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Entrevistas demissionais humanizam e evitam processos. Saiba como aplicar

Entrevistas demissionais são um mecanismo importante de coleta de dados e podem evitar a judicialização de conflitos. Para dar certo, siga estes passos

Por Hanna Oliveira
3 abr 2021, 08h00
Uma mulher negra entrevista um homem loiro em um escritório
 (Pexels / Tima Miroshnichenko/Divulgação)
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Desde a Reforma Trabalhista de 2017, o número de novos processos trabalhistas em primeira instância caiu cerca de 30% no país, segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Isso se deve ao fato de os trabalhadores precisarem arcar com os custos caso percam suas ações. Mesmo assim, no ano passado o Brasil contabilizou 1,5 milhão de processos trabalhistas – e as empresas precisam usar diferentes estratégias para se protegerem de questões judiciais.

Uma maneira de fazer isso é aproveitar as entrevistas demissionais, conduzidas pela empresa depois de o funcionário ser informado de que não faz mais parte do quadro da companhia, para mapear problemas de conduta de colegas ou chefes e insatisfações que, no futuro, poderão se transformar em processos (como o não pagamento de horas extras).

“É uma oportunidade para resolver eventuais dúvidas ou conflitos existentes entre as partes, evitando, com isso, que o trabalhador saia da empresa com mágoas ou com a sensação de que foi injustiçado em razão de ter sido desligado”, explica Manoela Pascoal, advogada trabalhista no escritório Souto Correa Advogados. “A empresa sempre tem alguma coisa que precisa ser ajustada, e, nesse momento em que já não faz parte da companhia, a pessoa se sente mais à vontade para contar o que se passa”, complementa Luciana Cordeiro, gerente de RH da Reamp + Jellyfish, companhia de marketing digital.

Renato Santos, sócio da S2 Consultoria, especializada em prevenir e tratar atos de fraude e de assédio nas organizações, destaca que as empresas costumam ser dedicadas aos processos de admissão, mas não dão atenção ao processo demissional. “Esquecem que esse momento pode ensinar a organização sobre vários aspectos, que vão do clima à liderança.”

Foi conduzindo uma entrevista demissional para um de seus clientes que Renato deparou com um caso de corrupção, por exemplo. O funcionário confessou que seu chefe o convidou para participar de um esquema, que já contava com dois colegas da área. O profissional se recusou e, dois meses depois, foi demitido pelo gestor. Ele acreditava que isso havia ocorrido por não ter se juntado ao grupo de corruptos. O caso foi levado à direção, que o apurou e tomou as medidas cabíveis. “Existem algumas empresas que entrevistam somente quem pediu demissão, porque acreditam que, quando o desligamento parte do gestor, a motivação é clara. Mas isso é uma mentira”, diz Renato.

Como evitar a judicialização

Apesar de as entrevistas demissionais não terem força de prova em eventuais processos justamente por acontecerem em um ambiente controlado pelo empregador, recentemente o TST indeferiu o pedido de uma funcionária que solicitava o pagamento de horas extras e indenização por danos morais com base em sua conversa demissional e em um depoimento inicial ao entrar na empresa. “Fundamentaram ser incabível o acolhimento dos pedidos quando a própria empregada declarou em sua entrevista de desligamento que pedia demissão porque conseguira outra oportunidade de trabalho, fazendo comentários positivos acerca de sua relação com a ex-contratante e dizendo que trabalhava em outra companhia no horário em que supostamente teria feito horas extras”, diz Manoela, do Souto Correa Advogados.

Apesar de importantes, as entrevistas demissionais não podem ser obrigatórias e, para que sejam eficazes, devem abordar temas como cultura corporativa, políticas internas e condições de trabalho. Além disso, é necessário treinar muito bem quem irá conduzir essas conversas para antecipar respostas e condutas, como explica Renato, da S2. “Se existir um relato de assédio sexual, por exemplo, a empresa já precisa ter um direcionamento definido. Se a companhia não fizer nada diante de um caso como esse, a entrevista demissional poderá ser mais prejudicial do que benéfica”.

Três passos para conduzir boas conversas de desligamento

1. Sem obrigação
As entrevistas demissionais devem ser facultativas e conduzidas por um profissional neutro – melhor até se for de uma empresa contratada

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2. Acolhimento
Lembre-se de que o funcionário pode estar abalado e deixe claro que o bate-papo é para sanar dúvidas e ouvir feedbacks sobre processos que podem ser melhorados ou sobre condutas inadequadas de chefes ou colegas

3. Colha evidências
Embora as entrevistas não tenham peso de prova, podem compor evidências em eventuais processos

 

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