O programa da Nestlé que ensina colaboradores a inovar
Treinamentos sobre storytelling, design thinking, gestão de projetos e técnicas de pitch fazem parte do programa, que já alcançou 87% de engajamento.

Após algum tempo de experiência, muitos profissionais são capazes de dizer como sua empresa pode melhorar. Seja agilizando processos, melhorando a comunicação interna ou inovando no setor em que atuam. Mas quase nunca a companhia tem a infraestrutura e a disposição necessárias para coletar os insights potencialmente valiosos de quem conhece seus bastidores como a palma da mão. Por isso, a Nestlé é um exemplo de melhores práticas.
Este ano, a empresa lança a segunda edição do Panela Transforma: um programa de intraempreendedorismo, aplicado com a ajuda da consultoria Voe sem Asas, cujo objetivo é estimular a criatividade dos funcionários e encontrar soluções fora do óbvio para o negócio.
No primeiro ano do Panela Transforma, os profissionais da Nestlé desenvolveram 32 projetos em dez meses – quatro deles foram selecionados pela companhia e estão em fase de implementação. Eram ideias das mais variadas: os funcionários elaboraram planos para facilitar o acesso aos benefícios corporativos, por exemplo, e para otimizar as campanhas de vendas na companhia. Estima-se que 87% dos mais de 350 participantes se mantiveram engajados ao longo da primeira edição do programa. A meta agora é, claro, ultrapassar o resultado anterior.
O segredo para o sucesso? Segundo Patrícia Freitas, head de Inovação da Nestlé e líder do Panela Transforma, o programa surgiu após uma observação cuidadosa da dinâmica interna da empresa. “Intraempreendedorismo nada mais é que empreender novas ideias e projetos dentro da companhia”, afirma a executiva. “Isso faz muito parte de uma cultura de inovação, e os funcionários já tinham essa atitude.”
Como funciona
Tudo começa com uma chamada aberta aos funcionários, que podem se inscrever já com um projeto em mente ou, mais tarde, embarcar em uma ideia alheia que os agrade. “Nós procuramos fazer o programa do jeito mais aberto e inclusivo possível”, afirma a executiva. Os participantes da primeira, por exemplo, eram de diferentes níveis hierárquicos e trabalhavam em 27 áreas da Nestlé, espalhados pelo Brasil.
Ao longo do programa, os funcionários participam de treinamentos em temas como storytelling, design thinking, gestão de projetos e técnicas de pitch (uma apresentação curta e direta, geralmente oral, que visa vender uma ideia), que os ajudarão a desenvolver seus insights em grupo. Além dos conteúdos teóricos, os participantes realizar encontros periódicos, recebem acompanhamento de mentores e buscam patrocinadores internos para seus projetos.
É o primeiro contato de alguns profissionais com conteúdos relacionados à inovação, segundo Patrícia. Para Kelly Genaro, analista de qualidade, saúde, segurança e meio ambiente na Nestlé, o que mais a atraiu para o Panela Transforma foi “a possibilidade de desenvolver novas habilidades e entender como funciona o mundo do intraempreendedorismo, desde conceitos básicos e vocabulário até a apresentação de um pitch para a alta direção da Nestlé”.
É que, conforme os profissionais desenvolvem seus projetos, precisam passá-los por etapas de seleção que avaliam, por exemplo, a viabilidade e o custo-benefício relacionado à sua implementação. E tudo bem se, no fim, a ideia não for para frente – como aconteceu com a equipe de Kelly na primeira edição do Panela Transforma. “Embora a ideia que trouxemos não tenha sido implementada, todo o conhecimento adquirido nesse processo de desenvolvimento pode ser aplicado no nosso dia a dia”, afirma a analista.
Equilibrando os pratinhos
A liderança da Nestlé é muito incentivada a entender o tempo que o colaborador dedica a seu desenvolvimento como tempo de trabalho – e levá-lo em consideração ao delegar tarefas, por exemplo. Ayumi Furukawa, coordenadora de Inovação Digital e Personalização, afirma que seu próprio gestor sugeriu que ela participasse – e ela tinha acabado de entrar na companhia.
Também ajuda o fato de que o programa se desenrola no longo prazo, em dez meses, com horários flexíveis para se encaixar na rotina de funcionários de áreas diferentes. E vale a pena. Como afirma Patrícia Freitas, investir no desenvolvimento profissional e na inovação gera um “impacto transformador na cultura organizacional”.