No livro Guerra e Paz, de Tolstói, há uma cena de batalha que acredito ser muito significativa. É quando um dos personagens principais, o príncipe Andrei, se depara com vários dos seus soldados em fuga. Desesperado para reuni-los, mas sozinho, Andrei salta do cavalo, agarra a bandeira do grupo e começa a gritar e correr na direção em que todos deveriam estar seguindo. Então, um soldado se move atrás dele, depois outro e logo todo o batalhão o alcança.
Essa passagem da obra é uma evidência clara do quanto a confiança de um líder pode inspirar coragem no time e agrupar as pessoas rumo a um objetivo em comum. É o mundo ideal que deveríamos ter dentro das empresas, com equipes trabalhando comprometidas, prontas para fazer mais e melhor e confiando no todo, com orgulho de pertencer e certas de que mesmo o que for difícil ou complexo é possível de ser concluído.
Entendo, porém, que um dos fatores fundamentais para os cenários que descrevi é a sólida conexão entre líderes e liderados. Mas existe um desafio a ser superado nesse sentido. De acordo com uma pesquisa da The School of Life em parceria com a Robert Half, mais de 35% dos 387 liderados entrevistados afirmam que não sentem que têm conexão ou proximidade com seus líderes diretos. Desse grupo, 17,26% se dizem tranquilos com a situação, mas 18,45% afirmam que essa desconexão causa queda de desempenho, motivação e engajamento no trabalho.
Em tempos de foco no bem-estar da equipe, outro dado da pesquisa, também relacionado à conexão, chama a atenção e preocupa. Enquanto 42,48% dos líderes afirmam discutir questões de saúde mental com os colaboradores, sempre (11,65%) ou frequentemente (30,83%), mais de 70% desses profissionais dizem que nunca abordam o tema com a liderança (38,69%) ou raramente (32,44%).
É tempo de inteligência emocional no topo
A psicologia explica que somos seres gregários, que precisamos de contato uns com os outros. O trabalho remoto e híbrido trouxe muitos benefícios para todos, mas não podemos descuidar da real conexão.
Noto que as empresas têm olhado bastante para isso. Tanto é que 80% dos programas corporativos da The School of Life têm sido presenciais, e nunca fizemos tantos offsites de conexão e sinergia. Mas ainda há espaço para melhorar.
Como líder, reconheço as dores do cargo. Mas a realidade é que o clima da empresa e o desempenho de uma equipe estão diretamente relacionados ao perfil da liderança. Não estamos mais em época de sair correndo, gritando e agitando bandeiras. Mas podemos inspirar o time pelo exemplo, moldando o nosso perfil com boas doses de autoconhecimento, inteligência emocional, empatia e autocompaixão.
Sem deixar de lado prazos, metas e obrigações, é muito útil quando o líder consegue assumir a postura de um poeta. Ou seja, quando ele lida com a equipe tendo em mente a ambição de usar palavras, atitudes e ideias para alcançar a mente e as emoções dos liderados, influenciando-os. Fazer isso no dia a dia, com a convicção do quanto liderar é uma missão complexa, mas extremamente importante e honrada.
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