O início da trajetória profissional de Celina Marques é semelhante ao de centenas de brasileiros: formada em Direito, seu objetivo era fazer um concurso público e conquistar a estabilidade. O problema é que a área jurídica não fazia seus olhos de Celina. “Eu me formei em 2010 e me especializei em direito do trabalho, mas nunca tive paixão por isso. Não pegava um livro por vontade própria para estudar”, diz Celina.
Mesmo assim, durante quatro anos depois da formatura, ela se dedicou integralmente aos estudos, sem trégua. Mas em 2014, tudo mudou devido a dois acontecimentos que abalaram sua vida pessoal: a morte do avô e o término de um relacionamento. Essas rupturas fizeram com que Celina começasse a refletir sobre sua vida – e daí surgiu a vontade de mudar de país e começar a trabalhar. “Quando meu avô faleceu, nada mais me prendia ao Brasil. Eu queria recomeçar porque sabia que não gostava de Direito. Não tinha a mínima ideia do que fazer, mas sabia que eu queria trabalhar em Londres, não importava em que área”, explica.
Chegada em Londres
A escolha pela capital da Inglaterra se deu porque Celina tem três primos que moram na cidade e que poderiam acolhê-la. Além disso, ela poderia aprimorar o conhecimento na língua inglesa. Com a viagem em mente, ela se preparou vendendo bens pessoais – como o carro – para ter algum dinheiro no início da jornada.
Ao chegar na cidade, Celina primeiro procurou um hotel onde achava que poderia trabalhar como camareira. Fez treinamento por dois dias, mas disseram que o inglês dela era bom o bastante para ter um emprego em uma loja, por exemplo. Assim, ela foi até uma loja da marca de roupas GAP e conseguiu uma entrevista para se tornar vendedora. Na hora de conversar com a recrutadora, percebeu que seu inglês não era tão bom assim. “Não entendia uma palavra. Uma vendedora brasileira teve que me ajudar, traduzindo as perguntas e as respostas. Mesmo assim fui contratada, porque eles precisavam de alguém que falasse português”, conta.
A descoberta do RH
Na loja, a rotina de Celina era puxada, com trabalho aos finais de semana e feriados. Mas ela estava feliz, juntando dinheiro e ampliando os seus conhecimentos todos os dias. “Aprendi muito sobre atendimento e gestão de conflitos, pois isso acontecia com frequência entre os colegas e com os clientes”, explica. E foi na GAP que ela teve o seu primeiro contato com a área de recursos humanos. “Nunca tinha ouvido sobre RH antes, mas a gerente da loja conseguiu uma oportunidade no escritório da GAP em recursos humanos e comecei a me interessar pela área”, diz.
Celina, então, passou a pesquisar sobre o setor, frequentou feiras de carreira, conversou com muita gente e percebeu que a atuação em gestão de pessoas se conectaria totalmente ao seu propósito pessoal: ajudar as pessoas. “Sempre tive essa vontade de auxiliar os empregados, por isso fiz pós-graduação em processo do trabalho, em Direito”, explica.
A decisão de mudar de área estava ficando mais forte. Para conquistar esse objetivo, Celina se preparou com aulas para reforçar o inglês e com um mestrado em gestão de pessoas – curso que começou em 2017 e durou dois anos na Westminster Business School. “Eu amei o conteúdo e tive certeza de que queria trabalhar com isso. Então, comecei a procurar trabalho na área de RH”, diz.
Ainda no mestrado, conquistou seu primeiro emprego no setor, como RH generalista numa empresa de hotelaria. “Fiz tudo o que você pode imaginar dentro do RH e aprendi muito”, conta. Nos três anos em que permaneceu na companhia, Celina conquistou uma promoção e, em julho de 2021, recebeu um contato de uma recrutadora para uma nova oportunidade. Dessa vez, para ser gerente de RH de uma empresa de limpeza. “Como era para uma vaga em um nível mais alto do que a que eu ocupava, aceitei.”
Mentoria de carreira
Paralelamente ao trabalho, Celina está empreendendo. Ela dá consultorias de mentoria de carreira para pessoas que, como ela no passado, estão se sentindo perdidas e querem dar uma guinada. “O RH tem a parte legal, mas tem a parte difícil, de ter que demitir alguém, o que corta o coração. Nas mentorias de carreira, é só a parte boa: ajudar uma pessoa a encontrar um emprego, a se descobrir, a entender quais são os seus ‘porquês'”, explica.
Entender as motivações pessoais, aliás, é o grande conselho de Celina para quem quer se inspirar em sua história. “Muita gente me diz que está infeliz e que quer ir para outro país. Mas só isso não basta, senão você continuará infeliz, mas em um país estrangeiro. Temos que saber de onde vem a infelicidade para entender o que queremos e nos planejar”, explica.
Celina pretende continuar na Inglaterra, mas tem vontade de se mudar para o litoral no futuro. “Sou de Santos e sinto falta da praia”, conta.
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