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Propósito é só para os ricos? Livro explica por que isso é um mito

Em "Propósito de Vida", Carol Shinoda traz um passo a passo para a busca por sentido e mostra quais são os mitos que nos impedem de encontrar realização

Por Elisa Tozzi
8 out 2021, 07h00

Um dos aspectos mais importantes para encontrar equilíbrio e felicidade é o desenvolvimento de um propósito – não apenas um propósito profissional, mas um propósito de vida. Essa busca, que parece assustadora para muita gente, não deveria ser. É isso o que defende Carol Shinoda, doutora pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP) em seu livro Propósito de Vida – Um Guia Prático Para Desenvolver o Seu (Benvirá, 39,90 reais). Com base em sua tese de doutorado, a autora sugere um passo a passo para quem quer encontrar um sentido maior para a sua existência. Para Carol, é preciso enfrentar os mitos que cercam o propósito – como o de que só quem tem dinheiro consegue encontrar uma motivação – e entender que constância e empatia são essenciais nessa busca. Na entrevista a seguir, a autora fala mais sobre o tema.

Como podemos definir o conceito de propósito de vida?

O propósito é um norte que nos impulsiona adiante. Podemos associar o propósito à imagem de um pote de ouro no final do arco-íris (quem já tentou encontrar esse pote sabe que conforme nos aproximamos, o arco-íris se movimenta para frente e nunca chegamos ao ponto final). Então, nunca alcançamos o propósito? Talvez nunca completamente, mas podemos realizar projetos em sua direção. Por exemplo, se tenho como propósito contribuir para a redução da fome no mundo, posso fazer projetos que contribuam para essa finalidade (campanhas de doação de alimentos, projetos de arrecadação de dinheiro), mas talvez eu não consiga dar conta de acabar com o problema da fome no mundo até o final da minha vida.

É importante também deixar claro que, com o tempo, o propósito pode mudar a partir das experiências que vivemos. É natural que a vida traga oportunidades e desafios que nos transformam e isso, naturalmente, gera impactos nas nossas intenções futuras. É interessante perceber que muitos propósitos nascem exatamente dos momentos difíceis, de dor e adversidade. Quando saímos do “buraco”, construímos forças e nos tornamos sensíveis às pessoas que vivenciam essas mesmas dores. E isso traz muita motivação para contribuir com nossa experiência e ajudar pessoas a superarem essas mesmas adversidades. Eu, por exemplo, vivi por muito tempo sentindo que não sabia qual era o meu valor, o que eu tinha de especial. Tive muita dificuldade para me encontrar profissionalmente. Então, ajudar pessoas a se conhecerem mais e entenderem como colocar seu potencial a serviço do mundo me motiva muito.

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No livro, você aponta seis mitos sobre o propósito. Qual deles é o mais paralisante?

Cada pessoa tem um mito que a paralisa mais quanto ao propósito, mas, no geral, percebo que a ideia de que propósito seja somente para os ricos (para quem tem a vida “ganha”) costuma impedir muitas pessoas de se permitirem a ter um propósito. Em pesquisas científicas não se identifica uma correlação entre dinheiro e propósito. Há pessoas muito ricas que se sentem vazias, assim como aquelas cheias de propósito, trabalhando em algo significativo e fazendo obras sociais. E há pessoas sem uma boa condição financeira que se sentem sem um sentido na vida, bem como aquelas com uma grande clareza do porquê levantar da cama todos os dias. É claro que se a pessoa estiver sem condições mínimas para se sustentar não tem como pensar em propósito, pois se o presente consome toda a sua energia, não há como vislumbrar o futuro.

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No entanto, encontro muitas pessoas que usam o dinheiro como desculpa: “eu não tenho tempo para sonhar, tenho que trazer dinheiro para casa”. E aí pergunto: por que tem que ser “ou” – trabalho e ganho dinheiro ou trabalho com algo significativo? Talvez possamos substituir pelo “E” – trabalho com algo significativo para mim E ganho dinheiro. Isso é possível, mas exige tempo e muita preparação (ter clareza do que se pode fazer, experimentar, fazer uma reserva financeira, preparar-se emocionalmente, buscar sua rede de apoio).

