O desafio de integração da Hemmer à Kraft Heinz no Brasil
Caroline Dias assume a diretoria de RH da multinacional e conta como está sendo o processo de alinhamento cultural depois da compra da empresa brasileira
multinacional de alimentos Kraft Heinz, dona das marcas Heinz e Quero, anunciou a compra da fabricante de condimentos brasileira Hemmer em 2021, uma semana antes de se tornar sócia majoritária da BR Spices, do segmento de temperos. Para o mercado, a movimentação sinaliza um avanço na expansão de portfólio da Kraft Heinz. Internamente, o desafio é unificar a cultura corporativa e as práticas de RH.
A BR Spices, que tem 50 funcionários, segue como está, sob o comando do fundador Gabriel Daniel. Já a centenária Hemmer, criada em 1915 em Blumenau (SC), vem sendo integrada ao grupo. Quando a aquisição foi anunciada, a companhia empregava mais de 700 pessoas e era administrada pela quinta geração da família de Heinrich Hemmer. “Não houve demissão em massa”, afirma Caroline Dias, que assumiu a diretoria de recursos humanos da Kraft Heinz em setembro do ano passado. “O movimento foi muito mais passivo: aqueles que não se viam no futuro na empresa escolheram sair.”
Mas o processo ainda não está completo. “Consolidar uma cultura, principalmente de uma empresa familiar, não é algo tão rápido — pode levar meses ou até anos”, diz Caroline, que acompanhou toda a movimentação desde o início. É que a executiva entrou na companhia em 2017, na posição de coordenadora de talentos, responsável pelos programas de estágio e trainee. Antes de chegar à diretoria de RH, Caroline era gerente de pessoas e performance. A expertise em programas voltados para jovens talentos foi estratégica para as ações que agora ganham força na multinacional.
O desafio
Para unificar processos e iniciar o alinhamento cultural, o RH da Kraft Heinz organizou em Blumenau mais de 50 encontros para entender quais eram as expectativas e as dúvidas dos funcionários da Hemmer. “Todo esse trabalho durou cerca de cinco meses”, diz Caroline. “Em janeiro de 2023, consolidamos os benefícios, os sistemas, a folha de pagamento.” Mas o que vem fazendo a diferença, na visão da executiva, é o programa de mentoria.
Em 2019, a Kraft Heinz lançou uma iniciativa social para conectar jovens de comunidades do Rio de Janeiro e de São Paulo com a alta liderança da empresa. “Deu tão certo que virou uma prática para os talentos internos”, afirma Carolina. “Hoje, a mentoria é um dos nossos principais pilares de desenvolvimento.”
Antes da pandemia, as reuniões eram presenciais e aconteciam em grupos de até dez pessoas. Depois esses encontros passaram a ser realizados online e para um número maior de funcionários. Até o fim de 2023, a empresa pretende ampliar o acesso ao programa para todos os 3 mil funcionários, incluindo as equipes das fábricas. “Com as mentorias, conseguimos criar uma rede de apoio dentro da Kraft Heinz e uma conexão mais informal entre as pessoas”, diz Carolina. E essa proximidade é fundamental para o fortalecimento da cultura corporativa. “Sabemos que formar adultos é difícil, porque eles já têm crenças estabelecidas”, afirma a diretora. “Mas optamos por um caminho de autoconhecimento, tratando as necessidades dos indivíduos, e não aplicando uma única fórmula para todo mundo.”
Esta reportagem faz parte da edição 85 (abril/maio) de VOCÊ RH. Clique aqui para se tornar nosso assinante