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Por que as mulheres se sentem tão esgotadas na crise da covid-19?

Três em cada quatro mulheres deixariam o trabalho por se sentirem esgotadas. Nossa sociedade, baseada na performance, piora essa sensação

Por Christine Naschberger*
Atualizado em 23 out 2024, 13h47 - Publicado em 7 jan 2021, 10h00
Mulher usando máscara e com expressão cansada
 (Engin Akyurt/Unsplash)
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De acordo com uma pesquisa recente da OnePoll, o trabalhador médio do Reino Unido experimenta o esgotamento da carreira aos 32 anos. Um terço dos entrevistados já sentiu que simplesmente não poderia continuar devido ao estresse e à exaustão em algum momento de suas carreiras. Além disso,  um em três entrevistados culparam diretamente o confinamento do covid-19 por sentir exaustão e esgotamento, com motivos que incluem trabalho à distância (31%) e falta de contatos sociais (27%).

Neurocientistas relataram as consequências prejudiciais que a falta de contatos sociais e físicos, a perda de liberdade e os altos níveis de incerteza podem ter no cérebro humano. A incerteza severa gera hormônios de estresse, causando ansiedade física, emocional e até existencial. Os riscos psicossociais, como estresse, esgotamento, assédio e bullying, depressão e transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), estão aumentando, tanto em casa quanto no local de trabalho.

Acentuação das desigualdades

A pandemia acentuou as fragilidades e desigualdades existentes no mundo todo. As mulheres, em particular, têm maior probabilidade de sofrer consequências adversas resultando da pandemia, incluindo demissões, estagnação de carreira ou rebaixamento.

De acordo com o relatório Women in the Workplace, da McKinsey, as mulheres americanas foram afetadas de forma tão negativa pela pandemia que poderia gerar um atraso de meia década. Nunca houve tantas mulheres à beira da exaustão e esgotamento.

O estudo mostra que as executivas seniores são significativamente mais propensas do que seus colegas do sexo masculino a se sentirem esgotadas, sob pressão para trabalhar mais e como se tivessem que estar “sempre ativas”. Elas têm 1,5 mais probabilidade do que os homens de pensar em mudar de função ou deixar o emprego por conta da covid-19, com quase três em cada quatro mulheres apresentando o esgotamento como motivo. Esses resultados são mais do que alarmantes, não só em termos de igualdade de gênero, mas também para a saúde da mulher.

As estatísticas de suicídio muitas vezes não incluem os relacionados ao burnout e têm muito pouca cobertura da mídia, provavelmente porque é um assunto tabu em nossa sociedade de “performance”. Na manhã do dia 24 de junho deste ano, uma funcionária de 47 anos de uma empresa farmacêutica saltou do local de trabalho para a morte. Ela havia retornado recentemente ao trabalho após o confinamento sofrendo de esgotamento e trabalhava em um departamento difícil. Como podemos evitar essa tragédia? Como podemos aumentar nossa liderança para ajudar a reverter padrões prejudiciais? E o que as empresas e os empregadores podem fazer para ajudar?

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Quais são os padrões?

Antes de refletir sobre como reverter os padrões, precisamos estar cientes de quais são eles.

Em primeiro lugar, precisamos primeiro nos livrar da imagem das funcionárias como supermulheres. Em nossa sociedade, ser um “vencedor” é um ideal associado a um desempenho superior. A síndrome da “abelha assídua” persegue as mulheres e representa uma expectativa perfeccionista inútil.

Em segundo lugar, cada um de nós precisa manter um equilíbrio saudável entre vida profissional e pessoal e estar ciente de que nosso bem-estar está em nossas próprias mãos.

Em terceiro lugar, devemos valorizar mais do que nunca os benefícios de praticar esportes e outras atividades físicas, especialmente quando o inverno chegar e o Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) costuma ser tão prevalente devido à falta de luz. Esportes e atividades físicas são essenciais para nosso bem-estar psicológico. Quando nos movemos, ativamos os músculos e quando um músculo se contrai, ele libera proteínas chamadas miocinas.

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As miocinas induzidas por exercícios são essenciais para o desenvolvimento celular, incluindo neurônios no cérebro e seus circuitos. Isso melhora a neuroplasticidade, que é vital para nossas habilidades cognitivas. Nestes tempos difíceis, quando o ânimo está baixo por causa do clima, do confinamento, das dificuldades pessoais, da ansiedade, da depressão, da hipersonia, da fadiga crônica ou até mesmo do esgotamento – esportes e atividades físicas podem nos ajudar a enfrentar.

Como as empresas podem evitar o esgotamento?

 Já existem muitos artigos analisando como as organizações podem ser proativas para ajudar a preservar a saúde física e mental de seus funcionários. Gostaria de destacar o investimento em formação e desenvolvimento, que considero fundamental. Os empregadores são responsáveis ​​por fornecer e manter um ambiente de trabalho saudável e seguro, livre de discriminação, assédio e estresse.

Aumentar a conscientização sobre o fenômeno de burnout e seus sinais e consequências é fundamental para ajudar a identificar os funcionários que estão passando por dificuldades. Idealmente, a auto detecção é a melhor maneira, e as pessoas podem se sentir suficientemente à vontade para soar o alarme por si mesmas. Infelizmente, muitos estudos têm apontado que os sofredores muitas vezes não veem seu próprio sofrimento, então gerentes e colegas devem tomar medidas para identificar e ajudar as pessoas que estão em risco.

A inteligência emocional é a chave no mundo dos negócios de hoje, mas geralmente apenas a racionalidade e o desempenho são recompensados. Mostrar interesse pelos outros, ter empatia, fazer as perguntas certas e oferecer uma mão amiga deveria ser tão importante, especialmente nestes tempos difíceis.

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Eu deparei com esta bela definição de gestão recentemente: “para gerenciar, você tem que amar as pessoas e se interessar por elas. O verdadeiro líder é aquele que cresce, fazendo os outros crescerem”. Isso diz tudo.

* Professora da Audencia Business School

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