Fala-se muito em ser empático. Então, te convido, logo no início deste texto, a se colocar no lugar de seus liderados. Imagine o que eles diriam a você se tivessem um canal aberto de diálogo. Pediriam aumento salarial? Gostariam de saber sobre perspectivas de carreira?
Pois foi esse exercício que Brené Brown se fez diante dos registros de sua pesquisa sobre vulnerabilidade. No livro Coragem de Ser Imperfeito, a autora escreveu um manifesto pela liderança com coragem, em que se coloca no lugar nos liderados e escreve seus desejos.
De tudo, merece destaque o trecho: “o que pedimos é que se envolvam conosco, revelem-se ao nosso lado e aprendam algo que venha de nós.”
Em meio à pressa e à pressão do dia a dia, achamos que sim, mas não, não estamos nos comunicando. Julgamos ser empáticos ao ouvir o outro, ao querer que as pessoas tragam suas ideias, que sejam protagonistas, mas, na verdade, só esperamos que elas concordem, façam, aceitem e resolvam. Ao menor sinal de discordância e de problema, nossa disposição em ser empático cai por terra e frases como “ele não está comprometido”, “falta engajamento”, “sempre sobra para mim”, “essa ideia não funciona” povoam nossa cabeça e nossas mensagens, faladas ou escritas.
Essa reflexão sobre empatia e mudança de atitude em relação aos liderados é o principal alerta para líderes aprimorarem sua comunicação. Abaixo, listo outros cinco alertas, totalmente relacionados a esse, e que fazem com que os líderes cometam erros de comunicação.
1. Passar informação não é comunicar: é comum ouvir relatos de líderes que reclamam por ter passado as informações em e-mail ou reunião, mas percebem que não houve efetividade. Isso ocorre porque ainda se tem uma concepção de que comunicar é transmitir um conteúdo, mas essa é uma das inúmeras funções das interações. Comunicar é se relacionar, se envolver, estar atento às reações verbais e não verbais, é interagir com quem está com você na reunião, no e-mail, na conversa.
2. Não estar ciente de que tudo comunica: o “bom dia” que você dá (ou não) ao falar com alguém, a demora para responder uma mensagem, o tempo dedicado a uma conversa com uma pessoa do time e a falta de tempo para uma outra pessoa. Pois é, somos colocados à prova diariamente e quanto mais clareza, confiança e senso de comunidade, melhor para todos.
3. Esquecer de adaptar o discurso e ficar reclamando: como afirmam Dawna Markova e Angie McArthur, autores do livro Collaborative Intelligence, reclamamos e nos diminuímos uns aos outros porque não fomos ensinados a perceber o efeito de uns nos outros ou adaptar a comunicação. Essa prática não tira sua autenticidade, mas revela habilidade de adaptação, visão estratégica da comunicação, atenção ao outro e ao contexto, foco no que importa na interação. Então, antes de sair disparando julgamentos e críticas, avalie o contexto atentamente para adequar sua linguagem.
4. Não entender que o diálogo se nutre do conflito: ainda se associa diálogo a conversa harmônica e ao fim das divergências. Mas o diálogo se nutre dos conflitos, porque ele é o espaço efetivo de trocas, de tratamento de problemas coletivos, de surgimento de novas ideias diante de uma pretensa igualdade entre os interlocutores. Sem diálogo, 80% dos projetos que dependem de cooperação entre áreas custam mais do que o esperado, segundo o livro Crucial Conversations.
5. Falar muito, perguntar pouco e não ouvir: a figura representativa do comunicador tende a ser uma pessoa extrovertida, falante ou que está em pé, com microfone na mão. Mas um bom comunicador não entra nessa “egotrip” de ser o centro da atenção e ocupar todos os espaços com sua própria voz. Um bom comunicador fala com as pessoas, não só para. Por isso, praticar a habilidade de ouvir, um ato de experimentação e generosidade, e a habilidade de perguntar, de modo a movimentar o diálogo, e não apenas checar compreensão e validar instruções são cruciais.