Do contrário, o tempo passa e fica sempre aquela promessa de ano novo que se renova a cada ciclo, mas sem se concretizar: “no próximo ano farei algo que me deixe mais feliz”. O que teremos construído ao final da vida é uma soma dos momentos presentes. Então, fica a reflexão: o que você está fazendo hoje para construir a história que quer deixar quando chegar ao final da sua vida?

As pessoas esperam estar “prontas” para começar a fazer algo significativo em suas vidas – dinheiro, carreira, vida amorosa… Mas nunca estaremos com todos os aspectos completos. É necessário ajustar, melhorar e se desenvolver constantemente. Então, não espere estar com tudo organizado para ir atrás do que de fato traz sentido para você. Acredite, o que você tem agora é suficiente para contribuir muito com as pessoas ao seu redor.

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Quais são as principais dificuldades que as pessoas têm na hora de desenhar seu propósito?

Nos meus estudos sobre o desenvolvimento do propósito identifiquei que há dois processos muito relevantes para conseguirmos desenhar nosso propósito de vida: reflexão e ação. Reflexão envolve dedicar tempo para pensar, conectar-se com você, conversar com pessoas sobre o que é importante para você, escrever, compreender suas emoções, valores e desejos. Ação tem a ver com ir para o mundo e experimentar, testar, errar, descobrir na prática. Há pessoas que pensam muito, mas experimentam pouco. E há pessoas que fazem milhares de coisas, sem parar para refletir sobre o que de fato tem significado para elas. Vejo que equilibrar atividades de reflexão e de experimentação é um ponto chave para conseguir ter mais clareza do propósito.

No livro, apresento um método que foi validado na minha pesquisa de doutorado na USP baseado em cinco pilares: Autoconhecimento, Empatia, Experimentação, Visão de Futuro e Planejamento e Sustentação. Em cada etapa proponho exercícios tanto de reflexão quanto de ação (experimentar na prática) para que os leitores possam identificar e desenvolver seus propósitos de vida.

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Existe algum passo que seja fundamental para quem está redesenhando o propósito?

Eu diria que é a constância. Ter uma rotina de autodesenvolvimento. Pode ser fazer terapia semanalmente, conversar com a família todo domingo, trocar com o parceiro ou parceira antes de dormir, ter um amigo ou um grupo de amigos que você encontre com frequência e com quem possa falar abertamente sobre seus sentimentos, sonhos, projetos.

Se não temos rituais de autocuidado, caímos na rotina e repetimos nossos hábitos e padrões. No meu livro proponho um método de gestão do tempo pessoal para que os leitores possam planejar seu dia a dia com significado e propósito. É por meio da agenda que conseguimos implementar ações voltadas ao nosso propósito. Esse foi um insight importante que tive em uma conversa com um grande amigo italiano e coach, o Tony Tarantini.

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Às vezes só paramos para olhar para nossa vida quando o sofrimento já está em um nível muito alto. Então, um passo fundamental é manter-se ativo, cuidando da sua saúde mental e do seu desenvolvimento. E procurar sempre ajudar as pessoas ao seu redor, seja a família, os amigos, os colegas de trabalho, o time, o porteiro, a pessoa que ajuda você a fazer faxina na sua casa. Propósito não é apenas fazer coisas voltadas a si, mas trazer seus talentos e valores a serviço dos outros.

Você também aborda no livro a importância da empatia na busca por propósito, por que isso é fundamental?

Muitas pessoas me procuram dizendo que podem pagar o quanto for necessário para descobrirem seus propósitos de vida. Querem fazer um programa de coaching milagroso, ir para um retiro espiritual transformador, tomar algum chá revelador. E eu recomendo que invistam seu tempo fazendo o bem para algo que lhe interesse ajudar. Como já reforcei, Propósito de Vida envolve fazer algo a partir de si, mas que impacte pessoas ou causas além de nós mesmos. Enquanto estivermos focados no eu, não sentiremos os benefícios de ter um real propósito, que envolve doação, serviço e apoio.

Vale esclarecer que para ter propósito não é preciso apoiar uma causa social considerada nobre pela sociedade (combate à fome, redução das desigualdades sociais, etc). Ajudar o outro pode ser simplesmente apoiar amigos, família e pessoas do seu trabalho a partir do que você é e das qualidades que tem. Quando temos clareza de quem somos e usamos isso com consciência no dia a dia, naturalmente vamos nos aproximando de causas, pessoas e projetos que têm sentido para nós. E quando menos esperamos, já estamos vivendo uma vida com propósito.

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