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Setembro amarelo: como discutir o suicídio nas empresas?

Com programas de promoção de saúde mental e bem-estar, empresas podem contribuir na prevenção ao suicídio entre os funcionários. Saiba como

Por Letícia Furlan
Atualizado em 10 set 2021, 08h27 - Publicado em 10 set 2021, 07h00

A cada ano, 800 mil pessoas tiram a própria vida no mundo – além destas, um número ainda maior tenta o suicídio. Os dados são da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que alerta ainda que este é um fenômeno que ocorre em todas as regiões do globo. Apesar de grave, o problema pode ser evitado se detectado a tempo, com base em evidências científicas e, na maioria das vezes, com intervenções de baixo custo que podem começar dentro das empresas.

“Suicídio é uma das principais causas de morte evitáveis no mundo. Isso porque as condições que levam a isso são tratáveis”, afirma Elson Asevedo, psiquiatra e pesquisador do departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

E os dados mostram que a preocupação com a saúde mental dos funcionários não deve acontecer apenas no setembro amarelo, mês marcado pela campanha brasileira de prevenção ao suicídio. No país,  de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de suicídios foi de 12.895 em 2020 – uma alta de apenas 0,4% em comparação a 2019.

De acordo com um levantamento realizado pela desenvolvedora de softwares de recrutamento Kenoby, 37,7% das companhias atualmente têm benefícios voltados para melhorar a saúde mental e o bem-estar dos trabalhadores. “As empresas vêm cada vez mais se conscientizando das ações de cuidado da saúde mental”, afirma Elson, salientando que esta é, de fato, a forma mais eficaz – senão única – de evitar o suicídio.

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O psiquiatra também cita, para além do papel social das empresas, um interesse econômico do cuidado com a saúde mental das pessoas. “As doenças mentais são as principais causas de incapacidade para o trabalho, causando um prejuízo de produtividade”, explica.

Primeiros passos para as empresas

O primeiro passo que uma companhia pode dar para a prevenção do suicídio, que marca este dia 10 de setembro, é criar uma cultura de porta aberta para o cuidado das emoções. “O colaborador tem que saber que aquele não vai ser um assunto tratado com preconceito, com estigmatização”, diz Elson. “A pandemia trouxe isso à tona:  todo mundo está sob estresse gigantesco, sofrendo, seja com a perda de alguém ou com as mudanças de rotina e medo de adoecer. Até um tempo atrás, só se falava da saúde mental quando acontecia uma tragédia.” O psiquiatra também considera a prevenção do suicídio um papel social que deve ser exercido por todos, inclusive pelo RH das empresas.

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O cuidado com a saúde mental deve ser permanente e só assim é possível evitar mais suicídios. O especialista cita algumas estratégias já conhecidas capazes de proteger o cérebro e o funcionamento emocional, como prática de atividades físicas, psicoterapia, meditação, sono e alimentação adequados.

Além disso, o senso de propósito também é fundamental e pode ser explorado dentro das empresas. “Ele traz uma questão de autotranscendência, você se importar com algo para além de você mesmo. Algumas pessoas encontram isso na religião, outras encontram na arte, em uma ideia filosófica, na política, em ações de caridade, ou mesmo no objetivo social da empresa em que trabalha”, diz Elson, que incentiva que a empresa ofereça todos estes elementos aos funcionários. “O papel da empresa na prevenção do suicídio é não ter preconceito e fazer com que o colaborador chegue até um tratamento efetivo”.

Educação da liderança 

Em contexto de pandemia, que obrigou com que funcionários e empresas firmassem uma nova relação de trabalho, a Vittude registrou crescimento de 540% na receita no último ano. “Fomos de 10 clientes corporativos para 130 em um ano”, comemora Tatiana Pimenta, CEO da startup brasileira referência em psicologia e educação emocional.

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Uma das explicações para esse crescimento é o fato de a Vittude ajudar os líderes a conversarem sobre saúde mental. “Eles desconhecem termos como segurança psicológica e o quanto isso impacta a organização. Criar uma cultura de saúde mental vai resultar em coisas importantes”, diz a CEO.

Educar é importante pois ajuda a conscientizar os líderes sobre o tema, ensinando como devem lidar com pessoas que estejam fragilizadas. “Como eu abordo um trabalhador cujo familiar faleceu? Como abordo uma pessoa do meu time que não está bem? Percebo que ela está mais triste, mais afastada, mais quieta. A gente pode ter uma ação de oferecer ajuda, de perguntar para a pessoa se está tudo bem”, explica Tatiana, que afirma que, para isso, é necessário que a pauta da educação seja colocada como algo estratégico dentro da organização.

“É falar, falar e falar. As rodas de conversa são essenciais para que as pessoas entendam como funcionam as emoções, como funciona o cérebro, os gatilhos para a raiva, tristeza ou solidão, por exemplo”, completa.

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Com treinamento, os líderes se tornam capazes de ficar atentos às mudanças de comportamento de seus trabalhadores, complementa a psiquiatra Jaqueline Bifano. “Diante de qualquer comportamento suspeito de um quadro de ansiedade, depressão, estresse pós-traumático ou burnout, esses líderes podem encaminhar os pacientes para o serviço de RH que, por sua vez, deve encaminhá-los para o tratamento. Inicialmente com psicólogo e, posteriormente, se precisarem, encaminham para o psiquiatra”, afirma Jaqueline.

Suicídio ainda é tabu, mas não deveria ser

Tatiana Pimenta afirma que o suicídio é um tema bastante delicado, principalmente porque nem sempre é fácil perceber os sinais que o precedem.  “A gente não sabe sequer oferecer ajuda, porque não sabemos reconhecer. Aí que está a importância de falar sobre o assunto dentro das organizações. Primeiro porque você abre espaço para quem está sofrendo pedir ajuda”, explica a especialista.

Tatiana comenta que, em uma roda de conversa sobre o tema organizado pela Vittude em uma empresa cliente, uma funcionária se sentiu confortável em falar que já teve ideações suicidas e que, inclusive, já havia se automutilado.

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“Ela disse que já havia pensado em tirar a própria vida e que ouvir aquele bate-papo foi uma benção para ela, porque ela se deu conta de que estava em um processo de adoecimento e que precisava de ajuda psicológica. Então, quando a empresa proporciona isso, faz com que as pessoas que às vezes estavam em um sofrimento sozinhas consigam levantar a mão e pedir ajuda e também ensina as pessoas que estão saudáveis a reconhecer alguns sinais em seus colegas”, afirma Tatiana.

A especialista ainda cita a importância de ter canais de comunicação. “Não adianta ter um bate-papo sobre o tema de forma pontual e quando algum colaborador levantar a mão e falar que não está bem não haver um canal para direcionar.”

A maior dica para as empresas é a consistência dos projetos de treinamento e a conscientização de líderes e funcionários. “Tem que ser algo que faça parte da cultura, da estratégia, esteja dentro dos pacotes de benefício e remuneração, dos projetos de saúde. Da mesma forma como vemos outros processos, como programas de gestantes e de doentes crônicos”, diz Tatiana. Afinal, como os problemas de saúde mental não são pontuais, as campanhas e programas de prevenção ao suicídio também não devem ser.

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