Esta reportagem faz parte da edição 75 (agosto/setembro) de VOCÊ RH
Quando passamos por um momento pessoal difícil, em geral buscamos o colo de alguém em quem confiamos. Alguma pessoa querida que possa, com sua experiência de vida e serenidade, nos acalmar, acolher e orientar. Na vida profissional as coisas não são assim tão diferentes. Quando nos sentimos perdidos sem saber como agir, nos relacionar ou nos comportar, muitas vezes procuramos apoio em nossos mentores, coaches ou outros profissionais que façam esse papel de acolhimento profissional.
A pandemia nos deixa uma lição muito importante nesse sentido. Como há muitos anos não víamos, passou-se a valorizar a maturidade como arma positiva para o enfrentamento das dificuldades. Por mais que nunca se tenha vivido até então uma crise do porte desta em que estamos mergulhados atualmente, é nítida a contribuição dos profissionais mais velhos e de sua serenidade para a manutenção de ambientes saudáveis.
Chamo de serenidade a capacidade de dar um passo atrás, refletir, trazer questionamentos e buscar soluções junto com o outro sem as tradicionais arrogância, ansiedade e competição, tão presentes no ambiente corporativo. Entender que esse comportamento de serenidade requer uma escuta ativa e tempo para o florescimento de ideias junto com o outro é uma atitude que torna os líderes diferenciados neste momento.
Desde março de 2020, temos passado por infinitas quebras de paradigmas em todos os ambientes: pessoal, familiar, profissional, social e de saúde. Entre elas está o próprio papel central das lideranças, que passou a ser questionado. Este é um momento de admitirmos que não há respostas — muito menos respostas certas — para dar. E que a maturidade e o enfrentamento de crises anteriores darão às atuais lideranças a possibilidade da prática da serenidade para encontrar novos referenciais. Quem faz um exercício frequente de autoconhecimento saberá usar melhor seu conjunto de competências. Não significa que essa capacidade de guiar também não esteja presente em profissionais mais jovens, mas temos de admitir que os anos de vida fazem diferença de fato em alguns momentos mais críticos.
Tenho conversado muito sobre isso com meus clientes. Mesmo no meio do furacão, é fundamental que eles consigam fazer essa pausa para reflexão, assim como buscar apoio ou orientação em quem confiam. Isso porque são muitas as transformações e necessidades de resposta para as demandas que têm surgido.
Manter o engajamento e o desenvolvimento de pessoas é um dos grandes desafios que teremos pela frente no mercado de trabalho. Será preciso reconstruir as relações de confiança entre os indivíduos e promover uma série de adaptações aos formatos de encontros presenciais e virtuais.
Nesse sentido, voltando ao tema de início deste artigo: os mentores e coaches se tornaram um diferencial importante para alguns processos nas corporações, em especial porque a pandemia quebrou a barreira dos limites entre vida pessoal e trabalho. Percebemos que, na verdade, nossas questões pessoais não deixam de existir enquanto estamos no trabalho, e vice-versa.
Será nesses momentos que coaches e mentores bem formados, experientes e serenos terão seu espaço de contribuição, principalmente com os níveis de liderança que são responsáveis por desencadear um novo caminho de relacionamento entre organizações e funcionários. Será essencial ter alguém que apoie, reflita e questione nos novos rituais de gestão.
* Vicky Bloch é coach e consultora de carreira para C-Level. Professora na FIA, no IBGC e conselheira de administração.
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