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A pandemia humanizou os líderes, diz CEO que assumiu de forma 100% remota

Ricardo Neves, da NTT Data, acredita que gestores passaram a mostrar mais as fragilidades, e isso acabou aproximando-os das equipes

Por Alvaro Bodas
Atualizado em 27 jan 2023, 10h26 - Publicado em 8 set 2022, 08h59
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stava tudo certo. Em 2 de abril de 2020, Ricardo Neves seria o novo CEO da NTT Data no Brasil. O que ele não imaginava era que, dez dias antes de assumir, o mundo pararia. Praticamente todos os 2,7 mil funcionários da empresa no país já estavam em casa desde meados de março, e ele não pode entrar no escritório, encontrar colaboradores no corredor, apertar mãos, olhar nos olhos ou abraçar os novos colegas, como gosta de fazer. Mesmo assim, ele se preparou como se fosse um primeiro dia de trabalho presencial e fez sua “estreia” por meio da tela do computador.

Ricardo conta a experiência no livro “CEO Virtual: lições de liderança para o mundo pós-pandemia”, lançado pela editora e-galáxia e com todo lucro revertido para a Associação São Francisco da Providência. Em dez capítulos, ele narra como foi realizar o sonho de ser CEO de uma grande empresa pela primeira vez fisicamente sozinho, de um quarto em sua casa.

Além de CEO da NTT Data no Brasil, o recifense Ricardo Neves é presidente da NTT Data Foundation no país. Graduado em economia pela Universidade Federal de Pernambuco, cursou formação de executivos AMP da Harvard Business School e MBA Executivo Global da Duke University. Com vasta experiência em consultoria de gestão e TI, foi sócio da PwC, empresa pela qual atendeu grandes clientes globais por 30 anos. À frente da NTT Data, comanda uma das dez maiores provedoras de serviços de TI do mundo. Com sede em Tóquio, a empresa conta com 140 mil profissionais e opera em mais de 50 países com uma ampla gama de serviços de consultoria e assessoria estratégica, aplicações e infraestrutura. No Brasil, a companhia encerrou julho com 5272 profissionais, alocados nos escritórios de São Paulo, Rio de Janeiro e Uberlândia, além dos hubs de Florianópolis e Recife.

Em entrevista à VOCÊ RH, Ricardo explica o que aprendeu com a experiência.

A função de CEO é solitária por natureza, já que não tem par. Quando você assumiu, totalmente em home-office, como a sensação de isolamento o afetou?

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Eu tinha atuado na PwC por 30 anos, de trainee a sócio. Fechei um grande ciclo, praticamente me aposentei e comecei uma outra fase aos 55 anos. Depois das primeiras reuniões online, eu percebi que tinha que fazer encontros mais longos com cada um e entender melhor o lado humano, não só dos meus diretos, mas de pessoas de vários níveis e áreas. Dos meus primeiros 100 dias, 20 foram só conversando e entendendo a cultura e os valores da empresa, que é um ponto chave para qualquer gestão. E foram essas conversas que me ajudaram a definir os primeiros passos.

Durante esse período, qual foi o momento mais difícil?

No início, eu senti medo e insegurança, ia dormir e ficava pensando no trabalho. Na época, ainda circulavam muitas informações desencontradas sobre a covid-19, eu sempre ligava para os funcionários que haviam se contaminado para saber se precisavam de ajuda, e esse contato acabou me ajudando também. Um dia, a esposa de um desses funcionários me ligou para dizer que o marido havia falecido. Na hora, fizemos de tudo para apoiá-la e demos todo o suporte que era possível. Mas aquilo me marcou muito, fiquei abalado, porque não tem como não se envolver emocionalmente em uma situação dessas.

Como não deixar esses sentimentos afetarem as equipes durante as reuniões virtuais?

Eu sabia que tinha que mostrar a todos que era importante superarmos aquilo juntos. Tentava passar otimismo, sabendo que meu posicionamento era importante para manter as pessoas confiantes e seguras. Às vezes, um líder tem que ser um “bom ator”, não pode contaminar os outros com os seus problemas. Eu criei uma metodologia pra mim mesmo e defini horários para cafés virtuais com meus amigos antigos que eu não via há tempos. Depois do expediente, eu conversava com eles, e isso me salvou, foi uma espécie de terapia. Mas, posso dizer que o fato de ajudar as pessoas na empresa me ajudou muito. Ajudar os outros faz bem.

