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O programa da Bauducco para treinar e contratar penitenciários

Para um problema de falta de mão de obra, uma solução com impacto social. Conheça o programa Reeducar, implementado pela líder de RH Daniella Alledo.

Por Sofia Kercher
12 set 2024, 17h55
Foto de Daniella Alledo
 (Celso Doni/VOCÊ RH)
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Para nós, meros mortais, o clima natalino só dá o ar da graça no começo de dezembro. É uma confluência de fatores: as decorações nas casas e comércios, o súbito aumento de senhores de barba e cabelo branco nos shoppings. Mas, na humilde opinião desta repórter, o gostinho de Natal só vem oficialmente quando, lá em casa, chega o primeiro panetone (ou chocotone – ninguém é de ferro, afinal).

Para essa magia acontecer, os sinos do Noel precisam tocar muito antes nas fábricas. No caso da Bauducco, esse momento chega em julho. As duas fábricas da empresa – uma em Guarulhos (SP), outra em Extrema (MG) – têm de operar a pleno vapor para dar conta da demanda festiva.

A empresa tem 3.500 colaboradores na fábrica em São Paulo; 2.500 em Minas. Mas eles, sozinhos, não suprem a necessidade natalina. A solução é buscar funcionários temporários para auxiliar: 1.800 pessoas ao todo.

Essa mão de obra temporária é disputada com inúmeras outras fábricas e centros logísticos dali, que também começam a se movimentar em preparação para o final do ano. “É uma corrida em relação ao colaborador”, explica Daniella Alledo, diretora global de Gente e Cultura da Bauducco. “Simplesmente não há mão de obra suficiente.”

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Se dentro da fábrica já é difícil, no setor logístico, a situação ficou impossível. Especialmente na ponta final da operação – que envolve carga e descarga de caminhões. 

À sinuca de bico, uma solução criativa: Daniella decidiu entrar em contato com a Fundação de Amparo ao Preso (Funap), que planeja e desenvolve programas sociais para presos e egressos (ex-presidiários) em São Paulo.

Em 2021, a empresa contratou, por meio da Funap, 50 pré-egressos para seu setor logístico. Ou seja: pessoas ainda dentro do sistema carcerário, mas em regime semiaberto, com seis meses a um ano de pena para cumprir. Um ônibus da Bauducco passava de manhã, os funcionários cumpriam suas funções, e no final do dia eram levados de volta à penitenciária.

A solução criou mais um desafio: o combate ao preconceito. Para poder promover um diálogo com os colaboradores e explicar a importância do projeto, Daniella entrou em contato com a ONG Recomeçar, de Leonardo Precioso – ele próprio um egresso –, que criou um programa para ajudar as empresas na contratação dessa mão de obra. 

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O mesmo trabalho em menos tempo

Atualmente, o programa Reeducar, da Bauducco, conta com 150 colaboradores (50 em SP e 100 em MG) selecionados pela Funap. É a própria fundação que os remunera: R$ 1.412 por mês (um salário mínimo). Os contratos duram de seis meses a um ano – a depender do tempo que falta para o pré-egresso cumprir sua pena.

Resultado: a logística da companhia viu uma redução de 50% no tempo em que os caminhões são carregados. “O colaborador pré-egresso está muito disposto a realizar aquela função. A motivação é diferente”, argumenta Daniella. Além disso, há uma redução de custo para a empresa (porque a mão de obra terceirizada pesa mais no bolso do que a de pré-egressos).

 Mas a principal contribuição com essa iniciativa tem mesmo a ver com o fator social. Estudos mostram que 45% dos egressos do sistema prisional enfrentam dificuldades no acesso ao trabalho. “Você vê a gratidão, a felicidades deles. É uma oportunidade que a gente dá para mudarem de vida”, afirma a diretora da Bauducco, com lágrimas nos olhos.

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