Em pesquisa, 65% dos brasileiros acham que suas habilidades estão em risco
Levantamento da Degreed, feito com trabalhadores de todo o mundo, mostra que o pessimismo dos brasileiros em relação às suas competências é grande
Uma pesquisa realizada pela Degreed, plataforma de upskilling de habilidades, e publicada com exclusividade por VOCÊ RH, ouviu trabalhadores de oito países ao redor do mundo e mostrou que, dentre os entrevistados, brasileiros sentem suas habilidades ameaçadas no cenário de crise que o mundo vive. 65% deles acreditam que suas habilidades atuais se tornarão obsoletas entre três e cinco anos. Dentre as habilidades destacadas como em alta pelos brasileiros, Tecnologia da Informação (TI), lidera.
O levantamento, “Em 2021, as habilidades pedem ajuda”, teve como objetivo compreender o cenário de desenvolvimento das habilidades de profissionais em meio à pandemia do novo coronavírus, que vem forçando a entrada das empresas na transformação digital.
O medo da demissão
Além da visão de que suas habilidades não serão importantes num futuro próximo, um medo que ronda os brasileiros respondentes da pesquisa é o da demissão. 55% deles acham que as chances de demissão por falta de alguma habilidade importante seja maior do que a requalificação ou recolocação dentro das empresas. Para Débora Brewer, vice-presidente para América Latina e Caribe da Degreed, essa visão tem razão de ser, dada a profunda crise econômica que o país vem vivendo. “Vários deles têm membros de suas próprias famílias sendo desligados das empresas. Quando eu vejo alguém próximo perdendo o emprego acabo criando uma ansiedade, um estresse”.
O Brasil recentemente bateu recorde de uma série histórica, que começou a ser medida em 2012, chegando a 14,1 milhões de brasileiros desempregados.
Pandemia
Se uma crise econômica já é desafiadora, aliada a uma crise humana, como a provocada pela pandemia de covid-19, pode causar efeitos ainda mais profundos. Esses impactos foram revelados em números pela pesquisa. Quase dois terços dos trabalhadores acreditam que esse período tenha acelerado a necessidade de desenvolvimento de novas habilidades. No Brasil, esse número salta para 70%. Para Débora é em cenários como esse que o desenvolvimento de habilidades da força de trabalho pode ser crucial para sobrevivência dos negócios. Ela conta sobre a experiência da empresa de varejo C&A que conseguiu superar o desafio da pandemia colocando todos os seus colaboradores para fazer vendas digitalmente: “Isso é criatividade e adaptabilidade. Se eu não estou constantemente desenvolvendo meus colaboradores, na hora que eu tenho uma pandemia, na hora que eu tenho uma crise, eles não conseguem se adaptar rápido”.
Falta de habilidades e estresse no trabalho
A ansiedade e a visão de que se possui habilidades prestes a se tornarem obsoletas deixam lastros nas entregas dos trabalhadores e na sobrecarga pelo estresse. 53% dos brasileiros participantes, por exemplo, afirmaram que sem as habilidades necessárias o trabalho fica mais estressante e 46% alegaram ter a saúde mental afetada por isso. Mas não é apenas esse dado que chama atenção: a demora para as entregas das atividades está diretamente ligada com a falta das habilidades, segundo 49% dos respondentes daqui. “Quando eu deixo de desenvolver meu colaborador, que está ali no dia a dia com meu cliente, eu deixo de ter uma mão de obra qualificada. Assim, eu não atendo o que meu cliente e sentindo o impacto disso na ponta”, defende Débora, ressaltando os impactos não apenas nos indivíduos, mas nos negócios de uma mão de obra sem habilidades importantes.
Alto custo do turnover
Com o trabalho remoto implementado em larga escala pela pandemia, alguns líderes podem cair na “tentação” de buscar mão-de-obra em outros territórios. Como é o caso da habilidade destacada pelos brasileiros como a mais em alta no momento – o TI. Mas para a VP da Degreed é preciso ter cuidado, porque as empresas que, justamente, souberem reposicionar funcionários a partir de suas habilidades e interesses é vão conseguir superar essa crise. Para isso é preciso lembrar o custo do turnover que, para contratar novos funcionários é de, aproximadamente, US$ 4.000 por cada nova contratação. “Começamos a buscar fora, mas resposta não está aí, está muito mais perto do que a gente imagina”, explica Débora, prosseguindo: “Esse problema está em todos os países e achamos que a solução é trazer de fora. Mas quando busco fora, rapidamente as habilidades dessa pessoa já estão obsoletas”. Segundo ela, é nesse momento que se pensa que a contratação possa ter sido ruim. Por isso, é importante se perguntar: não tem ou eu desconheço as habilidades dentro da minha organização?
Desenvolvimento de habilidades para vencer a crise
O caminho para reverter este quadro passa pela mudança de pensamento da liderança. Se desprender da ideia de aprendizado apenas como dentro de uma sala de aula ou até mesmo acreditar que o tempo de trabalho usado para o desenvolvimento de habilidades é ruim para os negócios é um pensamento que precisa ficar no passado. “Para que se tenha profissionais mais qualificados tem que existir uma cultura de aprendizagem. Ela precisa ser contínua e durante o trabalho”, conta Débora, explicando que funcionários se capacitando por vídeos no YouTube, por exemplo, precisa ser tornar comum. “Quando provamos que uma empresa tem cultura de aprendizagem? Quando um líder está no horário de trabalho, vê que um colaborador está assistindo um vídeo do YouTube e ele não pensa: ‘ele está perdendo tempo aqui ou realmente se desenvolvendo?’. Ele sabe que está tudo bem, porque está no flow do trabalho, ele está aprendendo enquanto executa”, finaliza.