Pela natureza do meu trabalho, tenho contato diário com executivos. Cada vez mais noto o quanto grande parte desses profissionais valoriza o clima organizacional e a ética de suas empresas e de seus líderes. Cresce também a disposição deles para deixar seus cargos caso se vejam diante da falta de providências em relação ao descumprimento de termos do código de ética e conduta e em situações de desconforto para tratar o assunto com o RH, o gestor direto ou com a área jurídica.
As empresas precisam ficar atentas a isso: é mais fácil, efetivo e estratégico procurar meios para combater as práticas inadequadas do que lidar com a perda de profissionais-chave por insatisfação. Nesse contexto, a minha recomendação é a que companhia invista na criação de um canal formal de denúncia.
Este não é um meio para desabafo ou fofoca. É um serviço para relatar à direção possíveis casos que vão contra o código de conduta, ética e compliance, incluindo, por exemplo, assédio moral e sexual, fraudes, manipulação de resultados ou dados, conflito de interesses e, até mesmo, casos de violência doméstica que estejam prejudicando o desempenho.
Listo a seguir cinco passos para a criação de um canal de denúncia:
1. Certifique-se de que a empresa possui um código de ética e conduta
O código de ética e conduta é um documento que tem o objetivo de orientar os funcionários sobre o que é aceito ou não pela organização. O ideal é que profissionais de todos os níveis hierárquicos tenham acesso a essas informações no processo de admissão, no onboarding ou no primeiro dia de trabalho.
2. Crie um canal formal
O canal pode ser em formato de um número de telefone, e-mail ou chat. Ele deve ser acessível a qualquer um que queira denunciar irregularidades ou comportamentos que contrariem o código de ética e conduta da empresa. Na implementação e operação do canal, é fundamental contar com a prestação de serviço de um parceiro externo, garantindo, assim, a imparcialidade do ouvinte. Deve-se permitir que o funcionário faça a denúncia anonimamente. Porém, não basta apenas instalar o canal. É preciso, ainda, que exista um manual que preveja como as denúncias devem ser tratadas, caso a caso, inclusive considerando situações que envolvam o CEO da companhia.
3. Crie um comitê de ética e conduta
Entre os funcionários, eleja um grupo que ficará responsável por analisar e tratar as informações registradas no canal de denúncia. Essas pessoas devem ser de áreas distintas e ocupar cargo da alta liderança. Escolha, por exemplo, profissionais do jurídico, da equipe de auditoria, do RH, da comunicação e da operação.
4. Prepare a liderança
É importante que os líderes entendam o objetivo, o funcionamento e a importância do canal de denúncia. Assim, eles poderão reforçar as informações aos times e encorajar os times a se manifestarem sempre que necessário e sem medo de represálias.
5. Promova campanhas de conscientização
Promova a cultura de “dedo duro do bem” por meio de campanhas internas de conscientização sobre os benefícios do canal de denúncia para a organização como um todo. Paralelamente a isso, estimule a melhora do clima organizacional e a erradicação de situações abusivas por meio de palestras e ações sobre ética e diversidade.
Como deu para perceber, criar um canal de denúncia na empresa não é tarefa simples. Mas o sucesso das empresas que o implementaram mostra que o investimento (de tempo e dinheiro) vale a pena. É importante destacar também que, após a criação da Lei Anticorrupção e depois dos escândalos em empresas com sede no Brasil, os profissionais estão menos tolerantes ao silêncio das organizações diante de situações de injustiça.
Se os funcionários estão em busca de empresas com alto grau de maturidade e compliance, ter um canal de denúncia entre as boas práticas tende a ajudar na atração e retenção de talentos. Então, é importante pensar seriamente a respeito.