Conversando com profissionais todos os dias, percebo que é relativamente comum alguém se movimentar no mercado e, depois, fazer o convite para um ex-subordinado compor a sua nova equipe de trabalho. E, perguntando para pessoas que aceitaram esse tipo de proposta sobre os motivos que as levaram a sair de empresas renomadas em fase crescente da carreira para trabalhar com um ex-gestor em um cenário novo e incerto, a resposta que eu mais ouço é: eu confio no meu ex-líder.
Ou seja, a chave dessas situações, de ambos os lados, é a relação de confiança que se construiu no passado. Da mesma forma, muitas vezes, vejo pessoas desesperadas para mudar de empresa por não confiarem em seus respectivos gestores.
A relação de confiança engloba vários aspectos. Se eu, por exemplo, perguntar a alguém que me conhece e que convive comigo de forma próxima se ele confia em mim, existe uma chance de que a resposta seja sim. Mas se eu perguntar para essa mesma pessoa se ela confia que eu opere o seu joelho, a resposta, certamente, será não.
Essa pessoa pode confiar em mim para conversar sobre sua carreira, mas não se sentirá segura se eu quiser colocar em prática na vida dela algo que fuja das minhas habilidades, tanto comportamentais quanto técnicas.
A confiança se constrói
Uma boa relação de trabalho envolve confiança, respeito, autoconhecimento, inclusão e uma comunicação clara e aberta. Quando se fala em gestão de pessoas, todos esses pilares são importantes, mas talvez o que mais leve tempo para ser estabelecido com um liderado é justamente a confiança.
Para uma relação de confiança existir, a primeira premissa que conta é a ética. É o quanto aquele gestor ou aquele liderado fazem o que é correto e não apenas o que precisa ser feito. Dentro de ética incluímos também o lado moral de ser uma pessoa verdadeira, que age e fala com honestidade e trabalha pelo bem comum, da empresa e das pessoas.
As pessoas não esquecem quem as valoriza
Um ponto que vejo ser ressaltado com bastante frequência quando alguém aceita seguir um gestor é o fato de que o tal líder se importa com as pessoas. Um gestor que quer verdadeiramente o desenvolvimento da equipe e age para isso, inclusive com feedbacks claros e precisos, certamente está mais perto de estabelecer uma relação de confiança com o grupo.
A confiança facilita a comunicação
Também tenho notado que, quanto maior a relação de confiança, mais fácil flui a comunicação entre as partes. Isso acontece porque, nesse ambiente, o liderado se sente mais à vontade para expor seus pensamentos, suas opiniões e seus dilemas, o que contribui para a frequência e intensidade do compartilhamento de ideias.
Ler sobre o tema amplia a compreensão
Um livro muito interessante sobre o assunto é o “The Speed of Trust”, de Stephen M. R. Covey. Foi uma das primeiras obras que me indicaram sobre o tema e considero ser uma leitura que nos estimula muito à reflexão.
Nesse livro, algumas frases me marcaram, como: “Nós julgamos a nós mesmos pelas nossas intenções e julgamos os outros pelos seus comportamentos”. Uma perspectiva que nos convida a refletir sobre os nossos comportamentos no dia a dia para construirmos relações de confiança com os que nos cercam.
Outra afirmação do mesmo livro nos alerta que “leva-se bastante tempo para construirmos uma relação de confiança, mas é muito rápido e fácil de quebrar essa relação de confiança com atitudes erradas”.
Nessa leitura, também me dei conta de que “primeiro é preciso que as pessoas acreditem nelas mesmas, que tenham autoconfiança, para depois buscar estabelecer essa relação de confiança com os demais”.
Inclusão e diversidade impulsionam a confiança
Outro ponto muito importante para criar uma relação de confiança é a postura do líder com relação à inclusão e à diversidade. Principalmente nos dias de hoje, ser um líder que vê com bons olhos a pluralidade das equipes, criando espaço para que os membros do time se orgulhem de quem são, é fundamental para criar uma relação de confiança com essas pessoas. Nesse contexto, um livro muito legal que eu li e recomendo chama-se “Inclusifique”, de Stefanie K. Johnson.
No recrutamento, o tema também é pauta
Cada vez mais vejo as empresas interessadas em saber se os candidatos apresentados vão conseguir inspirar confiança no time ou se correm o risco de destruir a equipe.
Nesses casos, uma forma interessante de se obter esse tipo de informação, ao meu ver, é sempre na tomada de referências. Eu, particularmente, sempre busco referências 360°, ou seja, pergunto sobre o perfil do profissional a gestores, pares e subordinados. E, nessas conversas, investigo como o tal candidato construiu ou não relações de confiança. Em caso de um gestor, questionar a rotatividade das áreas que ele geriu pode também dizer muito sobre o perfil desse profissional.
Se você é um profissional que deseja se tornar líder ou está sempre em busca de ser um gestor melhor, sugiro refletir sobre as suas ações do ponto de vista da confiança. Isso, com certeza, ajudará na sua jornada profissional.
Será que, se você mudasse de empresa hoje, a sua equipe seguiria junto? As pessoas que hoje estão ao seu redor se sentem à vontade para abordar qualquer tipo de assunto na sua presença? Você é um gestor que propicia um clima agradável de trabalho no qual as pessoas se sentem à vontade para contribuir com novas ideias e serem elas mesmas?
A relação de confiança é uma das peças-chave desse quebra-cabeça da jornada de quem quer ser um líder inspirador e construir um legado.