feedback ainda é um processo complexo para grande parte dos profissionais. Tanto que uma pesquisa feita pela consultoria Leadership IQ revelou que apenas 20% das pessoas recebem sempre feedbacks realmente construtivos por parte da liderança. Além disso, 56% dos entrevistados disse que os chefes só dão feedbacks interessantes raramente ou nunca.
Para Clarissa Da Rosa e Rachel Frota, especialistas em educação corporativa e sócias da consultoria Muta Ecossistema, as companhias precisam urgentemente de um detox desse processo, para torná-lo mais produtivo e humanizado. “Nós culturalmente desenvolvemos uma narrativa bastante julgadora em cima da prática do feedback que, muitas vezes, enquadra o outro dentro de um rótulo e idealiza sobre ele uma imagem que dificilmente se quebra depois”, dizem as especialistas.
Segundo elas, o detox propõe uma “mudança evolutiva na forma como construímos e nutrimos as relações nas corporações”. O objetivo é transformar o processo e “limpar o histórico traumático que os profissionais têm devido a prática ter sido quase sempre mal implementada nas empresas.”
Os grandes equívocos
Cometer deslizes nos processos de feedback não é apenas um problema da chefia – as equipes também têm comportamentos que nem sempre são os mais indicados. Para as especialistas, os problemas abaixo são os mais comuns:
Erros que os líderes mais cometem
1. Estar despreparado, sem organizar o discurso, sem ter dados e informações concretas sobre a ação ou comportamento que deseja debater com seu ouvinte
2. Julgar o profissional minimizando-o a um único comportamento ou a atitudes específicas que foram tomadas em determinados contextos, desconsiderando todo o resto sobre a pessoa
3. Não medir as palavras e utilizar expressões e gírias pejorativas, depreciativas, se deixando levar pelo calor do momento ou por sua emoção
4. Não estabelecer uma troca de feedback recorrente e apenas praticá-lo para criticar o liderado. Há situações em se que criam verdadeiros “checklists de erros” e os líderes discorrem essas críticas em momentos esparsos, gerando uma experiência traumática
5. Monopolizar a conversa, tornando o feedback em uma discussão unilateral sem abertura para diálogo
6. Fazer sessões de feedback em grupos, expondo o seu time e causando desconforto em vez de criar um ambiente acolhedor, escolhendo o momento, local e jeito adequados para trocar feedbacks
7. Tratar o feedback como algo secundário feito mais para “cumprir uma obrigação corporativa” do que para ajudar a desenvolver a si mesmo e ao seu liderado
8. Não traçar uma perspectiva com relação aos próximos passos deixando de construir um plano de ações positivas em torno das questões que foram debatidas
Erros que os liderados mais cometem
1. Tomar como crítica pessoal um feedback construtivo trazido pelo gestor
2. Não criar situações para que o feedback aconteça, mantendo uma postura passiva e reativa, sempre esperando que o gestor tome alguma iniciativa. Muitas vezes o liderado não entende que, caso sinta que algo precisa ser dialogado, a atitude de conversar pode partir dele
3. Não estar aberto a ouvir o que o líder tem a dizer no momento do feedback
4. Trazer ao que foi pontuado no feedback pelo líder relatos de terceiros, fazendo suposições ou até julgamentos sobre prováveis motivações ou intenções
5. Compartilhar e expor a outras pessoas a interação realizada no feedback com o líder
6. Criticar o ponto de vista do chefe e discordar de tudo que foi pontuado sem embasar sua crítica com dados e fatos relacionados ao tema debatido
7. Esperar que apenas o líder conduza o feedback e chegue sozinho na determinação do que precisa ser feito
8. Não respeitar o turno de fala e interromper o líder sem deixá-lo explicar os motivos de suas percepções ou o que espera de mudanças
9. Sair desse momento de troca de feedback com dúvidas ou sem uma visão clara do que pode ser melhorado e desenvolvido
E no home office?
Com muitas empresas ainda em trabalho remoto, o feedback se torna ainda mais desafiador. Por isso, as experts sugerem que alguns processos sejam ajustados e que os profissionais procurem ter mais empatia neste momento. Afinal, não estamos apenas trabalhando em casa, mas fazendo todas atividades da vida pessoal e profissional no mesmo ambiente. “É importante entender que haverá uma curva de adaptação para que esse contexto seja assimilado”, dizem as consultoras.
Veja abaixo algumas dicas para conduzir boas conversas remotamente:
Seja claro e combine antes: é fundamental elencar os pontos-chave para que o debate aconteça de forma remota. Além disso, escolha um ambiente calmo, sem interrupções, no qual ambos os lados possam dialogar sem constrangimentos. Vale também explicar ao outro a importância de estar em um ambiente com pouco ruído e ao lado de pessoas com as quais não se sinta constrangido para conversar – afinal, podem surgir questões delicadas como baixa performance.
Olhos nos olhos: para que uma sessão de feedback seja positiva e construtiva, tanto o líder quanto o liderado devem estar bem emocionalmente. Remotamente, esse momento de diálogo exige de nós ainda mais consciência e autoconhecimento para identificar esse preparo emocional. Por isso, o ideal é que o líder peça ao seu liderado que ligue a câmera para conseguir observar seus gestos e tom de voz e para entender se aquela hora é um bom momento ou se será preciso reagendar a conversa
Mantenha o foco total: não realize atividades paralelas nesse momento. Isso pode gerar uma percepção de desinteresse ou desprestígio durante uma atividade que tem como objetivo o desenvolvimento do outro. Por isso, evite responder e-mails, conferir o celular ou se conectar a plataformas de comunicação da empresa e estar em trânsito ou fazendo atividades pessoais durante aquele momento.
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