Quem cuida da liderança?
Líderes cada vez mais jovens e sem tanto preparo comportamental são terreno fértil para o burnout. Saiba como lidar com a saúde mental desses profissionais.
os últimos meses, as lideranças das empresas têm administrado um ambiente perene de incertezas e alta volatilidade no panorama global e no mercado local, juntamente com uma forte pressão por resultados no curto prazo, redução de custos e eficiência operacional. Essa agenda não é nova. Em um passado recente, as empresas promoveram ações para economizar em todas as áreas. Algumas resultaram, por exemplo, em cadeiras bastante seniores sendo ocupadas por profissionais com entusiasmo, mas sem todas as habilidades comportamentais necessárias.
Na prática, executivos estão sendo jogados aos lobos sem a experiência prévia ou treinamento para assumir tal responsabilidade, e sem respaldo para errar. A sobrecarga de trabalho está alta, e a segurança psicológica ainda não foi construída. Esses profissionais têm acumulado atividades desafiadoras, ainda que muitos deles não saibam lidar bem com o novo cenário de pressão. Muitos têm entrado em burnout.
Como lidar com a situação? Eu acredito em algumas frentes. A primeira delas é aceitar que o cenário de incertezas e cobranças não vai mudar no curto prazo. Depois, é preciso reforçar a preocupação e o cuidado com a saúde física e mental das lideranças, identificar quem não está bem e propor ajuda. Ações que devem ser comandadas por todos que estiverem envolvidos no comitê de pessoas, desde os conselheiros até os principais executivos de RH. Tudo com o apoio do CEO.
É fundamental, ainda, o incentivo à criação de um ambiente de segurança psicológica para esse líder. E, a meu ver, o ponto-chave dessa iniciativa é construir uma relação de confiança com a liderança direta, seja ela o acionista, seja o conselho administrativo, seja um executivo de mercado que está nesse papel. Também é igualmente importante que esse líder seja estimulado a criar um ambiente psicologicamente seguro para suas equipes. Isso dará ferramentas para esse gestor desenvolver a escuta ativa, aumentar o engajamento, a entrega de resultados e a inovação da equipe, reduzindo a rotatividade e a demissão silenciosa. Outro ponto a ser avaliado e, se necessário, corrigido é quanto as lideranças, antes blindadas por telas de videoconferência e pelo relacionamento à distância, se desacostumaram do contato direto com o outro e estão fugindo da verdadeira conexão com as pessoas. Acompanhei uma palestra interessante da Esther Perel na SXSW 2023 na qual ela traz o conceito de “intimidade artificial”, citando que vivemos em um estado de atenção parcial, sem estarmos 100% presentes nas interações humanas.
Reconheço que, atualmente, integrar o mercado de trabalho não tem sido uma das tarefas mais fáceis, principalmente em posições de gestão. Cabe a cada líder refletir se há disposição pessoal para seguir nesse caminho de cobrança por resultados e altíssima pressão. Se a resposta for sim, é importante buscar adaptação, preparo e capacitação para navegar no cenário imposto, além de meios para aliviar a sensação de tensão, por exemplo na troca de experiências com uma rede de apoio, na prática de esportes, no investimento em atividades de lazer ou no convívio com pessoas que sejam importantes em sua vida. Se a resposta for não, o melhor é repensar o plano de carreira.
O profissional que não está atento a si e não tem disposição para evoluir encontra cada vez menos espaço no mundo corporativo. Da mesma forma, a organização que não entende o investimento em pessoas como parte da estratégia do negócio perde em inovação e em competitividade. Se eu pudesse recomendar uma habilidade comportamental para estar na agenda das lideranças, sem dúvida seria trabalhar a capacidade de criar conexões humanas.