ada vez mais pessoas enfrentam problemas de saúde mental, que costumam aparecer com o excesso de trabalho. Burnout, depressão, ansiedade e outros problemas estão em ascensão à medida em que as pessoas fazem malabarismos cada vez maiores para dar conta de várias tarefas simultaneamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é considerado líder mundial em casos de ansiedade, e o 5° no ranking de depressão. De acordo com a Mental Health Foundation, 70 milhões de dias de trabalho são perdidos a cada ano devido a problemas de saúde mental.
Os desafios da atual pandemia destacaram o problema da saúde mental e encorajaram as empresas e suas equipes de RH a tomarem mais medidas para apoiar os funcionários. Porém, apesar desses esforços, ainda é preciso fazer mais para melhorar a saúde mental dos homens, já que esse assunto costuma estar menos em evidência.
Hoje, a sociedade consegue abordar melhor o tema da saúde mental masculina sem a estigmatização que existia no passado, graças a campanhas como a Novembro Azul — que começou como um movimento para prevenção do câncer de próstata, mas atualmente abrange temas como a saúde mental. Mas ainda há muito a ser feito: de acordo com a pesquisa mais recente da OMS sobre suicídio, no Brasil, 77% dos suicídios são cometidos por homens.
As empresas precisam fazer mais para apoiar os homens e ensiná-los a se abrir e a buscar ajuda. Isso é mais fácil falar do que fazer no local de trabalho, mas algumas medidas podem ser facilmente implementadas para mudar o status quo e criar um ambiente mais favorável para os funcionários homens.
Incentivar o diálogo
As mulheres são questionadas com frequência sobre como estão no trabalho e são mais propensas a falar sobre seus problemas pessoais. Por sua vez, os homens se esquivam de se abrir sobre questões pessoais. Eles são menos propensos a receber apoio, simplesmente porque são menos propensos a pedir ajuda: muitos ainda sentem que há um estigma sobre questões de saúde mental e que expor suas dificuldades seria sinal de fraqueza. Durante séculos de estereótipos sociais masculinos, os homens aprenderam a esconder suas emoções, e essa repressão autoimposta leva a níveis mais altos de abuso de álcool e drogas, aumentando o risco de suicídio.
Portanto, é importante que as organizações mudem essa dinâmica, abram o debate e divulguem com empenho a mensagem que “está tudo bem em um homem não estar bem”, e que ter problemas de saúde mental não significa ser um derrotado. Liderando pelo exemplo, os gerentes devem perguntar aos funcionários como eles estão se sentindo e encorajá-los a falar e compartilhar os problemas que eles possam estar enfrentando.
Dias de saúde mental
Como certos empregos têm um grande potencial de impacto emocional, as empresas devem procurar sintomas na saúde mental de seus funcionários. Em alguns países, como na Austrália, por exemplo, há empresas que introduziram o “afastamento de saúde mental”, em que os funcionários são incentivados a tirar uma licença sempre que sentirem necessidade, sem questionamentos. Não é uma solução milagrosa, já que muitos ainda têm vergonha de pedir um afastamento, mas é um avanço positivo. Talvez esse benefício pudesse ser renomeado como “dia de folga por motivos pessoais”, para reduzir o estigma. De qualquer forma, o fato de os trabalhadores não terem que justificar uma folga já é uma ótima medida para ajudar quem está passando por um momento difícil.
Fornecer apoio anônimo
Homens são mais propensos a buscar apoio quando o atendimento psicológico é online e anônimo. Assim, Programas de Assistência ao Empregado (PAEs) que oferecem aconselhamento e ajuda anonimamente, por telefone ou online, são ferramentas úteis para alcançar homens que, sem isso, ficariam calados e lidariam com seus problemas de saúde mental de forma inadequada.
Cultura da empresa
Pesquisas mostram que um em cada três homens atribui a saúde mental precária ao seu trabalho. De fato, algumas empresas de setores muito competitivos induzem uma cultura em que os funcionários precisam responder e-mails e atender ligações de trabalho à noite e durante o fim de semana, impondo uma carga de trabalho muito maior do que a estipulada em seus contratos. Os funcionários muitas vezes sentem que não podem se opor a isso por medo de parecer fracos e/ou de perder uma futura oportunidade de ser promovido.
No entanto, é — e deve ser — possível mudar esse tipo de cultura de trabalho. O RH deve lembrar regularmente os funcionários que eles não são obrigados a responder ligações ou e-mails de trabalho fora do horário de expediente. Em ambientes intensivos, podem ser permitidos cochilos no trabalho, infraestruturas esportivas para uso dos funcionários, além de atividades como ioga, exercícios respiratórios ou meditação.
Embora uma saúde mental precária possa afetar qualquer pessoa, independentemente de idade, gênero ou status, os homens, especialmente aqueles que trabalham em ambientes competitivos e com muitas responsabilidades, têm maior dificuldade de se abrir e buscar ajuda e apoio. É importante que as empresas estejam conscientes disso e implementem medidas que ajudem a melhorar também o bem-estar psicológico dos homens, criando um espaço seguro no qual eles possam falar abertamente sobre os desafios que enfrentam para encontrar uma solução que seja benéfica para todos.
Sophie Hennekam é professora de comportamento organizacional e chefe de pesquisa do departamento de administração da Audencia Business School, na França. Ela estuda questões relacionadas à diversidade, igualdade e inclusão