A geração Z enxerga o trabalho de forma diferente – e isso é ótimo
Os jovens não desejam, necessariamente, ficar anos em uma empresa e subir na pirâmide corporativa. Culpá-los por isso é contraproducente. Entenda por quê.
Buscando ajudar outras pessoas em suas carreiras, depois de experiências traumáticas no trabalho, comecei a me perguntar: as empresas estão prontas para receber a geração Z? Atrás da resposta, encontrei minha missão principal: preparar companhias e acolher os jovens que estão chegando ao mercado.
Uma possível resposta para a pergunta acima é: empresas que realmente prezam pela diversidade e inclusão têm mais facilidade em acolher a nova geração. Quando o gestor tem experiência liderando times diversos, ele ouve os jovens profissionais, procura entendê-los e assume a posição de mentor.
O que acontece com as lideranças que não sabem trabalhar com equipes diversas? Elas reclamam da geração Z e falam que os jovens não querem trabalhar. Quando ingressei no mercado de trabalho, como millennial, eu passei pela mesma coisa.
Há 51 milhões de membros da geração Z no Brasil, ou seja, um contingente bastante expressivo que vê o trabalho de maneira bastante diferente das gerações anteriores. Até 2025, esses jovens vão representar 27% da força de trabalho global, segundo uma pesquisa da Zurich.
Em uma pesquisa da McKinsey, um em cada quatro entrevistados da geração Z afirmou se sentir angustiado. A proporção é quase o dobro das verificadas entre as gerações Y e X. E esse é um dado que impacta diretamente nas relações profissionais.
São profissionais com visão crítica, que não esperam as empresas mudarem. Uma pesquisa da Intoo e da Workplace Intelligence, por exemplo, mostrou que 44% dos jovens americanos podem pedir demissão nos próximos seis meses. Quando outras faixas etárias são consideradas, o número cai para 30%. E mais: 47% dos profissionais preferem usar o ChatGPT para obter dicas de desenvolvimento profissional em vez de recorrerem às suas lideranças.
Outra pesquisa, da YouGov, revelou que 51% dos profissionais da geração Z, na América Latina, gostariam de não ter que trabalhar todos os dias. Apenas 39% dos baby boomers da mesma região afirmam o mesmo. No mesmo estudo, 49% dos jovens afirmaram que o trabalho é algo importante para seu senso de identidade. 62% dos millenials acreditam nisso.
O que eu mais ouço quando converso com essa geração é: eles não acham que o trabalho é o centro da vida deles como a minha geração e as anteriores acham. E eu entendo que isso é muito saudável.
A geração Z “fala mesmo” – e isso é positivo
Para uma empresa estar bem-preparada, ela deve ter boas ferramentas de desenvolvimento de carreira. Mas também deve saber que irá receber perguntas difíceis e avaliações detalhadas do que precisa melhorar. Porque a geração Z fala – e eu acredito que deve continuar falando.
As gerações anteriores têm reclamações parecidas, mas seus membros cresceram em um contexto em que tinham que abaixar a cabeça. A geração Z reclama mesmo, trazendo fatos e dados. E isso pressiona as organizações para que elas façam mudanças relevantes – não só iniciativas para postar no LinkedIn que, na verdade, não tiveram impacto nenhum.
Longevidade em uma empresa e subir na pirâmide corporativa não são prioridade para essa geração. Segundo o consultor de carreira Gorick Ng, autor do livro The Unspoken Rules, apenas 2% dos indivíduos da geração Z têm a ambição de conquistar cargos mais altos.
A prioridade desses jovens é uma relação empregado-empregador mais justa. Isso aparece em movimentos como o “quiet quitting” e “act your wage”, ambos levantados por essa geração, que reforçam a importância de o esforço que você coloca no seu trabalho ser proporcional ao seu salário.
Precisamos tomar cuidado para não apontar o dedo para a geração e culpá-la, como muitos têm feito. É mais produtivo entendermos de onde vem esse sentimento.
Os jovens olharam para as gerações anteriores e decidiram: não querem trabalhar desesperadamente, em busca de uma promoção ou um aumento, para não alcançá-los, no fim. Essa é uma história muito comum. Devemos lembrar: as empresas que realmente reconhecem seus profissionais são a minoria.