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Entrevista: Douglas Barrochelo, CEO da Biz

O executivo explica as vantagens e desafios dos benefícios flexíveis. Uma novidade que busca alinhar a oferta da empresa às necessidades específicas de cada colaborador, mas que ainda esbarra no atraso da legislação.

Por Alexandre Carvalho
Atualizado em 6 abr 2024, 12h34 - Publicado em 4 abr 2024, 14h48
Douglas Barrochelo
 (Celso Doni/VOCÊ RH)
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Almoço, supermercado e deslocamento para o trabalho. Junto com plano de saúde, esses são os benefícios que a maioria das empresas costuma oferecer a seus colaboradores. E tudo bem. Mas, principalmente pós-pandemia, as demandas dos trabalhadores vêm mudando. Do que vale um auxílio de deslocamento até o escritório para quem trabalha de casa? E muita gente não quer sair do home office. Isso para ficar num único exemplo.

Como diz a letra da canção dos Titãs, “A gente não quer só comida / A gente quer bebida, diversão, balé / A gente não quer só comida / A gente quer a vida como a vida quer”. E os quereres de cada indivíduo, claro, são muito diferentes. Foi pensando nisso que surgiram negócios especializados na oferta de benefícios flexíveis para as empresas. O futuro aponta nessa direção: que o colaborador tenha um leque de opções para escolher aquelas adequadas ao que “sua vida quer”. Pode ser um auxílio para uma pós-graduação, um vale-cultura, um desconto significativo para a academia, fazer terapia…  

Para falar sobre o momento por que passam os benefícios flexíveis, entrevistamos Douglas Barrochelo, CEO da Biz, um dos principais players desse negócio e cujo cartão, com a bandeira Visa, permite o uso em mais de 2 milhões de estabelecimentos. Desde que dentro do pacote combinado com o empregador. 

Como surgiu a Biz?

A Biz nasceu em 2005, foi criada por outro banco, o BPN, Banco Português de Negócio. Eles tinham um carnê, como o das Casas Bahia, mas, quando ele acabava, a pessoa ficava sem vínculo com a instituição. Então veio a ideia do cartão, para a pessoa sempre ter, e criaram uma empresa de tecnologia para ser a processadora de cartões: a Biz. Logo na sequência, eles acabaram saindo do Brasil e venderam essa empresa para um investidor, que inclusive é o atual, o Érico Ferreira, fundador da financeira Omni. Em 2020, quando eu assumi, fundei a Biz Instituição de Pagamento, com o intuito de descentralizar o sistema financeiro, e, em 2023, a Biz Benefícios, que é uma empresa de multibenefícios. Hoje eu cuido das três.

Como está o momento dos benefícios flexíveis no Brasil?

Acho que está superquente, é o mercado que está passando pelas maiores transformações desde a criação do PAT [Programa de Alimentação do Trabalhador], há 48 anos. São quatro empresas que dominam 86% do mercado, negócios novos que vêm criando soluções diferentes, com novos conceitos de liberdade para as companhias quanto aos benefícios oferecidos aos colaboradores. 

Por que só nos últimos anos apareceram esses negócios oferecendo benefícios flexíveis? Por que não antes?

Esses novos formatos foram muito acelerados com a pandemia. Se a pessoa ficava em casa trabalhando, já não tinha a necessidade, nem a possibilidade, de ir a um restaurante, então um vale-refeição já não fazia tanto sentido quanto ter uma internet melhor em casa, por exemplo. Com isso, o Banco Central e o Ministério do Trabalho identificaram essa mudança, e novos players foram entrando no negócio, trazendo modernidade para essa relação entre a empresa e o funcionário.

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Douglas Barrochelo
Douglas Barrochelo, da Biz: “É o início de uma nova relação do colaborador com a empresa, quando ele pode negociar o que existe de política de remuneração e benefícios”. Foto: Celso Doni/Você RH. (Celso Doni/VOCÊ RH)

Qual é o propósito da Biz?

Embora estejamos nesse mercado de benefícios, nosso propósito é a descentralização financeira. A gente pensa no Google como um sistema de busca, mas o propósito dele é organizar as informações do mundo. Criou o YouTube para organizar vídeos, o Gmail para organizar e-mails, e o buscador para organizar o acesso aos sites. O próprio ChatGPT é uma solução de inteligência artificial generativa que existe para organizar informações também. Essa desorganização geral é o problema que eles querem resolver. Para nós, o problema é a centralização financeira. Para se ter uma ideia, os Estados Unidos têm 5.130 bancos. O Brasil tem 120. E cinco dos maiores bancos detêm 90% da carteira de crédito. Essa concentração, a falta de competição, traz taxas mais altas, pessoas excluídas do sistema bancário, impactos sociais graves.

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E o que a descentralização traz de vantagem?

O mundo não precisa de bancos, ele precisa de banking. A gente vem lidando com essa filosofia de as empresas trabalharem o seu próprio dinheiro, tendo a sua própria marca à frente, e ganhando por isso também. O benefício flexível é a porta de entrada para começar essa bancarização dentro da companhia. 

Por quê?

Porque é o início de uma nova relação do colaborador com a empresa, quando ele pode negociar o que existe de política de remuneração e benefícios. Principalmente as novas gerações, para quem cultura e ter acesso a uma academia podem valer mais do que um auxílio-combustível. É a possibilidade de ter mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, que tem como consequência mais saúde mental. Uma personalização dessa relação que já é uma demanda identificada pelo RH.

Vira um motivo também de retenção de talentos, correto?

Sim, porque a empresa consegue ser assertiva e atuar dentro das necessidades e desejos de cada colaborador. Quanto maior a flexibilidade, maior o leque de opções para cursar uma faculdade, escolher a academia que mais combina com o colaborador, escolher marcas com as quais ele se identifica. Quando é a empresa que faz o meio de campo permitindo essas escolhas, é um fator de retenção, sem dúvida. As pesquisas mostram que, para mudar de emprego, as pessoas não estão olhando apenas para o salário. Elas prestam atenção aos benefícios e aos valores daquela organização. 

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Como você vê a questão de ainda não haver uma legislação pronta especificamente para os benefícios flexíveis?

É um desafio, sem dúvida. Entendemos que, no direito civil, tudo o que não é proibido é permitido. Essa lógica é muito importante para a preservação ética e moral do negócio, mas, por outro lado, ela também contribui para a limitação de inovações e crescimento. Há um lobby também das empresas ligadas aos benefícios que sempre foram o padrão do mercado, então nós precisamos falar com as associações e divulgar essas novidades para a população, de modo que ela se manifeste, mostrando ao poder público que quer ter benefícios personalizados para a necessidade de cada um. Até porque, embora seja um movimento importante que o mercado vem fazendo, temos de nos preocupar mesmo é com o maior beneficiário disso tudo: o trabalhador. Queremos que ele tenha as melhores condições para viver e produzir, transformando a sociedade.

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Este texto faz parte da edição 91 (abril/maio) da VOCÊ RH. Clique aqui para conferir os outros conteúdos da revista impressa.

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