Entre os vários desafios de gestão de pessoas, um dos mais complexos é lidar com as diferentes gerações. Hoje, todas as empresas têm, pelo menos, três delas convivendo no ambiente de trabalho: os X (nascidos entre 1961 e 1980), os Y (nascidos entre 1981 e 2000) e os Z (nascidos a partir de 2001). E é daí que nascem os desafios das empresas em saber lidar com anseios e leituras tão diferentes sobre trabalho e atuação profissional.
Foi tentando se aprofundar nessas questões que o Grupo Consumateca, consultoria de pesquisa e inovação, realizou a pesquisa Businez Plan, que revelou aspectos importantes sobre o perfil profissional de cada uma dessas gerações e entrevistou 2.000 pessoas em todo o Brasil.
Com 60% dos respondentes da geração Z afirmando que o trabalho é uma maneira de manter a estabilidade financeira, muito mais do que uma fonte de realização pessoal, é possível ver um contraponto significativo à visão da geração Y (ou Millennials), que querem um emprego que tenha mais relação com sua identidade, segundo Marina Roale, Head de pesquisa do Grupo Consumoteca: “O cenário geral é de frustração do Millennium. Eles se prepararam, foram atrás do mentor, só que o tempo foi passando e nem todo mundo teve a compensação financeira que esperava”, explica.
A geração Y viu seus pais, muitos deles parte da geração X, com estabilidade no trabalho, trabalhando toda a vida na mesma companhia, com valores sólidos e estabelecidos. Por essas condições de vida, tiveram reforço positivo sobre as possibilidades do que poderiam realizar no mundo e acabaram ligando o trabalho a um propósito: “Hoje entram numa frustração, porque por mais que se tenha propósito, nem sempre a experiência no trabalho vai ser positiva”, elucida Marina.
Os Z se importam mais com o dinheiro
Já a geração Z vem mostrando um apego maior aos retornos materiais que um emprego pode proporcionar, com 71% apontando o desejo por uma casa própria, 60% um carro e 47% querem viajar todo ano. Além disso, ambientes modernos e despojados não estão na sua lista de prioridades. Apenas 5% acreditam que essa é uma questão importante. Eles querem mesmo é ser valorizados em sua atuação profissional, com 43% afirmando querer trabalhar em uma empresa que reconheça seus esforços e ter recompensas por isso.
Há também uma quebra de visão importante entre a geração Y e a Z quando o assunto é formação. Se a geração Y valoriza muito a educação formal e quer ter um retorno financeiro pelo seu investimento nisso, a geração Z acredita que é mais importante saber executar as tarefas do trabalho.
Resiliência ainda é sinônimo de experiência
Em meio ao momento de crise que estamos vivendo, Marina conta que quem tem se dado bem é a geração X, mostrando que a experiência ainda precisa ter espaço nas empresas: “A geração X precisa ser muito disruptiva e se reinventar com a pandemia, principalmente no que diz respeito à hard skill. Mas por outro lado, eles têm soft skills importantes, porque já passaram por mais crises, sabem como lidar”.Por outro lado, a pesquisadora tem visto um sofrimento mental maior na geração Z, que estava carregada de expectativas com relação ao trabalho e precisou colocar o pé no freio neste momento. “A geração Z está com o emocional mais abalado, porque tinham uma expectativa de escolher um emprego, de ir para a empresa”.
Os desafios geracionais
Marina acredita que para superar os desafios em ter um time com diversidade geracional, primeiro é necessário entender que não existe uma geração melhor ou pior do que a outra: “É preciso um espaço aberto para o diálogo, não hierárquico e em que não exista geração correta ou errada”, defende, explicando que antes de haver o espaço para a discussão sobre os anseios, ter uma reunião de alinhamento sobre o que está sendo falado é importante, porque há uma compreensão diferente também sobre isso: “Muitas vezes as gerações debatem um mesmo assunto, mas para cada um deles aquele mesmo assunto significa uma outra coisa e não se percebe isso”.Os desafios não se encerram aí.
A geração Z, também está trazendo à tona outras questões, segundo Marina, como os comportamentos da web de reivindicação, sem hierarquias e sem autocensura, que podem ser encaradas pelas lideranças como prepotência: “A geração Z, que está entrando no trabalho agora, vai levar muito ruído. A rede social leva eles a um grande empoderamento”, alerta Marina.