Por que Nezvat Aydin ficou conhecido como melhor chefe do mundo?
Fundador da plataforma de delivery Yemeksepeti tomou atitude inesperada quando portal foi vendido

Quando o principal portal de delivery de comida da Turquia, o Yemeksepeti, foi comprado pela multinacional alemã Delivery Hero, o fundador da plataforma, Nevzat Aydin, fez algo inesperado.
Com a intenção de retribuir o empenho de seus funcionários, distribuiu entre eles 86 milhões de reais do lucro com a venda – um bônus de 750 mil reais para cada um. Isso aconteceu em 2015, mas até hoje chama a atenção.
Não só pelo valor individual pago, que era 150 vezes maior do que o salário médio na empresa, mas porque a iniciativa levou a discussão sobre participação nos resultados a um patamar inédito.
“Fomos ousados ao deixar claro que as equipes são tão importantes quanto os fundadores, parceiros e executivos quando se trata de divisão de lucros”, diz o executivo, que continua como CEO da Yemeksepeti e hoje investe em startups de vários segmentos. Em comum, as empresas iniciantes que conseguem dinheiro e mentoria dele têm um modelo de negócios que usa a tecnologia para fazer diferença na vida das pessoas.
Soa idealista, mas o discurso de Aydin pode ser visionário. A felicidade aumenta a produtividade em 12%, indica um estudo feito por economistas da Universidade de Warwick, uma das principais do Reino Unido. Já a insatisfação derruba o desempenho em 10%. E não se trata de repartir com os funcionários quantias milionárias. Para o empresário, o maior benefício que uma companhia pode dar a quem trabalha ali não é financeiro.
Em entrevista concedida ao aplicativo de notícias da VOCÊ S/A às vésperas de sua palestra em São Paulo, nesta sexta-feira (27), Aydin mostra por que ficou conhecido como o melhor chefe do mundo. Ele está na cidade para participar do Scale-Up Summit, evento com criadores de empresas de sucesso elaborado pela organização de apoio ao empreendedorismo Endeavor e pela consultoria Ernst & Young.
Você disse que dividiu 27 milhões de dólares entre seus funcionários depois da venda da Yemeksepeti, em 2015, porque o sucesso da empresa era fruto do trabalho de todo o time. Existem outros executivos que pensam como você, mas compartilham quantias bem mais modestas com a equipe. Por que você decidiu ir muito além?
A Yemeksepeti fez uma grande diferença na vida de milhares de pessoas na Turquia. E isso aconteceu porque nossos funcionários sempre estiveram prontos para ir além e dar tudo de si. Eles foram pacientes e generosos em compartilhar know-how, tempo, talento e criatividade com a gente. Quando foi a nossa vez de retribuir, não poderíamos ser modestos: queríamos fazer uma mudança real na vida deles também.
O que as pessoas disseram naquela época sobre a sua decisão?
Muitos acharam a iniciativa extraordinária. Mas, para nós, apenas fizemos o que era certo. Como disse numa frase que ganhou destaque na mídia em 2015, o sucesso é muito mais agradável e glorioso quando compartilhado. Ver as reações deles, cheias de emoção, foi uma experiência que não tem preço.
Por que você diz que deu um mau exemplo para outros executivos?
Porque talvez tenhamos aumentado as expectativas dos funcionários em outras empresas [risos]. Fomos ousados ao deixar claro que as equipes são tão importantes quanto os fundadores, parceiros e executivos quando se trata de participação nos lucros.
Você mantém contato com ex-funcionários? Como eles estão hoje?
Sim, mantenho. Muitos compraram casa e carro e alguns saíram da Yemeksepeti e fundaram empresas. Eu mesmo investi em algumas dessas startups presididas por antigos funcionários. Definitivamente, sinto que cumpri uma missão com eles.
O que uma empresa iniciante deve ter para chamar sua atenção?
Já investi em 28 startups de vários segmentos diferentes, desde serviços automotivos e de limpeza até moda e suplementos esportivos. O ponto comum entre elas é que todas integram a tecnologia a seu modelo de negócios. Também sou membro ativo de muitos comitês de empreendedorismo e participo do conselho de alguns deles. Com isso, tenho a oportunidade de me juntar a jovens empreendedores e compartilhar meu know-how com eles.
Como você se sente sendo conhecido como o melhor chefe do mundo?
Essa é uma das partes mais legais, claro. Mas, uma vez que você obtém o título, tem de trabalhar ainda mais para mantê-lo [risos].
O que de mais importante um chefe melhor do mundo pode fazer pelos funcionários?
Dar responsabilidades a eles. É preciso permitir que usem a criatividade e se desenvolvam, criando um ambiente propício para que trabalhem com alegria e compartilhem sua paixão.
Por que você decidiu ser empresário?
Minha motivação é levar minha paixão adiante e transformá-la em um modelo de negócios que torne a vida das pessoas melhor, mais fácil e cheia de significado. Meu objetivo sempre foi criar uma solução ou um serviço ou produto que fizesse os usuários pensarem: “O que a gente estava fazendo antes disso?”. Com esse ponto de vista, ser empreendedor não era uma decisão a tomar, mas um caminho inevitável a ser trilhado.