câncer de mama (outubro rosa) ou de próstata (novembro azul). Agora, especialmente em meio à pandemia que vivemos, está na hora de a área abraçar a saúde mental da mesma maneira; de lançar um olhar holístico para seus profissionais para perceberem que produtividade e inventividade também têm tudo a ver com bem-estar.
Muitas e muitas companhias do Brasil e do mundo perdem seus profissionais mais brilhantes porque os esgotam emocionalmente. É verdade que cabe ao profissional saber quando parar, mas, nem sempre ele tem essa noção, nem sempre percebe que está percorrendo uma trajetória sem volta rumo ao esgotamento. É aí que o RH precisa entrar, ou seja, com ações preventivas que possam mapear e impedir que esses profissionais cheguem tão longe, e fomentar o autoconhecimento é peça-chave nesse sentido. É fornecer a ferramenta para que o colaborador consiga se perceber e mudar a trajetória por conta própria.
Quais conselhos você dá para quem está nessa jornada?
Eu diria: vá com medo e tudo. O que pode acontecer de pior? Digo, o que o olhar para si mesmo pode trazer de tão revelador ou perturbador que você faz tanta força para esconder? Eu posso garantir que não há nada a seu respeito tão horroroso assim; e, mesmo se houvesse, se você nunca olhar para si, nunca poderá mudar essa realidade.
A minha dica de verdade é que o autoconhecimento é para quem quer mais da vida. É para quem acredita que dá para ser mais feliz, mais livre, mais pleno, mais inteligente, mais equilibrado, mais rico, mais qualquer coisa a que você se propuser. E que, se você souber de si de verdade, esse caminho rumo às suas concretizações será muito mais curto e tranquilo.