Oito em cada dez jovens com até 25 anos pretendem trabalhar para uma empresa que seja engajada em alguma causa, como acabar com os testes em animais. É o que indicou o estudo The 2020 Workplace, feito pelo grupo Cone Millennial Cause com 1800 participantes.
Já uma pesquisa da ONG de negócios NetImpact mostrou que 45% dos entrevistados concordariam em cortar 15% do salário caso a companhia tivesse algum tipo de preocupação com o impacto social de suas operações.
Cientes de que o engajamento faz bem não só para a sociedade e o meio ambiente, mas também para a sustentabilidade dos negócios, muitas empresas excluíram os experimentos com os bichos do processo operacional. “A transparência para falar sobre esse tema e o posicionamento claro da organização em relação a ele atrai talentos”, afirma Fábio Rosé, diretor de RH da L’Oréal, que não testa em animais.
Alternativas já existem
A L’Oréal reconstrói modelos de pele humana em laboratório desde 1979 e já conseguiu aprovação do governo chinês para usá-los na região como alternativa aos experimentos em organismos vivos para a liberação de xampus, sabonetes líquidos para o corpo e maquiagem.
A opção pode ser até mais eficiente do que o método tradicional. “A pele e os folículos capilares de animais e humanos têm muitas diferenças, o que leva a resultados distintos sobre os efeitos dos produtos”, diz a biotecnóloga Carolina Motter Catarino, uma das vencedoras da premiação Lush Prize em 2017, na categoria Jovem Pesquisador, com um projeto de pele humana que pode ser impressa em uma bioimpressora 3D.
A Lush, de cosméticos artesanais, e a Granado, de produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais, também baniram os testes em animais. “O funcionário chega na empresa motivado pelo nosso conjunto de valores, mas, a princípio, fica um pouco cético em relação às reais práticas”, diz Renata Pagliarussi, diretora geral da Lush Brasil. “Ao reparar que nosso propósito é verdadeiro, ele permanece na equipe. É importante se manter genuíno ao discurso, principalmente por haver empresas que fazem promessas, mas não cumprem.”
Para a Granado, é perceptível a influência do engajamento socioambiental corporativo na retenção de profissionais. “Quando não lançamos um produto porque teríamos de avaliar em animais, mostramos aos funcionários que os valores da empresa são fortes – e isso gera confiança”, afirma Sissi Freeman, diretora de marketing e vendas da Granado.
A adoção desses valores ajuda inclusive a aumentar a competitividade. “As companhias passam a ter condições de entrar em mercados com legislações mais restritivas”, diz Antoniana Ottoni, relações institucionais da Humane Society International (HSI), que atua na proteção dos animais.
Segundo a HSI, só 0,1% das empresas de cosméticos no Brasil ainda faz experimentos com bichos. O estado do Rio de Janeiro está prestes a sancionar uma lei que proíbe a prática na produção de perfumes e produtos de beleza, higiene pessoal e limpeza. Em outros setores, no entanto, a situação é diferente.
A Mercur, que fabrica tintas para uso escolar, materiais hospitalares e revestimentos, está há dois anos tentando abolir totalmente os experimentos em organismos vivos. “Sete produtos do segmento de educação e um da saúde ainda pedem esse tipo de teste de segurança”, afirma Roberto Wickert, gestor de pesquisa e desenvolvimento da Mercur. “A legislação nos obriga a fazer ensaios de certificação.”
A empresa tem organizado debates com os funcionários sobre a importância de se engajar na causa. “Depois das conversas, eles nos contaram que passaram a olhar o rótulo dos produtos para saber se foram testados em animais”, diz Wickert.