O programa de aprendizes da Diageo voltado exclusivamente para pessoas trans
Iniciativa nasceu na fábrica da cachaça Ypióca, no Ceará – estado que tem um dos maiores índices de violência contra esse grupo minoritário.

Apenas 15% das pessoas transexuais têm carteira assinada. Mais da metade (52,7%) delas afirma ser a única que se identifica dessa forma na empresa. A minoria da minoria da força de trabalho. Os dados são de uma pesquisa realizada em 2022 pelo Grupo Pela Vidda, com apoio do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Foi nadando na contramão dessa maré que a equipe de RH da Diageo – fabricante de bebidas como Johnnie Walker, Smirnoff, Tanqueray e Ypióca – idealizou o Projeto Journey, programa de jovens aprendizes voltado exclusivamente para pessoas trans.
A iniciativa nasceu na fábrica da cachaça Ypióca, em Itaitinga (CE), em 2022. A equipe de RH do local começou a discutir a ideia internamente e com a Secretaria do Estado, além de participar de feiras direcionadas ao recrutamento desse público.
“Antes de receber esses aprendizes, foi essencial realizar conversas com os funcionários da fábrica e com os mentores que os receberiam, para educá-los acerca da iniciativa e da população LGBTQIA+”, explica Viviane Besani, diretora-executiva de RH da Diageo. Isso é especialmente importante no Ceará – estado que tem um dos maiores índices de violência contra pessoas trans do país.
Desses esforços, quatro profissionais trans foram contratados por meio do programa em 2022 – totalizando 18% dos aprendizes. Ao final do ano de 2023, a porcentagem subiu para 100% dos participantes. Tem sido assim desde então.
Diversidade que atravessa a empresa
Hoje, o processo de seleção é conduzido completamente pelo time de talentos da companhia. A Diageo também mantém um relacionamento com o Centro Estadual de Referência LGBT+ Thina Rodrigues, que ajuda no compartilhamento das vagas. A divulgação do projeto rola nas redes sociais da empresa e pelos próprios participantes do Journey, que mandam novas vagas para sua rede de amizades e contatos.
Esses jovens estão presentes no setor financeiro, jurídico, administrativo, nos recursos humanos, na comunicação e na produção da Diageo. No ano passado, tiveram 120 horas de desenvolvimento técnico e comportamental. Além da bolsa-auxílio, as pessoas têm direito a transporte fretado, alimentação no local, cesta básica, plano de saúde e odontológico.
Desde a criação do Journey, 44 jovens já passaram por ele. Atualmente, a empresa conta com 18 aprendizes no programa. A média de permanência de cada aprendiz na Diageo é de um ano e três meses, e a taxa de efetivação fica nos 27% – porcentagem que Viviane está batalhando para aumentar.
“Enquanto várias organizações estão indo para o caminho inverso, continuamos fiéis à intenção de criar uma empresa mais representativa e diversa. A iniciativa gera engajamento dos colaboradores e resultados para a empresa”, diz a executiva. Não à toa, o Journey rendeu à Diageo, no ano passado, um Prêmio Regional da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) – entregue a iniciativas inovadoras de Diversidade e Inclusão.
“As organizações têm um papel a cumprir na sociedade, não apenas em seu próprio universo. Temos a missão não só de gerar emprego mas de criar provocações”, diz Viviane. “Tenho certeza de que os 400 colaboradores da fábrica vão para casa e falam sobre esse assunto, compartilham, aprendem. Esses números vão se multiplicando e as transformações vão acontecendo.”
Este texto é parte da edição 97 (abril e maio) da Você RH. Clique aqui para conferir outros conteúdos da revista impressa.