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Durante esse período, como foi a sua relação com a área de RH?

Essa relação foi fundamental e se intensificou bastante, pois tivemos que tomar muitas decisões de uma hora para outra. Vários projetos de aculturamento que eram presenciais viraram remotos, criamos programas de saúde física e mental, orientação emocional, social, legal e financeira, aulas de dança e programas de meditação, entre muitos outros. Durante esses dois anos, o número de funcionários praticamente dobrou, e tivemos que investir muito na formação de profissionais durante esse período.

O mercado de TI vem crescendo há muitos anos, e as oportunidades de emprego também. Vocês enfrentam problemas de turnover?

No Brasil, temos um déficit de 100 mil vagas em TI todos os anos, que não são preenchidas por falta de mão de obra. O turnover é alto, mas nós investimos na formação e readequamos os salários. Contudo, o que “segura” as pessoas é o clima organizacional, os programas de RH, a comunicação, a sensação de pertencimento. E o estímulo à diversidade, que é outro ponto forte da nossa cultura. Em relação a 2019, o número de mulheres contratadas dobrou e a proporção chegou a 28,5% — um grande avanço, considerando que TI é uma área conhecidamente masculina; o número de profissionais negros e indígenas saltou de 681 para 1656, e o de PCDs subiu de 29 para 171; a proporção de profissionais com mais de 50 anos também aumentou, de 5,73% para 8,7%.

Como você desenvolveu as habilidades de liderança ao longo da carreira?

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Sempre digo que meu estilo de liderança é baseado em valores. Eu migrei de Recife para São Paulo, depois fui morar e estudar nos EUA, e mais tarde trabalhei um tempo na Bélgica. Além da formação acadêmica, essas vivências e o fato de ter sido consultor e trabalhar em projetos me ajudou muito, porque o trabalho em equipe faz você valorizar as relações humanas e ter empatia. Por isso, acredito que pessoas engajadas de verdade fazem toda a diferença, então tento alinhar os meus valores com os da empresa e vice-versa. Ser um líder humano não é importante só porque é ético. É porque os resultados são muito melhores, porque as pessoas se sentem valorizadas.

Você acha que a pandemia acabou “humanizando” mais as relações profissionais?

Sim, porque escancarou as vulnerabilidades, expôs as fragilidades e humanizou os líderes. Se não fosse a pandemia, será que eu teria me fantasiado de caipira para participar de uma festa junina virtual, por exemplo? Acho que a pandemia motivou os líderes e gestores a mostrar seu lado mais humano, mais frágil, e isso acabou nos aproximando.

Quais tendências você vê na gestão de pessoas?

Acredito que a habilidade de comunicação será cada vez mais importante. Autenticidade, empatia, autoconhecimento, inteligência emocional, tudo isso será imprescindível para um líder mais real. Isso implica entender de pessoas tanto quanto de finanças, marketing ou estratégia de negócios. Acredito também que, como vamos viver mais, teremos que dar sentido à vida e ao trabalho por meio do conceito de lifelong learning. Será preciso aprender sempre, sem parar, acompanhando os vários ciclos de vida.

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OLHO NO FUTURO

Seis dicas de Ricardo Neves para os profissionais de 2027

1 Aposte nas soft skills – Elas aguçam o senso crítico e serão a chave para lidar com as transformações e inovações tecnológicas que virão.

2 Descubra suas paixões – Em vez de se preocupar com o que o mercado vai exigir de você daqui a cinco anos, pense o que você vai desejar nesse mesmo período.

3 Fique atento às mudanças de comportamento – Uma observação empática do outro será fundamental para o mundo que precisaremos construir.

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4 Trabalhe voluntariamente – O trabalho voluntário nos abre para novas experiências e ensina que é preciso se adaptar, o que tem tudo a ver com a vida em ciclos que a longevidade nos fará viver.

5 Desapegue-se do que já sabe – Busque o novo e o que você desconhece. Aprender a continuar aprendendo será fundamental.

6 Desenvolva-se – Busque, por meio de atividades terapêuticas, se conhecer e refletir sobre quem você é no mundo. Dedique-se a aprender uma nova atividade técnica ou um novo comportamento.

Fonte: https://www.ceovirtual.com.br

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