A profissão de mestre-cervejeiro certamente figura no rol de empregos mais cool que se pode ter – junto a outros ganha-pães inusitados e idealizados à beça como, digamos, designer de Lego, arquiteto de parquinho e sommelier de travesseiro. Mas talvez os amantes da bebida não percebam que os cervejeiros não… experimentam cervejas o dia todo (haja barriga.) É, de qualquer forma, uma profissão apaixonante. Ao menos para Laura Aguiar, que trabalha na Ambev há 17 anos.
Ela começou como estagiária em uma maltaria – fábrica que transforma cevada em malte, um dos quatro ingredientes fundamentais das cervejas (os outros são água, lúpulo e leveduras). Ela se apaixonou pela coisa, decidiu virar cervejeira e fez uma especialização na Universidade da Califórnia. Então, continuou a trabalhar para a Ambev, mas no Centro de Inovação e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Desde 2018, esse é o QG dos cervejeiros da multinacional. Como o próprio nome diz, é um lugar de experimentação. É ali que esses magos do álcool criam ou aprimoram receitas, quando necessário. Só no ano passado, 73 novos produtos saíram desse laboratório carioca, como a Stella Artois Pure Gold.
Mas não se engane: trata-se apenas de uma fração do serviço. É que em time que está ganhando não se mexe: “As receitas mais tradicionais [como das cervejas Brahma, Original, Heineken…] permanecem as mesmas há décadas ou séculos. Nosso trabalho, então, é garantir a qualidade desses produtos”.
Ou seja: os cervejeiros testam e aprovam matérias-primas quando a Ambev troca de fornecedor, por exemplo, e acompanham todas as etapas da produção. Garantem que elas obedeçam a um monte de procedimentos técnicos – e que você encontre o mesmo sabor, aroma, textura e aparência em toda latinha.
Por isso, todo cervejeiro é detalhista. É um trabalho meticuloso: a análise sensorial da bebida é puramente técnica – não depende do gosto do freguês. Além disso, o cervejeiro precisa conhecer as máquinas da fábrica como a palma da mão para usá-las no cotidiano ou fazer manutenções.
Cerveja além da técnica
Esses profissionais, claro, não dependem só de habilidades técnicas. Afinal, eles geralmente são supervisores. “Então, a capacidade de liderar é muito importante”, diz a especialista da Ambev. “Você deve se relacionar e se comunicar muito bem com as pessoas.” Isso vale para colegas de fábrica e outros cervejeiros, mas também para fornecedores e equipes de marketing.
No caso da Ambev, a colaboração ultrapassa fronteiras. “Existem áreas de inovação em todo lugar do mundo”, explica Laura, “e os profissionais costumam trocar experiências entre si”. Quando uma receita gringa chega ao Brasil, por exemplo, uma equipe vem ensiná-la aos nossos cervejeiros e acompanha a produção de alguns lotes.
E falar sobre cerveja é falar sobre festas, encontros… Brasil. Por isso, a Ambev tem uma diretora (a própria Laura) que trabalha com “cultura cervejeira”. Ela fortalece esse mercado, estabelecendo parcerias e cuidando de projetos como a Academia da Cerveja, que oferece cursos para leigos ou profissionais em São Paulo. Porque cerveja, caso você não tenha percebido, é coisa séria.
ATIVIDADES-CHAVE
Supervisionar a fabricação de cervejas; garantir a qualidade e a padronização dos produtos; realizar testes de degustação; fazer a manutenção de equipamentos nas fábricas; desenvolver novas receitas.
QUEM CONTRATA
De fabricantes multinacionais de bebidas, como a Ambev, a cervejarias menores.
O QUE FAZER PARA ATUAR NA ÁREA
Uma graduação em engenharia de alimentos e uma especialização (ou mais) na área da produção cervejeira (produção de malte, técnicas de fermentação etc.).
FAIXA SALARIAL
Entre R$ 4 mil e R$ 10 mil mensais. (Fonte: Glassdoor.)
Este texto é parte da edição 94 (outubro e novembro) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.