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Como acolher a saúde mental da geração Z nas empresas

Profissionais que começaram a trabalhar na pandemia podem se sentir deslocados e esconder seus sentimentos atrás das telas

Por Bruna Tamires
1 fev 2023, 16h19
Uma menina de cabelos escuros e longos está em um local aberto, ela veste uma camiseta amarela e carrega uma mochila nas costas. Olhando para o lado, ela sorri
 (Unsplash/Priscilla Du Preez/Divulgação)
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etade dos jovens já sentiu necessidade de pedir ajuda em relação à saúde mental, segundo uma enquete realizada pela Unicef no ano passado. Perceberam pensamentos negativos, dificuldade de concentração, crise de ansiedade, tristeza excessiva, depressão, entre outras questões preocupantes que poderiam desencadear, por exemplo, um burnout. E sabe o que 40% deles fez com essa percepção? Nada. Não pediram ajuda a ninguém. Sofreram em silêncio. 

Esse dado preocupa não apenas os familiares dos jovens, mas também as empresas, e a oferta de benefícios relacionados a cuidados com a saúde mental passou a se tornar prioridade corporativa. Campanhas como Janeiro Branco e Setembro Amarelo têm presença garantida nos calendários de endomarketing, mas tendem a ser pouco efetivas. É preciso ampliar a habilidade de fazer uma escuta qualificada e sem julgamentos, promover o acolhimento e encaminhar os jovens com questões de saúde mental para um atendimento especializado. 

Desenvolver esse olhar atento talvez seja o maior desafio dos líderes e profissionais de recursos humanos hoje em dia. Nem sempre é fácil perceber os sinais de que algo não vai bem com os jovens, mas mudanças repentinas de comportamento merecem ser observadas. Se, por exemplo, um estagiário que sempre foi comunicativo passa a ficar mais quieto em reuniões ou se um jovem aprendiz que fazia rapidamente suas tarefas começa a perder prazos de entrega com frequência, cabe ao gestor puxar a linha para desenrolar o assunto.

Apenas perguntar se está tudo bem e esperar que falem o que estão sentindo pode ser em vão. Poucos jovens têm maturidade para identificar sentimentos primitivos como raiva, angústia e medo. Estão imersos em um oceano digital de informações, se comparam o tempo todo com jovens que exibem carreiras incríveis no LinkedIn e suas emoções têm a duração de um story do Instagram ou um vídeo de TikTok. Tudo isso pode indicar problemas de saúde mental. 

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Por isso, mais do que nunca, é necessário criar um ambiente de trabalho e uma cultura corporativa aberta ao diálogo, em que os jovens se sintam à vontade para falar de suas emoções, trocar experiências com colegas de equipe e aprender a enxergar o “copo da vida” mais cheio. São jovens que, depois de anos de isolamento social, estão chegando a um mercado de trabalho ainda em construção, com modelo híbrido e home office. 

O trabalho remoto é muito valorizado pelos jovens, pois se sentem menos controlados e gostam da flexibilidade de escolher ficar em casa em dias de chuva, não ter que encarar o trânsito ou socializar em momentos em que estão simplesmente de mau humor. Mas a distância facilita que se “blindem” atrás de telas de computadores, escondam suas dificuldades e tenham comportamentos como o quiet quitting, em que se propõem a fazer o mínimo necessário. Por essa razão, é interessante que estejam alguns dias presenciais na empresa para que a liderança tenha a oportunidade de acompanhar melhor seu desenvolvimento profissional, estruturar uma dinâmica de trabalho que permita que se sintam mais seguros e, claro, observar se precisam de alguma ajuda psicológica. 

A equipe de RH também deve aproveitar os dias de trabalho presencial para criar interações que façam com que o jovem se sinta mais à vontade na empresa e, o principal, que queira continuar fazendo parte dela. Vale lembrar que a geração Z é amplamente conhecida por preferir procurar outro emprego a ter que enfrentar dificuldades ou lidar com gestores que considerem exigentes demais. Diante de questões de saúde mental, esse comportamento pode vir ainda mais à tona.

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Com isso, além de oferecer pacotes de benefícios completos e horários de trabalho flexíveis, há muitas iniciativas que o RH pode colocar em prática para cuidar da saúde mental de estagiários, jovens aprendizes e outros profissionais em início de carreira. 

Formar grupos por afinidades é uma delas. Consiste em incentivar que colaboradores que gostem das mesmas coisas interajam entre si. São grupos de leitura, dos apaixonados por tecnologia, dos que têm pets, dos que têm o mesmo gosto musical, dos que vão trabalhar de bike, dos que gostam de corrida e assim por diante. A ideia é unir pessoas que pouco se relacionam no dia a dia de trabalho, mesclar pessoas com estilos, idades e vivências diferentes para promover momentos de descontração em que conversas sobre sentimentos e percepções fluem mais tranquilamente. O time de recursos humanos deve participar e conduzir algumas atividades desses grupos. 

Apostar em rodas de conversa e palestras que permeiam temas relativos à saúde mental é outro bom caminho. Aderir à tendência de escritórios sem paredes, em que as pessoas têm liberdade para ocupar qualquer mesa, também encurta a distância entre os funcionários e traz espontaneidade para as conversas.

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Convém lembrar que a liderança, por mais experiente que seja, precisa ser treinada para identificar quando alguém apresenta sintomas de problemas de saúde mental. Aliás, a saúde mental dos gestores também requer acompanhamento próximo do RH. Se eles não estiverem bem, a equipe tampouco estará. Afinal, esse é um desafio da empresa como um todo, um movimento de todos em prol da saúde mental.

 

*Bruna Tamires Nascimento é psicóloga, pedagoga e gerente do Programa de Aprendizagem na Companhia de Estágios

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