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Empresas precisam oferecer mais do que academia gratuita

Drauzio Varella defende que programas de saúde dentro das companhias devem ser criativos - sem isso, não haverá mudança genuína

Por Anna Carolina Oliveira
Atualizado em 5 dez 2020, 19h13 - Publicado em 15 dez 2017, 04h00

Fora a folha de pagamento, a saúde é, hoje, um dos maiores gastos das empresas com os funcionários. Uma pesquisa da consultoria de riscos, benefícios e capital humano Aon, por exemplo, mostrou que 25% das 536 empresas avaliadas apresentam custos com a assistência médica de 10% a 20% do total de gastos com os colaboradores, além do salário.

Em paralelo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que a depressão deve se tornar a causa número um de absenteísmo no mundo em 2020. Com um cenário tão pouco promissor, o debate sobre a promoção de saúde no ambiente de trabalho tem estado sob os holofotes.

Durante palestra promovida pela GymPass, startup que oferece diárias em redes de academias, que aconteceu no 43º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas (CONARH), o médico Drauzio Varella fez alertas. Um dos mais importantes foi: a saúde é problema de cada um. O especialista diz que, mais do que família, trabalho ou felicidade, o corpo deve ser a coisa mais importante, afinal, sem ele, não há nada.

Já em relação às empresas, afirma que não adianta apenas dispor de um espaço para exercício ou pagar academia: as organizações precisam elaborar mecanismos criativos para incentivar a prática esportiva e a saúde das pessoas.

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Dar bonificações em dinheiro para quem para de fumar ou para quem corre cinco vezes por semana pode parecer custoso, mas o médico garante que, mais tarde, a conta será ainda maior. Confira entrevista do oncologista a VOCÊ RH:

O senhor gosta de reforçar que a saúde é responsabilidade de cada um. Por quê?

As pessoas costumam transferir a responsabilidade: quando eu ficar doente, o Estado ou a empresa vai cuidar de mim porque a saúde é um direito de todos. Hoje, você tem uma população que envelhece e usa os serviços de saúde, muitas vezes, de maneira leviana. A demanda cresceu exponencialmente, mas os recursos são limitados. A única alternativa para não quebrar o sistema é a prevenção.

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Nesse contexto, qual será o papel das empresas?

O valor investido pelas companhias nos programas de saúde deve ser cada vez maior, pois é preciso conscientizar sobre o uso desse serviço. Nós temos essa cultura de que saúde não custa nada. Você paga pelo plano e acha que pode usar livremente, como se fosse um cheque em branco. A mudança desse pensamento e o foco na prevenção são essenciais. Se eu fosse investir em uma prática preventiva, investiria na atividade física.

Por que na atividade física?

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Você paga um preço alto por passar o dia inteiro sentado, que é a realidade da maioria de nós hoje. E esse preço vai se acumulando, ou seja, a condição física torna-se cada vez mais precária e você fica mais vulnerável aos problemas de saúde. Só que isso não vai acontecer quando você tiver 70 anos, já acontece aos 30.

O fato de os problemas de saúde estarem se antecipando para os 30 anos de idade se relaciona, de alguma maneira, aos atuais cenários de crise?

Acho que existe uma correlação com a complexidade de papéis. No passado, as moças eram educadas para casar, ter filhos e cuidar da casa. Deveria ser um inferno ser mulher naquele tempo, mas era um papel só. A obrigação do homem era sustentar a família, ele não mexia em uma louça dentro da casa. Hoje, quantos papéis temos, principalmente as mulheres? É uma pressão muito grande e, quanto mais você pressiona o animal, mais ansiedade provoca. Há um quadro de tensão permanente, que gera desastres psicológicos. É depressão, é síndrome do pânico e por aí vai. O Rivotril já chegou a ser o primeiro medicamento consumido no Brasil.

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Com ansiedade, a prática da atividade física torna-se um desafio ainda maior, não?

Você acha que gosto de acordar às cinco horas da manhã e sair correndo? Não gosto, faço porque estou convencido de que é bom. Na hora, quando você está naquele sufoco, não é um prazer. O prazer vem depois que você sente o corpo legal. Eu tenho 74 anos de idade e não tenho nenhum problema de saúde, não tomo nenhum remédio. Não tenho problema cardiológico, não tenho diabetes, minha pressão é 11 por 7. E tenho certeza de que é por causa da atividade física.

Que outros hábitos são importantes para a saúde e a qualidade de vida?

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Não comer tudo o que é oferecido. Se você tem excesso de peso, está comendo mais do que precisa. Fiz um trabalho na Petrobrás anos atrás. Depois de cinco anos de ingresso na empresa, os funcionários estavam, em média, 20 quilos mais gordos. Fui conhecer o programa de saúde de perto. A empresa disponibilizava carrinho com biscoitos, chocolates e outros quitutes. Na hora das refeições, era uma fartura de carboidrato. E tinha geladeiras com sorvete. Além disso, a comida era de graça, algo que sou contra. Acho que a organização deve cobrar, nem que seja 5 reais. Quer dizer, o empregador faz de tudo para a pessoa comer bastante. Cria um cenário para o trabalhador se empanturrar e, depois, não sabe o porquê dos problemas de saúde.

Qual a sugestão do senhor para casos como esse?

A empresa tem de ser criativa. Se a pessoa está 20 quilos acima do peso, a organização deve dar uma vantagem para que o funcionário emagrecer. Não basta academia. Ter academia é bom e ajuda, mas precisa ir além disso. Há um estudo nesse sentido feito por um médico do trabalho nos Estados Unidos, publicado na revista científica The New England Journal of Medicine. Ele reuniu os fumantes da companhia em que trabalhava e avisou que, os que parassem de fumar, receberiam 1 000 dólares. O resultado foi que 77% pararam de fumar. Tem empresa dando remédios e adesivos e o máximo que consegue é uma redução de 18%. Talvez, um incentivo financeiro gere melhores resultados e ainda gere uma economia, porque o fumante é o funcionário que vai faltar mais, cujo resfriado vai durar dez dias em vez de dois, que vai ter mais complicações na saúde. A empresa pode fazer um trato com ele, dar uma vantagem.

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