O termo ESG está bastante em evidência nas empresas e nos processos seletivos. E eu me refiro tanto às vagas que estou conduzindo dessa área como também à fala dos profissionais que estão alinhados à valorização do que a empresa atual e a futura fazem com relação ao ESG. Essa discussão vem ao encontro da preocupação de como atrair e reter profissionais em um momento em que pessoas de todas as gerações, cada vez mais, buscam um propósito em todos os sentidos.
Qual é o significado de ESG?
O termo ESG é uma sigla em inglês que se traduz por ambiental, social e governança. Hoje, o ESG é um ponto bastante importante para a tomada de decisão de investidores no mundo inteiro, determinando empresas e projetos que devem ou não receber investimentos. Empresas com boas estratégias de ESG conseguem atrair investidores com visão de longo prazo. Essa boa prática também passa pelo olhar atento dos consumidores de produtos ou serviços. Aliás, o padrão de consumo tem mudado também devido à preocupação das pessoas com os impactos que determinada marca tem no mundo. As novas gerações, especialmente, são cada vez mais impulsionadas a deixarem de consumir um produto de uma empresa que não seja bem vista nos parâmetros do ESG.
O impacto do ESG na percepção de candidatos e funcionários
Também tem sido cada vez mais comum candidatos em processos seletivos questionarem mais sobre o ESG da empresa na qual pleiteiam a vaga. Alguns chegam a utilizar essa informação para decidir se vão seguir ou não no processo seletivo. Da mesma forma, as ações de ESG impactam no orgulho e na retenção dos colaboradores que já fazem parte do quadro das empresas.
No meu dia a dia, vejo pessoas vestindo a camisa das empresas e menos propensas a se abrirem para o mercado pelo orgulho que sentem das suas organizações com relação ao ESG. Mas também vejo diversos profissionais que sentem falta de um posicionamento mais claro dos seus atuais empregadores com relação a essa boa prática e prontos para se abrirem a novas oportunidades mais alinhadas ao seu propósito.
ESG como parte das estratégias do negócio
Algumas empresas optaram por criar um departamento específico de ESG. Em diversas outras as ações existem, mas de forma descentralizada, distribuída entre diversos executivos, seja por meio de um comitê específico ou da alocação de atividades. Atualmente, tenho trabalhado muitas vagas com esse foco. Inclusive, posições de inovação dentro do ESG é uma novidade muito promissora e positiva.
Dados de pesquisa
O conceito de sustentabilidade sempre existiu, mas o termo do ESG é relativamente novo. Em uma pesquisa realizada pela Talenses Executive com 201 respondentes, 50% das pessoas assumiram que só ouviram falar sobre o termo pela primeira vez há cerca de três anos ou menos. Isso nos mostra que até bem pouco tempo a área de ESG, estruturada da forma como conhecemos hoje, praticamente não existia. Dos respondentes, 68% são diretores, 4,5% vice-presidentes, 7% presidentes, 7% conselheiros e 13% proprietários de empresas.
No mesmo estudo, 86% das pessoas acredita que ter ações consistentes de ESG é benéfico para as organizações de uma forma geral. E como aspectos positivos citados temos a geração de valor de mercado para a empresa, os ganhos na imagem e reputação da empresa e a sustentabilidade e perenidade da organização.
A grande maioria dos respondentes (90%) declarou acreditar que ter uma agenda de ESG influencia positivamente na atração e retenção de profissionais. Isso porque a agenda de ESG mostra a convergência de valores pessoais com a organização, gera relação de confiança com a empresa e impactam no clima organizacional. No entanto 87% dos entrevistados acredita que as empresas no Brasil ainda estão pouco estruturadas com relação ao tema. Entre os desafios citados para a implementação desse conceito estão: a falta de prioridade da alta liderança; a dificuldade de avaliar e mensurar os indicadores; e a falta de orçamento para as iniciativas.
Os impactos da pandemia na Era ESG
Estando desse lado da mesa, conversando com profissionais todos os dias, percebo que a pandemia fez com que as pessoas ressignificassem as próprias vidas. Muitas, de uma forma geral, saíram do modo automático que vinham vivendo e passaram a repensar o que é importante para si.
Nesse contexto, vejo que a busca por um trabalho que possa ajudar de alguma forma o meio ambiente e a sociedade passa a ser um dos pontos mais valorizados na hora de avaliar uma movimentação de carreira. E o papel das empresas têm mudado. Hoje, é esperado que as organizações tenham também um olhar para fora, para a comunidade na qual estão inseridas. E não só é esperado que a companhia esteja em harmonia com as legislações ambientais, por exemplo, mas que também pensem à frente, contribuindo de fato para uma sociedade melhor.
Com a pandemia vimos uma série de ações coletivas em prol do bem comum por parte das empresas que se uniram no combate aos efeitos da Covid-19. E eu vejo que muitas pessoas também estão engajadas no propósito de serem seres humanos melhores a cada dia. Dentro desse escopo, ter um trabalho que esteja alinhado com o propósito de fazer o bem, com valores genuínos, passa a ter um peso ainda maior.
A comunicação deve ser a peça-chave das ações
Outro ponto importante a destacar é que tenho visto empresas com ações muito interessantes, mas que comunicam mal as iniciativas, inclusive para o seu público interno. Já presenciei também situações em que profissionais de RH esquecem de destacar as ações de ESG na hora de apresentar a empresa e a vaga aos candidatos. Fica aqui o alerta.
Em um momento que o mercado está dando sinais claros de retomada, com novas vagas surgindo e uma disputa acirrada pelos talentos mais bem preparados, falar da agenda de ESG em alguma etapa do processo seletivo aumenta a competitividade da empresa contratante, ajudando a encantar ainda mais os potenciais candidatos e a garantir a contratação dos melhores talentos.
As iniciativas devem ser incorporadas ao DNA da companhia
Para que a empresa possa usufruir de todos os benefícios do ESG, é muito importante que as preocupações sejam genuínas. Já vi empresas preocupadas com as boas práticas apenas da porta para fora. E as pessoas percebem quando isso acontece, principalmente o público interno.
Há alguns anos, falávamos muito do capitalismo de acionista. Hoje, as conversas giram em torno do capitalismo de stakeholder, que – neste caso – são os indivíduos e as organizações que, de alguma forma, são impactados por uma empresa.
Nos anos 70, Milton Friedman falou que o maior papel social das empresas é aumentar o lucro. Naquela época, obviamente, a sustentabilidade já existia, mas era vista como um custo. Hoje, o tema passa a ser um dever, mas também deve ser visto como uma oportunidade. O lucro continua sendo importante e essencial, mas essas cifras podem ser ainda maiores dependendo das ações de sustentabilidade ambiental, social e da governança da empresa.
O foco em ESG é e vai continuar sendo a nova realidade, seja por princípio ou por pressão de acionistas, clientes e colaboradores ou da sociedade na qual a empresa está inserida. As organizações que não se adaptarem terão dificuldades de atrair e reter talentos, bem como de captar novos investimentos e de se manterem ativas com seus produtos e serviços no mercado.